Capítulo 11. Ataque

Henrique sabia exatamente o que Elias estava pensando e por isso falou:

— Posso captar seus pensamentos, Elias. Acho que a melhor maneira de protegermos Luana, é mantê-la aqui e pode ter certeza, não a tratarei mal, daqui por diante, terei respeito e me manterei longe, para que ela se torne a fêmea que tem que ser.

— Faltam seis anos para ela se transformar, vai aguentar ficar longe, sem a provocar?

— Se for necessário, viajarei para longe.

— Não será necessário, o alfa está planejando um novo ataque, desta vez a Alcateia dos malhados.

— Como eu não estava sabendo disso?

— Foi tratado antes da sua transformação, provavelmente, na próxima reunião, o alfa o chamará para participar. Provavelmente ele ficará orgulhoso em levá-lo em sua primeira empreitada. O ruim vai ser você assistir tudo o que ele faz durante essa caçada.

— Você disse bem, ele faz desses ataques, uma caçada. Já notei que ele gosta de matar, mas não deveria atacar os seus, com a desculpa de serem diferentes.

— Ainda bem que você notou, não podemos deixar que ele continue fazendo isto. Um dia não haverá mais lucros na terra, Você viu o que aconteceu com Dimas.

— Sim, Dimas havia me falado sobre isso, com um ataque às alcateias e a morte das fêmeas ficamos sem opção de companheira. Meu tio deu sorte que a dele conseguiu sobreviver ou ele viveria uma vida miserável, daqui para frente.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, continuando sua caminhada, lado a lado, pelo território. Era triste pensar que uma única pessoa conseguia monopolizar todo um contingente, para matar pessoas de sua própria raça.

Henrique não falou nada, mas em seu pensamento, vivia só uma questão: precisava paralisar o Alfa. Terminaram o seu turno e foram para casa e assim Como Elias falou, no dia seguinte, o alfa Túlio convocou a reunião para se prepararem para o ataque à Alcateia dos malhados.

*

Durante a reunião, todos falavam ao mesmo tempo, havia contradições sobre como atacar e por que atacar aquela Alcateia tão mansa.

— Desculpe Alfa, sempre o apoiei, mas essa Alcateia em questão, além de pequena, são os responsáveis pela criação de grãos. Acabar com ela, seria o mesmo que dar um tiro no pé. — disse Guideon, o chefe da guarda.

— Concordo com Guideon. — disse o beta Marcel.

— O que é isso? — bateu com o punho na mesa, o Alfa, estrondando tudo — Uma insurreição? Acaso isso se tornou uma assembleia democrática? Eu sou o Alfa e eu, dou as ordens.

— Ser o mais forte e comandar, não é o principal em uma alcateia. É necessário ter coerência, para não levar a alcateia a ser prejudicada. O que Guideon está falando é certo, eles são os nossos maiores fornecedores de grãos e se o atacarmos e dizimarmos, como o Senhor tem feito durante os anos, ficaremos sem esse fornecimento. Acaso, nossa Alcateia tem condições de fornecer grãos como eles?

O Alfa Túlio olhou para Henrique com ódio, mas reconheceu que seu filho era hábil e um mestre na articulação. Conforme ele fosse crescendo, provavelmente tomaria o seu lugar e ele ainda não estava disposto a passar o trono.

— Vejam só esse fedelho, a primeira reunião que participa e acha que já tem voz ativa. — disse essas palavras, tentando diminuir o poder que via surgir no filho.

Pensou que seus homens fossem apoiar sua ridicularização ao filho, mas todos ficaram quietos, olhando para ele, sérios. Percebeu que estava perdendo sua autoridade e não gostou disso, mas para não ficar contrário a eles e depois ser pego em traição, concordou em passar mais um tempo, estudando a situação.

— Está terminada essa reunião. Henry, comigo, na arena.

Henrique sabia o que viria a seguir, horas de agressões e pancadas, vindas do seu pai. Só que agora, era diferente, ele tinha a força do seu lobisomem. Não mostraria tudo ao seu pai, apenas se defenderia para não ficar tão machucado e fazer pai compreender, que não podia mais o tratar como um filhote indefeso.

— Tudo bem, pai. Vamos lá.

Os que estavam à volta e escutaram, também foram para a arena, queriam saber o que iria acontecer Alfa Túlio podia matar o filho, dada a sua violência. Será que, agora que já tinha o seu lobo, Henry conseguiria se defender?

Já na arena com muitos observadores à volta, sentados nas arquibancadas, uma pessoa se enfiou no meio deles, cisco se ocultando para assistir. Era Luana. Ela andava se escondendo pela Alcateia, porque a mudança em seu corpo estava ocorrendo muito rapidamente e ela não queria que a vissem. 

Havia se curado, nesta última semana, e sua mãe lhe fez novas roupas. Queria ver como Henrique se sairia nesta luta contra seu pai e os golpes que o Alfa Túlio daria, para se prevenir, se um dia tivesse que lutar.

Tudo começou com os dois se observando, a postura de Henrique era defensiva e a do Alfa Túlio era de ataque. Mas conforme o alfa atacava, sempre Henrique se esquivava e o alfa estava nervoso. 

Até que, com um lance rápido, ele pulou sobre Henrique para lhe dar um bote e talvez até morder seu pescoço, mas Henrique, rapidamente se abaixou e passou por baixo das pernas do Alfa, livrando-se, enquanto socava sua virilha.

— É isso, Rique, não deixe ele te pegar! — disse Luana baixinho.

Porém, mesmo tendo falado baixinho, Henrique escutou e prestou mais atenção ainda, na luta, alguma coisa dentro dele, lhe dizia para não deixar Luana decepcionada.

Estavam lutando em forma humana e de repente, o Alfa Túlio, transformou-se em seu enorme lobisomem, cheio de marcas e magia acumuladas, dos Alfas que ele matou. Com isso, Henrique não podia lutar, então, com um pulo, saiu da arena e se colocou no meio dos outros lobos.

Não tinha vergonha de recuar, ele ainda não estava pronto para lutar com um lobisomem quase supremo, então, seu pai ficou na arena, apontando para ele e rindo da sua cara. Voltou a forma humana e troçou do filho:

— Não se meta a me contradizer pirralho. Você ainda não consegue me enfrentar.

O Alfa Túlio não percebeu que, com esta atitude, mostrou ao seu povo o medo que tinha de seu filho vencer. Todos repararam que ele estava ficando velho e cada vez mais, enlouquecido com suas manias de matança.

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