Por Noah
Não posso pensar, nem questionar, não posso resistir e muito menos ir contra o meu propósito. Todos temos funções e seguimos fielmente para não sermos penalizados. Naid é a fêmea que me foi concedida, não pude escolher, não posso trocar. Porém, nós entendemos, temos dores semelhantes, o fato de não escolhermos o nosso destino e de vivermos a carregar um fardo crescente nos aproxima.
Uso a minha agilidade. O meu dom, em que treino desde pequeno, para transitar entre as colônias. Como é o meu grupo que realiza a caça de alimentos, devo transportar comida pelas colônias, vou levar para Naid e as outras, alimentos para ajudar na gestação. Normalmente elas comem alimentos da sua região, porém no seu período gestacional elas necessitam de comidas mais nutridas como carne de foca e lontras.
Na metade do caminho, observo a diferença entre as nossas colônias divididas por dois elementos: profundidade e temperatura, também sinto a diferença no ambiente a medida que vou a subir a superfície. A ilha onde a Naid e sua colônia vive é linda, as águas que a circulam são cristalinas, são cobertas por uma neblina que surge sobre a superfície da maré, dando a sensação de se estar a nadar em nuvens.
Ela é isolada, o local mais próximo daqui é a 3 meses.
Os ciclos são como nós medimos o tempo. Um ciclo é um ano, nós o medimos devido às baleias.
Quando as baleias migram, se completou um ano desde o último ciclo migratório.
A ilha é linda, tem um formato oval. A colônia das fêmeas fica no centro, onde possui uma lagoa de água-marinha onde cumpre o seu propósito. Essa lagoa é redonda e grande, à sua volta existem rochas que definem o seu formato. A água da lagoa é morna devido a sua temperatura, e o único meio de entrada e saída é um buraco que liga o oceano ao fundo da lagoa.
Esse buraco é estreito, na medida que eu nado através dele consigo sair das profundezas e nadar até a lagoa da Naid na superfície. Ele é repleto de obstáculos, rochas, curvas e outros inconvenientes que acabam por dificultar a locomoção, porém eu passo facilmente com a minha agilidade. Por já conhecer o caminho, não arrisco encontrar nenhuma surpresa. Meu corpo é adaptado a profundidade, pressão e temperatura, elementos que impedem as fêmeas e outros animais de prosseguirem por muito mais fundo.
Faço o caminho até a lagoa, levo comigo a caça de hoje: carne de foca. Para minha sorte, a foca estava sozinha em um recife de corais, fácil de capturar.
Estava escuro, mais do que estou acostumado devido a passagem que levava para lagoa, enfrento algumas curvas e desvio de algumas rochas no caminho. E enfim chego até meu destino.
Vejo Naid boiando na lagoa, ela conversa com alguém, mas não consigo ver quem é, também não consigo ouvir o que ela diz.
— Com quem estava falando? — pergunto.
— Ninguém, estava apenas pensando alto
Em seguida ela corre até os meus braços, sabe que não posso ficar muito tempo na superfície, caso contrário posso morrer, por isso entrelaça os seus braços sobre mim e mergulha, me levando junto até mais fundo.
Sinto a energia que a ronda, é uma energia forte, deduzo que ela está... Como se diz?...
— Você está...
— Sim, acredito que vai ser uma pequena
— E o que te faz acreditar nisso?
— Intuição!
Em seguida sinto meu ar diminuindo, sou tomado por uma onda quente que não estou acostumado, ela entende e me dá um sinal para que eu vá como todas as outras vezes.
Vou embora a deixando, no caminho de volta aproveito para pensar a respeito da pequena.
Como ela será? Qual será seu propósito? E qual será seu destino?
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Atualizado até capítulo 26
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