Por Lorelei
...Há alguns meses......
O que está acontecendo? Está tudo uma loucura, não tem comida, todas estão voltando-se contra as outras!
Chego até Muriel e pergunto:
— O que houve?
— As outras estavam cumprindo seus propósitos, quando uma luz varreu os mares causando tremores — ela diz.
— De repente toda comida havia sumido, os peixes estavam mortos e podres, as focas e os demais animais estavam encalhados e fediam — ela responde.
— Parece tanta coincidência né? Digo: a luz, os tremores e a comida...
— Parece até uma...
— “Praga”! — falamos exatamente no mesmo momento.
Nós olhamos-nos por um segundo até que entendo enfim o que aconteceu e acredito que ela pensou igual pela forma que me olhou, por fim em simultâneo, dizemos:
— Aspen!
— Mas porquê Aspen sumiria com a comida do oceano? Normalmente os guardiões não interferem nesse plano!
— Boa pergunta! Talvez devêssemos falar com a Matriarca.
Nadamos pelas cavernas com dificuldades e lentamente, sem comida estamos fracas. Nós ajudamos-nos até que adentramos o último túnel e chegamos à enorme caverna da Matriarca.
— Muriel e Lorelei, estavam me perguntando quando viriam. — a matriarca diz.
Em seguida ela vira-se para nós.
— Matriarca, precisamos de respostas — digo.
— Eu sei pequena, tem muita coisa acontecendo! — ela responde.
— Estamos sem comida, a colônia um caos, todas estão fracas e brigando pelos restos de peixes podres... — Muriel diz.
— Presumimos que tenha sido Aspen, que outro ser teria tamanha capacidade? A nossa pergunta é por quê? — digo.
— Com o meu dom espiritual, não consigo somente sentir a presença de alguém, ou ver e falar com Espíritos.
A minha alma se conecta ao de outros seres. Sendo assim, consigo sentir o que sentem, compartilhar pensamentos, experiências como se por segundo fossem uma extensão de mim mesma. — Ela diz.
— Nos poucos minutos que estive diante do Guardião na sua forma física, tive a oportunidade de falar com ele e de sentir o que estava sentindo. À medida que conversávamos, os nossos espíritos não estavam mais nesta caverna, mas no lado espiritual — completa.
Vou mostrar...
Uma luz toma conta da caverna...
Sinto o meu corpo se desprender do meu espírito, como se a minha pele e cada parte do meu corpo fossem uma camada sobreposta ao que realmente “sou eu”.
Alguns segundos vejo-me diante de duas figuras que parecem silhuetas E não seres vivos, mas de alguma forma as reconheço, é a Matriarca e Muriel.
Enquanto admiro a diferença daquele local com o mundo físico, a visão ao meu redor vai se distanciando como uma folha que se desmancha sobre a água.
Vou me aproximando de um novo local, dessa vez vejo duas outras figuras nesse novo local, não são Muriel e a Matriarca, pois elas estão ao meu lado. Embora uma delas seja idêntica à Matriarca.
De repente, uma delas diz algo que quebra o meu raciocínio.
— Matriarca, preciso falar com você!
— O que está acontecendo, guardião.
— São Aspen e a Matriarca? Isso é estranho, como se fosse uma memória de algo que já aconteceu, entretanto, diante dos meus olhos.
— Algo está por vir, algo terrível. Estou preso aqui nesse plano, pois me apaixonei por minha protegida. Devido a isso eu só vou poder retornar a seu verdadeiro estado se deixar de amar ela...
— Está disposto a fazer isso, Guardião?
— Nunca. Quando cheguei nesse plano para guiar ela, era apenas um ser vivo que estava presente no meu dia a dia, não significava nada. Eu não tinha noção de quem ela era. À medida que o tempo passou, comecei a conhecer ela, criei um sentimento.
A sua presença começou a causar-me um calor no peito, o meu coração disparava sempre que ela me olhava.
Eu sinto que eu a conheço tão bem, que reconheceria ela de olhos fechados, ou até mesmo em outra existência.
— Isso é lindo. Mas sabe o que isso significa? Que você se tornou um ser vivo, amar a Naid fez-te vivo, a sua missão era guiar ela e renascer em outra vida. Porém, o seu amor por ela te trouxe a vida.
— Eu sei, Matriarca, eu te procurei por outro motivo. Devido à minha imprudência, o destino da Naid foi alterado. Ficar com ela trará muito caos, isso não vai apenas influenciar no destino dela, mas de todos que cruzarem os nossos caminhos. Não será algo muito aceito. Muitos estarão contra nós, justamente por conta da influência que terei sobre os outros. Preciso de ajuda, pois temo que eu pereça em meio a esse caos.
