Por Naid
Aspen tem razão, na forma física ele fica visível. Sendo assim, como vou explicar a presença dele aqui? Mesmo com a sua nova forma, isso geraria perguntas, como porque ele difere dos outros, tendo o torso como das fêmeas? Ou, porque ele está na superfície?
Só tem uma alternativa, falar a verdade!
— Aspen, acredito que devemos falar a verdade!
— Está pronta para explicar isso a elas?
— Não tenho escolha, se você ficar na forma terrestre, pensariam ser um terrestre, e na aquática, um macho, e você não consegue manter a forma astral — afirmo.
— Se você quer assim, que seja! Estou aqui para te seguir, mesmo nessa forma.
Nadamos até o fundo da lagoa, passamos pelo buraco ao fundo, chegando em baixo da ilha, nadamos até a enseada, que fica ao redor da ilha a mar aberto.
Encontrei Alana, Muriel e Lorelei em mar aberto nas rochas da enseada, estavam a conversar, e param assim que notam a minha chegada.
— Naid! — Lorelei diz, animada como sempre.
— Onde esteve esse tempo todo? — Alana pergunta.
— Ela estava na lagoa! — Lorelei responde.
— Todo esse tempo? — pergunta Muriel.
— Da lagoa eu fui nadar, depois eu vim para cá! — respondo.
— Tem nadado e ficado sozinha por muito tempo ultimamente — Alana afirma desconfiada.
— Era sobre isso que eu queria falar com vocês! — digo.
— Estamos ouvindo! — Muriel diz.
— Eu tenho um NATSU!
— O que é um NATSU? — Lorelei pergunta confusa.
— São aqueles espíritos guardiões, das lendas das fundadoras! — Alana responde.
—Isso é impossível, ninguém ouve falar neles há muito tempo! — Muriel diz.
Elas começam a rir deixando-me completamente constrangida.
Começo a sentir-me diferente, sinto o meu corpo esquentar mais que o normal e a minha cauda está dormente. As outras ficam pasmas e olham para mim, com surpresa e receio, nenhuma delas diz nenhuma palavra, estão em choque.
— Você... O seu... SEU CABELO ESTÁ VERMELHO! — Alana indaga em pânico.
— E olha os olhos dela... Estão brilhando! — Muriel diz.
Após isso sinto meu corpo voltar ao normal até eu finalmente recobrar meus sentidos,
Muriel quebra o silêncio.
— As lendas falam sobre isso, não falam? — pergunta.
— Sim! “Será concedido graça e beleza para aquelas que o possuírem!”, é o que a lenda diz — Alana responde.
— Acreditam em mim agora? — digo.
— Desculpa por duvidar de você, Naid, é que não é todo dia que um NATSU aparece — Lorelei diz.
— E não é só isso! — Digo.
— O quê?
— O quê?
— O quê?
Olho para trás e entendo o motivo da surpresa, Aspen está ali, até aquele momento ele estava submerso, mas agora se mostrou diante delas.
— Ele é um... Terrestre? — Lorelei pergunta.
— Não sou um Terrestre — Aspen responde mostrando a cauda.
— Um macho? Mas, por quê?!... — Muriel indaga
— Vocês não entenderam ainda? Ele é o NATSU da Naid! Ele não é um terrestre e com certeza não é um macho! — Alana responde.
— Mas só aquela que o possui pode vê-lo... — Muriel retruca.
— Na minha forma espiritual sim, mas não com uma forma física. Nós não somos conhecidos pela materialização nesse mundo, geralmente não intervimos, mas eu não tive escolha! — Aspen explica.
— E por que ainda está nessa forma? — Alana pergunta.
— Não é tão simples. Não posso voltar à minha forma astral no momento, quando nós espíritos guardiões nos intrometemos nesse mundo existem consequências, é preciso consertar o problema para voltar a nossa verdadeira natureza. — Aspen responde.
— Você devia falar com a matriarca. — Alana sugere.
A Matriarca é a fêmea mais antiga do cardume, ela vive isolada na ilha, o seu propósito se resume a manter o equilíbrio da ilha.
A ilha é um local extremamente espiritual, repleta de espíritos e muita energia. O dever da matriarca é tratar de qualquer assunto espiritual quanto na forma astral ou na física.
Ela vive numa caverna que se localiza ao redor da lagoa. No centro da ilha está a minha lagoa, rodeada de cavernas, ela fica na principal. As demais cavernas são onde outras realizam os seus propósitos.
A Matriarca fica em uma delas, como na lagoa, o único meio de entrada é pelo fundo, através do mar.
Eu nado ao redor da ilha até entrar em um dos buracos que leva até a superfície interna da caverna.
Lá existe outra lagoa enorme, muito maior que a do meu propósito. No centro dela está a matriarca.
Ela é belíssima, seus cabelos são loiros e cacheados, seus olhos são azuis como o céu e a sua pele reflete a luz de tão branca. Embora tenha idade avançada, não demonstra nenhum sinal, e isso é comum para nós.
