Capitulo 10

Por Aspen

Já faz quatro meses que estamos em terra, o povo da água pode sobreviver cinco meses, mas isso não é saudável, por isso estou disposto a voltar para que o povo não acabe perdendo a sanidade.

Caminho até a Naid, ela está na cabana que fazemos para pernoitar, a pequena está crescendo, logo chegará a hora dela dar à luz. Ela está de repouso.

— Naid, como você está?

— Estou bem, não precisa se preocupar, amor!

— Já faz quatro meses, o povo da água não vai aguentar se demorarmos mais para voltar.

— Você precisa ir sozinho, não sei se aguento a mudança para minha forma aquática a pequena está quase chegando.

— Não vou sem você, Naid, mas o povo vai morrer se não voltarmos.

— Tem algo que pode fazer para eu conseguir ir?

— Você não vai conseguir dar à luz se estiver na água, eu transformei você num ser misto, o que acontece é que o seu corpo não vai mudar como mudou no seu cruzamento com o Noah — O que significa que se você começar a dar à luz, você vai morrer, pois, com a cauda não tem como ela nascer, o que eu posso fazer é atrasar o nascimento. Mas tem um preço, a bebê já está formada, com essa técnica ela vai voltar a ser um feto, não vou mentir, você vai sentir muita dor.

— Eu aceito! Se eu for assim, vou morrer, se eu ficar e você não conseguir voltar a tempo eu vou morrer, nós lutamos muito para podermos ficar juntos, não estou disposta a partir agora — ela confessa.

Beijo ela e afasto-me, começo a técnica, ela consiste num processo simples, voltar o tempo, mas somente para a Naid, ela vai estar oito meses mais jovem e o bebê também sofrerá a mudança!

Naid começa a emanar uma aura reluzente, seu cabelo se torna ruivo fluorescente novamente, muda para a cor natural, volta ao ruivo e pôr fim a cor natural de novo, seu ventre já grande devido à pequena, diminui drasticamente.

Após isso, o processo se concretiza, e Naid se levanta.

— Vamos salvar o oceano! — ela diz.

Corremos e nos lançamos sobre os cipós das árvores, locomovendo-nos pela mata. Após alguns minutos chegamos à lagoa, Naid pula na água, com tanta graça que acredito que comecei a corar.

Mudo também e a acompanho, nadamos pelo túnel no fundo da lagoa, até chegarmos ao redor da ilha, por fim entramos pela entrada da caverna onde Dorizar se abriga!

Quando chegamos lá, impressiono-me com o que encontro, o monarca imponente e poderoso agora tem uma aparência mais caquética, os seus músculos deram lugar a um visual magro e pálido, o seu rosto está preocupado, não está mais com ar de deboche como no último encontro, consigo ver os seus ossos que marcam a sua pele devido magreza.

— Vejam só, parece que o Grande Dorizar, não é mais como era antes — digo debochando.

— Guardião? Você apareceu, se arrependeu de fazer tantos outros passarem fome? — ele pergunta virando-se para mim.

— Como assim?! Você está igual, não está doente como os nós, como? — ele pergunta.

— Me admira, o fato de você ainda me subestimar, você acredita que um ser que consegue sumir com toda comida do oceano, sofreria com a sua própria praga? — digo.

— Meu único arrependimento é de você ainda não ter cedido a meus caprichos!

— Guardião, eu vou perdoar você se retirar essa praga, caso negue, eu vou mandar matar a sua preciosa Naid!

— Você não está em condições de negociar Dorizar, você poderia ter a matado antes se quisesse, mas não fez, pois, sabe que se fizesse teria a minha ira, agora mediante a sua situação deprimente está tentando negociar, agora quem fará outra ameaça será eu, ou você libera a Naid e eu para ficarmos juntos e eu retiro a praga, ou eu lançarei outra praga! Se tentar matar a Naid eu vou impedir, pois ela está ligada a mim e lançarei como punição duas pragas a mais! — ameaço.

