Capítulo 15

Assim que entrei e consegui conversar com meu pai, mesmo surpreso com meu pedido, ele concordou e me deu a permissão.

Mas mesmo assim, meu coração parecia inquieto.

Nos reunirmos todos para o jantar, e assim que nos sentamos, percebi que todos, até mesmo a família indesejada de minha esposa, estavam à mesa, menos Yasmin. Isso me deixou intrigado, e essa sensação só se intensificou ao ver um sorriso satisfeito na irmã e madrasta de Yasmin, por não vê-la a mesa.

- Minha mãe, onde está minha esposa? - questiono.

- Deve estar ainda em seu quarto, meu filho. Imagino que esteja terminando de se aprontar.

- Mas todos já desceram. - penso. - Vou chamá-la. - faço menção de levantar, mas minha mãe intervém.

- Meu filho, ainda não realizamos todas as celebrações do casamento, então você não pode ir até o quarto dela. Deixe que eu mesma vou até lá. - ela me olha e sorri levemente. - Pelo que vejo, temos um noivo bem ancioso desta vez.

- Tenho que concordar, querida esposa. - meu pai me olha, com um leve sorriso. - Pois do contrário, ele não pediria permissão para vê-la amanhã,ao final da celebração com as mulheres.

- Mas, minha nossa! Samir! - minha mãe sorri largamente. - Ah, meu menino, como meu coração se alegra em ouvir isso! Esse seu interesse e preocupação é um bom sinal... - ele beija meu rosto, feliz. - Vou agora mesmo verificar se minha nova filha já está pronta.

Minha mãe sai apressada, e não sei porque, mas me sinto realmente ancioso pela chegada de minha Yamin.

Porém, me frustro ao ver minha mãe retornar sozinha e com a expressão preocupada no rosto.

- O que houve, minha mãe? Onde está minha zawja?

- Creio que estava muito cansada por conta da viagem e as celebrações de hoje, pois estava já adormecida quando entrei no quarto.

Suspiro, frustrado. Como vou falar com ela?

Olho atentamente para minha cunhada, e vejo o exato momento em que troca olhares discretos com Najla, e as duas sorriem discretamente uma para a outra... duas cobras juntas num mesmo ambiente, então certamente elas tramaram algo, mas o que?

- Tudo bem, minha mãe, não se preocupe. Apenas peça, por favor, para que levem o desjejum dela amanhã logo cedo, pois ela deve acordar com fome, já que não irá jantar.

- Sim, meu filho. Farei isso. - minha mãe parece feliz em ver minha preocupação com Yasmin, e meu coração se alegra em saber que minha esposa terá minha mãe para ensiná-la sobre nossos costumes, tradições e cultura.

Jantamos todos juntos, e vez ou outra eu notava o sorriso vitorioso em minha cunhada, na senhora Ursula, e na irmã de Yasmin. Essas três fizeram algo que entristeceu minha esposa, só espero que não tenham mostrado a ela as imagens entre eu e Silvia, pois se fosse comigo, eu estaria profundamente magoado ao ver minha futura esposa nos braços de outro.

Por esse motivo pus um ponto final em meu envolvimento com Silvia, antes mesmo de assinar os papéis do casamento. Mas se Yasmin viu aquelas imagens, certamente deve estar me julgado como um marido infiel que vai fazê-la sofrer num casamento regado a traições. E não é isso o que quero.

Prometi a mim mesmo que seria fiel ao meu compromisso, e agora estou repensando minha decisão de manter apenas um casamento de aparências, já que minha esposa não sai de meus pensamentos. Só que preciso ser cauteloso, pois as emoções podem nos cegar, assim como pareci estar cego em relação à verdadeira face de Silvia.

Minha ex se mostrou muito dura, intolerante e desrespeitosa em relação à minha família e minha cultura. Entendo que ela estava triste e magoada pelo nosso rompimento, mas não nos víamos pessoalmente há meses e não tínhamos um compromisso firmado, e de mais a mais, eu não fui o primeiro homem a tocá-la, e sempre suspeitei de que, em suas viagens, talvez ela pudesse estar com outros homens.

Fecho meus olhos com força, tentando afastar tais pensamentos.

Termino o jantar e me recolho no meu quarto, olhando atentamente para a lua, até pegar no sono.

《••••》

- Mãe, essa celebração entre as mulheres ainda vai demorar muito? Estou aguardando há horas. - reclamo, quando minha mãe sai do pátio onde as mulheres estão reunidas.

- Mas que menino ancioso! - diz, brava. - Se acalme, ou desse jeito vai assustar sua pobre esposa! - bufa. - Você já pode entrar, mas seja gentil, pois algo aconteceu e Yasmin não quis me contar do que se trata, mas vi tristeza em seus olhos.

Sinto algo me apertar o peito, mas respiro fundo e me mantenho firme, e apenas aceno levemente, enquanto minha mãe me acompanha.

Passo pelas mulheres com toda a imponência que sempre tive. O olhar altivo, a postura ereta, a pisada firme e queixo erguido... tal qual o filho de um Sheik deve se portar.

Mas basta me ver frente a minha esposa, que pernamece com a cabeça baixa, que sinto seu perfume me inebriar novamente, e meu coração é tomado de uma inquietação repentina e forte.

Me abaixo lentamente, apoiando um joelho no chão, e com carinho todo sua mão pequena e delicadamente pintada, o que me faz sorrir levemente... minha esposa pura!

Meu coração se alegra com tal pensamento. Eu serei o primeiro e único em sua vida, minha Yasmin... mas será que sou digno? Será que saberei te trazer apenas alegrias?

- Pode erguer o rosto, minha zawja! - digo, e aos poucos vejo ela erguer a cabeça, e meu coração acelera instantaneamente dentro do peito, ao ver a beleza de minha esposa...

- Como és linda, minha esposa! - fico completamente impressionado com tamanha beleza e delicadeza em cada traço de seu rosto.

Os olhos de mar, mas que se parecem com olhos de gata, o narizinho arrebitado, os lábios rosados e pintados em um tom claro, os olhos levemente marcados pela maquiagem, as bochechas rosadas e os cabelos negros como o ébano. Ela é tão delicada, parece ter sido pintada à mão!

Observo atentamente cada detalhe, é então percebo seus olhos marejados, e isso me incomoda.

- Enfim posso admirar seu rosto. - digo, olhando em seus olhos, que estão vermelhos, e isso me aperta o peito. - Me diga, o que aconteceu ontem? Porque não jantou e nem desceu para o café hoje mais cedo?

Ela suspira, mas desvia o olhar.

- Estava cansada. Me desculpe, senhor meu marido. Farei as próximas refeições ao seu lado.

- Fale olhando nos meus olhos, por favor. - digo, firme.

E quando ela volta a me olhar, seus olhos estão marejados.

- Me diga esposa, o que te entristeceu? Quem fez o brilho da minha olhos de mar se apagar dessa maneira?

Ela dá um sorriso fraco e me olha com profunda tristeza.

- O que entristece meu coração, é saber que seu coração nunca será meu, pois ele já é morada de outra pessoa. - vejo uma lágrima rolar em seu rosto. - Mas eu já deveria esperar por isso, já que nenhum de nós desejou esse casamento... só te peço que, caso decida me jogar ao vento, não me devolva à minha família de origem, e nem me maltrate, apenas me deixe ir... por favor, só não me faça sofrer ainda mais.

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