— Guardião, se você quer a Naid, você terá! O destino é algo pré-definido, como uma planta que cresce, formando ramificações e indo por caminhos diferentes da sua raiz. Você é uma irregularidade; uma criatura capaz de recriar a mesma planta de forma totalmente distinta da que ela era inicialmente. O que eu estou dizendo é que se a sua vontade é conseguir algo, você pode refazer tudo apenas para alcançar o seu objetivo. Muitos temerão, terá que lutar para mostrar que quem está no controle do destino é você, afinal é quem o está recriando. Não vai ser fácil. Haverá mortes que não poderá evitar e no fim não poderá evitar a sua.
— Acredita que devo seguir? Não acha egoísmo eu querer alguém que não vive no mesmo mundo que eu, que pertence a outro?
— Quando se ama, não é errado sentir-se assim por alguém que não está a seu alcance ou que já não está entre nós. Assim como não é errado amar um familiar falecido ou como não é errado amar alguém que está do outro lado do mundo. Afinal, não importa se esse alguém já faleceu, ele vai ressurgir. E se não estiver ao seu alcance, o destino se modifica e aquele que estava distante passará a estar na sua frente.
— A questão não é amar, mas o que vai fazer com isso. O que faria se perdesse a Naid? — Seguiria! E se a recuperasse? Não voltaria ao passado, mas viveria dali para frente com aquela que você recuperou ou sozinho. Pois, o tempo terá passado e vocês não serão os mesmos, terão vivido diferentes coisas, conhecido diferentes pessoas. O que vai determinar se ficarão juntos de novo, será o presente e o futuro.
Pois o passado não vai te ajudar em nada, só te fazer lamentar por aquilo que perdeu. Te impedindo de seguir e causando perdas de momentos novos e pessoas novas, até mesmo velhos conhecidos que floresceram e que hoje são novas criaturas.
Deve aprender a amar a quem ela se tornou e caso não consiga, deve se desprender do passado, para não sofrer e causar sofrimento.
— Obrigado, você me ajudou muito, Matriarca!
...
— Aquilo foi lindo demais e explica muita coisa! — digo.
— Sim! Depois que conversamos, Aspen deu-me um sinal por telepatia. Naquele momento eu soube que ele estava disposto a chegar ao extremo para conseguir ficar com a Naid — é sábio e poderoso, mas não passa de um Guardião no início da sua jornada, tem muito a aprender. Como que nem tudo está sob o seu controle, que as coisas nem sempre saem como queremos. Por mais que ele consiga driblar o destino, existem pontas soltas. Enquanto ele faz de tudo para ficar com a Naid, outras coisas estão dando errado. A sua energia está tão focada em não perder ela, que ele está perdendo outras coisas. No final ele vai conseguir, mas o mundo não será o mesmo e quando ele se der conta, sofrerá inúmeras perdas que não poderá evitar por estar focado em outra coisa. — Ela completa. — Poder influenciar no destino torna ele extremamente poderoso, mas quando ele se desvia, como aconteceu com Aspen e Naid, ele perde o controle geral sobre tudo, tendo controle somente sobre ele e ela e enquanto protege e zela por isso, todo resto pela qual preza sai do seu controle. — Eu tentei alertar os dois, mas Aspen já sabia, porém, não estava disposto a levar isso em consideração para não ter que desistir de Naid. Por respeito, a decisão dele não disse nada a ela. — diz a matriarca.
— Então não podemos deixar isso ficar desse jeito, temos que enfrentar o Aspen. — eu digo
— Nunca faça isso! Ir contra o Espírito Guardião é um grave erro, ele tem controle sobre todo destino de quem cruza seu caminho. Porém, ele não é ruim, por mais que suas escolhas sejam imprudentes, ele ainda é o Guardião. Sua natureza consiste em manter um equilíbrio, com justiça e bondade — A Questão é, existem coisas que não estão sob seu controle, sendo assim isso acarretará em situações que ele não poderá mudar ou evitar, isso será ruim para ele mesmo. — a matriarca diz.
— Então não sofremos nenhum risco? — Muriel pergunta.
— Não, mesmo sendo imaturo ele é o exemplo de bondade e sensibilidade, incapaz de cometer atrocidades a benefício próprio.
— Sempre soube que existiriam aqueles que mesmo temendo o enfrentamento, provavelmente esse é o motivo de estarmos nessa situação. Uma punição àqueles que tentaram contra ele — responde à Matriarca.
— Não somos o alvo! — digo.
Exatamente! — ela responde.
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Atualizado até capítulo 26
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