— Faz tempo que não me visita, Naid! — ela diz de costas para mim.
— Sempre me impressiona quando você nota alguém sem nem mesmo ter visto. — Digo-lhe.
— Esse é o meu dom. Eu enxergo além da visão física — ela se gaba.
É estranho ela não ter notado o Aspen! Mesmo ele estando do meu lado é visível...
— Eu vim falar com você — digo.
— Estou ouvindo — ela responde ainda de costas.
— Eu vim falar sobre meu Espírito guardião! — Vou direto ao assunto.
— Querida, esses espíritos são extremamente raros, eles dificilmente...
Ela fala virando para mim, até que nota Aspen e para no meio da explicação.
— Isso é impossível — ela fala sem entender.
Não se pode notar a presença de um espírito Guardião, desde que ele lhe pertença ou permita que me note. Mesmo assim, pensei que ela pudesse, devido ao seu propósito e ao seu dom.
Ela fica em silêncio por alguns segundos e não demora para entender o motivo de não o ter notado.
— Eu nunca pensei que fosse encontrar um como você nessa vida — ela diz
— Seus dons também são excelentes, mesmo estando nessa forma eu consigo sentir a espiritualidade que você emana. — Aspen elogia
— Isso é muito importante vindo de um ser como você! — ela diz
— Eu imagino que esteja se perguntando o por que eu vim aqui hoje, matriarca — digo, cortando a série de elogios.
— Para ser sincera, sim — ela responde.
— Posso falar, Naid? — Aspen pergunta.
— Claro — respondo.
— Na lagoa, a Naid começou a ficar estranha, seus cabelos ficaram ruivos e brilhavam, seus olhos também na mesma cor, ela estava emanando uma quantidade absurda de energia. Então eu interferi, de alguma forma a energia dela me afetou e não consigo manter minha forma astral, meus dons estão reduzidos, por isso não consigo saber o que fazer — Aspen relata o ocorrido.
— Então foi isso. Eu notei um desequilíbrio na ilha hoje, estava na forma astral, tentando entender o que aconteceu. Até que, vocês chegaram — ela diz. — Um espírito Guardião só se torna vulnerável em duas situações, quando revela o seu nome verdadeiro ou quando se desvia do seu caminho.
— Eu com certeza não revelei meu nome! — Aspen responde.
— Você disse que interveio, o que você fez? — ela pergunta.
— Eu me materializei e fiz o expurgo na Naid! — responde após pensar.
— Você tem certeza que não fez, mais nada? — ela pergunta desconfiada.
— Bom, eu... — ele tenta responder.
— Por que isso é tão importante? — pergunto, interrompendo.
— Se o espírito Guardião cometeu qualquer desvio de seu caminho, ele fica preso a esse mundo até resolver o problema — ela responde.
— Agora se ele se envolver... — ela diz.
— Eu o beijei — assumo.
— O quê? Isso é péssimo — ela relata.
— Espera, o que vai acontecer? — pergunto.
— Isso não é um problema desde que... — ela tenta explicar.
— Precisamos ir, Naid! — Aspen interrompe.
— Não, eu quero saber! — retruco.
A Matriarca olha para Aspen e olha para mim e após alguns segundos diz:
— Você precisa ir, sabe que deve ouvi-lo!
Fico desconfiada, mas não insisto.
— E a mudança repentina que ela teve? — Aspen pergunta.
— A pequena que está se formando nela, a torna, mas forte, o seu espírito se uniu ao dela, na tentativa de cumprir o seu propósito. A energia que ela tem é poderosa, você deve saber, é por isso que está com a Naid, não é? — ela explica.
— Sim, Naid tem um futuro incerto, precisa ser moldado e necessita de guia. E essa pequena que ela carrega, tem um potencial espiritual muito grande, para que tudo saia como deve ser, eu estou aqui. Guiando e zelando por ela. — Aspen responde.
— Naid, use isso, vai conter a energia dessa pequena e vai ajudar ao Aspen. A energia dela o afetou, devido ao fato dele estar na forma física quando você mudou, agora o corpo dele não suporta a desmaterialização — diz a Matriarca
Ela entrega-me uma pedra azul, que está presa num cordão para colocar sobre o pescoço.
— Logo, você vai conseguir mudar de novo, Espírito guardião. Espero poder presenciar os seus dons em ação, seria um prazer observar o quão poderoso você é, considerando que o que eu sei são apenas histórias — ela diz enquanto demonstra ansiedade.
— Será mais breve do que imagina — Aspen responde.
Após isso, nadamos de volta, ficamos em silêncio todo caminho de volta, parece muito difícil para o Aspen, isso afetou não só sua forma e seus dons, mas seus sentimentos, o que é estranho, pois na forma astral ele não sente da mesma forma que algum ser físico, agora ele parece tão vivo.
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Atualizado até capítulo 26
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