11 - Durona

Saio da sala e todos me olham, parece que todo mundo aqui da empresa já sabia. 

“Daphne! Daphne! Você tem que voltar e impedir eles de fazer essa merda!”, meu assistente me segue, gritando.

Me viro para ele e digo, “A merda já está feita, Heitor. Desejo boa sorte para vocês, viu? E no futuro, se precisar de um emprego, pode me procurar.”

Todos me olhavam desesperados, enquanto eu passava. Sabiam que seus empregos poderiam estar em risco, não só pela troca da administração, mas também pelo futuro da empresa como um todo.

Vou direto para o banheiro e fecho a porta.

Agora, sozinha, eu posso desabar.

Meus olhos ficam vermelhos de lágrimas, me olho no espelho, me perguntando como minha vida de uma hora para outra mudou tudo?

Até pouco tempo eu tinha uma condição financeira muito boa, um cargo de reconhecimento, era casada com um homem jovem e atraente. Como que de uma hora para a outra eu perdi tudo?

Não tenho mais carro, apartamento, dinheiro… bem que o Theo me disse que não era uma boa ideia deixar tudo no nome da empresa…

Respiro fundo, tentando me animar. Pelo menos ainda tenho as ações, que podem me dar algum dividendo, mas até eu construir tudo que perdi…

Enxugo minhas lágrimas, respirando fundo para me recuperar. Eu posso ter caído, mas não vou deixar ninguém me ver desse jeito.

Lavo meu rosto, enxugo e saio do banheiro, indo direto para os elevadores.

A porta se fecha enquanto vejo todos os funcionários aglomerados para verem a minha saída.

Abro o aplicativo do Uber e peço uma corrida, quero ir embora logo daqui.

“Esse cartão foi cancelado, deseja pedir a corrida no dinheiro?”

O quê? Mais uma vez minha situação bate a minha porta, é claro que já cancelaram os meus cartões, eles querem me ver fudida.

Eu não tenho dinheiro aqui e Caroline está viajando. O que vou fazer para ir embora?

Me pergunto, olhando para a rua, desolada.

“Ragazza, você foi rápida, hein?”

“Hã? Zayn, o que ainda está fazendo aqui?”

“Resolvi tomar um café na cafetaria aqui do lado… O que houve, porque estava chorando, bela?”

Ele diz e passa o polegar embaixo do meu olho.

“Chorando? Não! É… Meus olhos só estão um pouco irritados.”

Fico um pouco desconcertada, me perguntando como ele percebeu? Ninguém nunca notou quando eu fico triste…

“Não precisa se fazer de durona comigo, eu não estou aqui para te machucar.”, ele diz com uma expressão séria, o que fez Zayn parecer mais velho do que ele aparenta.

Solto o ar, desanimada. Na verdade estou cansada de sempre ser a durona e ninguém notar que eu preciso de carinho e cuidado, como todo mundo.

“Zayn, você me leva em casa?”

“Não precisa nem pedir! Vai querer com emoção ou sem emoção?”

“Como?!”

“Vamos, me diz! Vai querer com emoção ou sem emoção?”

“Hãm… bem, com emoção! Eu preciso de muita emoção!”

Quando respondi não sabia bem o que era isso, até eu perceber do que ele estava falando.

Na volta foi muito mais radical. Ele acelerou mais, fez manobras arriscadas, deitando a moto, até empinar a moto ele empinou.

Quando paramos em frente ao apartamento de Caroline, desci da moto trocando os pés, estava tontinha, tontinha.

“Ei, bela! Você está bem?”, Zayn diz, me segurando, antes que eu caísse.

“Se estou bem?”, digo com o olhar perdido, “Eu estou ótima!”

A verdade é que o medo de cair, ou de bater de frente com um poste, fez meu coração quase sair pela boca e eu me esquecer de todo esse drama que estou passando. Foi como se eu tivesse enchido a cara de tequila e esquecido de tudo.

Coloco as mãos em meu joelho e começo a sorrir sozinha, igual a uma doida.

A verdade é que aos meus trinta anos estou experienciando coisas que nunca vivi na adolescência ou quando era mais jovem.

“Zayn, você quer subir?”, pergunto, pois estou me sentindo tão tonta que tenho medo de cair e me machucar sozinha. Agora, não tenho mais dinheiro para pagar uma consulta de emergência.

“Você não está bem, não é?”, ele pergunta novamente.

“Não. Eu estou tonta e triste. Hoje é o pior dia da minha vida e você é um cara legal e fofo. Tenho certeza que vai fazer do meu dia um pouco melhor.”

Acabei desabafando um pouco com ele. Para quê manter a pose se agora não tenho mais nada?

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