Capítulo 6

Dirijo meio confuso, com o coração pesado por deixar a Silvia naquele estado, mas a verdade é que, renunciar a minha família seria a única forma de ficarmos juntos nesse momento.

Com meus pensamentos a mil, chego na casa de meus pais, e assim que desço do carro, ouço uma discussão na sala.

Ando apressado e vejo o meu pai e o mesmo senhor que encontrei no aeroporto, sentados e discutindo.

- Omar, porque tenta me enganar? Nosso acordo seria pela filha mais velha! Acha que aceitarei tal afronta?! - meu pai diz, alterado.

- Yousef, meu amigo, eu já lhe falei, não se trata de enganá-lo, eu cumprirei com o acordo e entregarei uma de minhas filhas, porém a que será entregue será a mais nova, Yasmin. Minha filha Najla está estudando, então não pode se casar ainda.

Ouço a conversa dos dois, ainda sem me revelar, ficando atrás da parede.

Então o acordo mudou? E ao invés de me casar com aquela moça oferecida e de caráter duvidoso, irei me casar com a outra, a que parece mais atenta aos nossos costumes e ao uso do hijab...

- Meu pai... - entro na sala, e o homem me olha, mas parece não me reconhecer sem a máscara que eu usava mais cedo. - Porque discutem? Ouvi suas vozes alteradas ainda no pátio. - minto.

Ouço meu pai expor a questão e finjo estar surpreso.

- Sinceramente, não vejo impedimento para realizar o casamento com a filha mais nova, meu pai. - digo, calmo. - Pense, quanto mais nova, mais forte será e mais filhos poderá gerar, aumentando assim, nossa descendência.

Vejo meu pai ponderar e logo sorrir, satisfeito.

Eu concordo com esse pensamento? Não! Sou absolutamente contra esses homens que tratam as mulheres como procriadoras.

Mas não quero uma esposa que me traga problemas, e se vou ter que aguentar este casamento por seis meses, ao menos que seja com alguém mais tolerável.

Fora que, não gostei da forma como aquela jovem foi tratada, sendo humilhada pela própria família, então após o contrato ser desfeito, ela poderá usar o dinheiro que receber para ficar bem longe dessas aves de rapina.

- O rapaz é sensato, Yousef! - o homem diz. - Yasmin também é muito útil nos afazeres da casa, e sabe cozinhar muito bem, além de não se importar com luxos ou joias, será uma boa aquisição e ainda não lhe dará despesas, meu jovem. - ele me olha, e reconheço seu olhar de maldade.

Apenas sorrio levemente, pois só vou revelar quem realmente sou e o que tenho, depois desse contrato estar devidamente assinado, sem chances desse abutre voltar atrás e tentar casar a filha mais velha, a fim de obter mais dinheiro.

- Então, já que o meu filho não se opõe, podemos prosseguir com a assinatura dos documentos. A noiva já pode entrar ou ainda está se preparando? - meu pai questiona.

- Não é necessário preparação. - o homem retruca, e meu pai o encara, confuso. - Como eu disse, Yasmin não se importa com luxos, então não será necessário usar vestimentas de uma cerimônia formal, ela virá assinar e podem levá-la. - diz, e eu e meu pai nos entreolhamos.

É nítido que este homem está literalmente vendendo a própria filha, como se fosse uma mercadoria da qual deseja livrar-se e conseguir um bom preço por ela.

- Pois eu faço questão que minha futura zawja se vista de acordo com as tradições. - digo, firme. - Sei que o acordo é simples, mas quero que ela tenha direito a pelo menos uma cerimônia descente. Então sugiro que façamos o seguinte... - explico ao meu pai, e principalmente a minha mãe, que até então se mantinha em silêncio, tudo o que eu quero, e vejo minha mãe se animar com os preparativos.

- Filho, não sabe o quanto o meu coração se alegra em vê-lo querer proporcionar a sua futura esposa um casamento digno. - ela acaricia o meu rosto.

- É o mínimo que posso fazer, minha mãe. - sorrio forçado.

Presenciei a forma rude como essa moça foi tratada, e se puder contribuir de alguma forma para que ela tenha alguns momentos de felicidade, eu o farei!

Minha mãe logo sai, após a reverência, e em instantes vejo agitação na casa, várias mulheres andando e falando alto... é a alegria de planejar um casamento!

- Pai, sei que pela tradição, teríamos três dias de festa, mas como faremos algo mais rápido, gostaria que a assinatura do contrato fosse feita ainda hoje, para não tornar o dia muito exaustivo para nós, e porque acredito que o Sr. Omar tenha negócios a tratar no Brasil, não é mesmo? - encaro o homem, visivelmente descontente com a celebração do casamento, com honras.

- Claro, meu filho. Mas você disse que a noiva deveria estar vestida conforme as tradições, isso leva tempo. - pondera.

- Tenho certeza de que minha mãe e suas ajudantes podem resolver essa questão. - afirmo.

- Claro! Vou mandar avisá-la. - meu pai chama um dos funcionários e manda avisar à minha mãe sobre as instruções.

Estou realmente curioso para ver o rosto da moça dos olhos de mar...

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