09 - A Reforma

“Ham? Se você está tão segura no seu casamento, porque está aqui me dizendo essas coisas? Eu sou suburbana, sim. E faço barraco se mexerem com alguém que eu amo, e não por causa de homem. Eu tenho duas mãos, dois pés e muita força de vontade, não preciso de homem para sobreviver, não! Portanto, deveria ir tirar satisfações com o seu noivo e não comigo que só quero trabalhar!”

Ela bufa, de uma forma arrogante e após diz, “Ah, eu vim para te avisar uma coisa. Resolvi antecipar a festa de noivado para semana que vem. Quero tudo pronto em uma semana.”

“O quê?! Isso é impossível! Está louca?”

“Não estou louca! Você não se diz boa nisso? E ah, eu vou convidar gente importante, viu?! Todos vão olhar a casa e saber quem foi a arquiteta. Se tudo não tiver bem-feito, todos vão comentar do seu trabalho e sua carreira estará arruinada!”

Ela dá um sorriso debochado e vai embora. A vagabunda fez isso para me ferrar.

Me sento no chão e abro meu notebook, não vou abaixar a cabeça não.

Comecei a refazer tudo o que planejei.

Quando olhei o relógio já havia anoitecido, mas ainda falta muita coisa, então resolvi continuar.

“Então você está aqui?”, ouço a voz de Luke atrás de mim.

“E aonde mais eu poderia estar?”

“Em casa, cuidando do seu filho.”

“Minha tia pode cuidar dele por enquanto. Espera? Como sabe que eu não estava em casa?”

“Fui lá te ver e não vi o seu carro estacionado.”

“Está me seguindo?”

“Só percebeu agora? Está tão louca para se livrar assim de mim que está trabalhando 24h por dia?”

“Eu não queria mais que me perseguisse, é verdade… mas estou trabalhando até tarde por causa da sua noiva. Ela veio aqui hoje e disse que o noivado de vocês será na semana que vem e ela vai mostrar tudo para todo mundo. Se a decoração estiver ruim eu vou perder trabalho, viu?”

Digo um pouco desanimada.

“Eu posso te ajudar, te dando mais dinheiro, o resto é com você!”

“O quê?! Por que não pode me ajudar fazendo sua noiva desistir dessa ideia?”

“Por que eu também estou louco para esse casamento acontecer logo!”

“Está tão doido que está aqui…”, digo com ironia.

“Com você eu não tenho pressa, uma hora ou outra, vai ser minha.”

“Você não era sério? Parece mais um sem-vergonha!”

Ele ri da minha cara, só confirmando que eu estava falando a verdade.

“Tome!”, ele diz me dando um cartão de crédito preto, “Gaste com o que precisar, pode até comprar leite pra criança.”

Levanto a sobrancelha para ele e ele continua, “Agora vamos embora daqui, não é seguro ficar andando por aí sozinha a essa hora.”

Eu estava tão cansada que não tive coragem de recusar, assim que entrei no carro, pouco tempo depois acabei pegando no sono.

Só acordei quando chegamos, com Luke acariciando o meu rosto. Me despedi e fui para casa.

Cheguei e peguei o meu filho no quarto da minha tia, o coitadinho estava dormindo e me doeu o coração pensar que poderia ter sentido a minha falta.

Dei um beijinho na bochecha dele e fomos para cama.

Pela manhã acordei cedo e fiz o leite dele. Ele ainda gosta de mamadeira, mas eu deixo ele tomar só pela manhã, pra ir desacostumando aos poucos.

Olhei para o leite e lembrei do cartão do Luke, bem que eu deveria comprar o leite com cartão dele mesmo, se ele for o pai, está devendo cinco anos de pensão alimentícia.

Mas eu vou gastar só com aquela reforma mesmo.

Depois de dar a mamadeira, me despedi e desci. Chamei um Uber, porque deixei meu carro na casa ontem, mas outro Uber apareceu, Luke. Eu já nem tô surpresa mais. 

Entrei no carro e pedi para ele me levar até a empreiteira de um amigo.

Consegui que eles já fossem para casa depois que eu uma boa entrada e combinei um valor bem caro com eles. Esse valor não vai vir para mim, vai para a casa do Luke mesmo, então nem fiquei com a consciência pesada.

Foi uma semana difícil, com muito trabalho, mas as coisas estavam andando. É engraçado como quando a gente não tem dinheiro as coisas são muito difíceis, mas quando tem dinheiro no meio, tudo dá certo.

Eu contratei um paisagista e enchi o jardim de planta, dentro de casa, nem se fala! Coloquei até algumas cortinas com estampa de folhas. Aquela doida da Lígia tentou me ferrar, mas eu deixei uma surpresinha para ela, ela odeia plantas, mas o que ela mais vai ter nessa casa vão ser plantas.

Chegou o último dia, finalmente. E agora, era a hora dos toques finais. Uma pincelada aqui e ali, equipe de limpeza limpando qualquer sujeira de obra.

Estava pintando um pedacinho da parede que estava com uma falha, quando ouvi a voz de Luke, “Nossa, isso aqui está muito bom. Você é boa nisso mesmo!”

“Com um cartão black, tudo é possível.” Digo descendo da escada e entregando o cartão de volta para ele.

Ele demora para pegar o cartão e após e pergunta, “Arquitetos também pintam casa?”

“Arquitetos fazem de tudo!”

Ele passa o polegar em meu rosto e sinto como se correntes elétricas percorressem o meu corpo. Parece que cada vez que nos encontramos, a química aumenta mais.

Ele para o polegar em meu rosto e diz, com a voz embargada, “Estava sujo aqui…”

“Eu devo estar toda suja…”, digo instantaneamente.

Ele morde o lábio inferior e aproxima o rosto respondendo, falando baixo em meu ouvido,“Eu posso te ajudar a se limpar.”

Eu fiquei até sem palavras, viu? Acho que minha convicção está ficando cada vez mais fraca.

“O seu silêncio é um sim?”, ele me pergunta novamente e eu quase digo que sim, mas me recomponho.

“Não estou tão suja assim.”

Me viro e vou para o banheiro, lá eu jogo um pouco de água gelada no meu rosto e pescoço.

Me olho no espelho novamente e Luke aparece atrás de mim, ele pega em meu ombro e passa o nariz em meu pescoço, inalando meu cheiro. Fico toda arrepiada.

“Já chega de trabalhar por hoje, vamos comemorar o fim do trabalho.”

“Ham?” Me viro para ele, perplexa, pois pensei que ele estava me fazendo uma proposta indecente e ele vai ficar noivo amanhã.

“Não é isso o que está pensando. Todos que participaram da obra vão beber em uma boate perto daqui. Vamos? Eu vou pagar a conta.”

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