— Já tirou a nossa comida, o que mais está disposto a fazer Guardião? Você não é um espírito maligno, não feriria outros por benefício próprio, não sou doido de matar a sua protegida, pois não lidaria só com a sua ira, mas com a da força maior que zela por você! Mas não vou jamais ceder a esse romance horrível! — ele impõe-se.

— Fez a sua escolha, como punição lançarei outra praga! Estão fracos e famintos, perderão os seus dons e com isso estarão indefesos a ataques de predadores, que também estão com fome, porém a força retirada de todos das duas colônias será acrescentada a dos predadores, resultando num enorme massacre, caso repense a sua decisão, quero que pegue uma foca e a abata e lance o seu sangue sobre água.

— Mas não se engane, trarei de volta apenas um grupo pequeno de focas, a carne estará envenenada então não tente comer da sua carne!

— Você vai se arrepender disso Guardião! — ele ameaça.

— Errado, você quem vai — respondo.

Cumpro a minha ameaça.

Reúno a energia necessária e começo a levitar os meus olhos brilham e libero tanta energia que causa um tremor na caverna.

Após isso abraço Naid que estava escondida atrás de uns rochedos e teleporto para floresta!

— Você não acredita que está sendo muito severo? Não falo isso pelo Dorizar, mas pelo povo, você disse que os predadores vão estar mais ferozes e o povo indefeso e faminto não é muito drástico?

— Naid, você conhece-me, sabe que eu sou incapaz de usar os outros para benefício próprio, sobre isso Dorizar estava certo! — digo.

— Como assim? — ela pergunta confusa.

— É verdade eu sumi com toda comida marinha, mas não sumi com a comida terrestre, é fato de que o povo do mar não consegue sair da água, mas há alimentos próximos das águas, como as aves que repousam sobre a água, os frutos abeiram dos rios, e outros... — digo. — Eu também removi a força e os dons do povo e dei aos predadores como tubarões, baleias-assassinas e outras feras, mas não removi a inteligência do povo do mar, as colônias das fêmeas e dos machos é repleta de túneis e cavernas muito estreitos e inacessíveis aos predadores. Eles não conseguem enfrentar, mas conseguem se abrigar nas cavernas.

Dorizar pensa que eu estou punindo severamente a todos, mas não percebeu as brechas que deixei para sobrevivência do seu povo, enquanto ele está extremamente apavorado e fraco o povo está se abrigando se protegendo e se alimentando como podem.

— Dorizar é um ditador, nunca caçou, lutou e nem sequer explorou as colônias, foi criado para ser o líder dos machos, ele manda todos fazerem tudo para ele. Por isso ele não conseguirá suportar! O povo é esperto, cheio de caçadores, lutadores, defensores e bloqueadores espirituais eles vão sobreviver, mas o líder deles se não ceder não terá a mesma sorte — concluo.

— Amor, eu confio em você, sei que não faria mal a ninguém se não fosse necessário e se for o caso faria de forma justa, por isso não te enfrentei. Mas não imaginava que você faria algo assim — Naid diz. — Esse é um dos motivos pelo qual te amo, você é ótimo, sempre se dispõe a ajudar a todos como pode, sempre lutando pelos seus interesses e ideais.

Nesse momento, começo a corar, Naid percebe, em seguida ela se aproxima correspondo a abraçando... repouso minha testa sobre a dela e olho em seus olhos. Naid me olha e nos beijamos.

Naquele momento na cabana, após um tempo trocando carinhos e afetos, nos deitamos juntos, sinto o meu coração acelerar e um calor toma conta do meu peito, nós olhamos-nos e eu falo quebrando silêncio:

— Tem certeza?

— Aspen, eu te amo, mas cala boca!

Naid me abraça e se debruça sobre mim… Depois disso, dormimos juntos abraçados e o tempo passa. De repente perco a consciência...

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