Capítulo 3

Caminho lentamente até o pequeno banheiro improvisado num cantinho do quarto, faço a minha higiene da melhor maneira que consigo, prendo os meus longos cabelos e me visto, com as roupas simples de sempre, que são bem diferentes das roupas caras e coloridas que minha meia irmã usa.

Saio do quarto e vou até a cozinha, onde começo mais um dia de trabalho duro!

Termino de preparar tudo, ponho a mesa do café e logo meu pai, Ursula e Najla sentam e começam a comer.

Fico de pé, como sempre, até que terminem sua refeição. Depois, recolho tudo, limpo e organizo a mesa, lavo as louças do café e, aí sim, sento na cozinha e como algo, geralmente um pão árabe com um chá... minha mãe gostava muito de chás e me ensinou a prepará-los de forma a extrair o melhor do sabor e aroma das ervas.

Arrumo a cozinha, e começo as outras tarefas do dia, já que meu pai e Najla só voltam na hora do almoço e Ursula vai para suas atividades com algumas mulheres de comerciantes Árabes das proximidades. Ela diz que fazem serviços sociais, mas não sei se confio muito nisso.

Eu já pensei em aproveitar esses momentos e fugir, mas desde que o meu pai se meteu em dívidas, nós nos mudamos para um sobrado que fica em cima de uma padaria, e a minha madrasta tranca a porta quando sai.

Fugir? Para onde eu fugiria? Morar nas ruas? Acho que até morar nas ruas seria melhor do que morar aqui nesse lugar, sendo tratada dessa maneira.

Enxugo as lágrimas que derramei sem nem perceber, e logo volto aos meus afazeres.

Penso, enquanto preparo o almoço, como será esse tal noivo? Lembro de ter ouvido uma conversa sobre os filhos de Yousef Harmud. O suposto noivo é um homem rude, arrogante, ganancioso e conhecido por se relacionar com muitas mulheres.

Najla não quer se prender à um casamento, diz que tem um futuro pela frente, e meu pai não enxerga que ela não faz nada além de gastar o dinheiro dele.

Eu até pensei que ela se casaria, pois apesar da má fama, o filho do Sr. Harmud é de família rica, mas ouvi dizerem que ele está à beira da falência pois o dote pago ao meu pai será dado pelo próprio Sheik, já que o filho gastou toda a fortuna com mulheres europeias.... ah, Deus, onde vou parar?!

Não adianta me lastimar por meu triste destino, pois meu pai já decidiu, e eu apenas tenho a opção de aceitar essa decisão e pedir aos céus para que esse noivo não seja um daqueles homens que seguem rigidamente a cultura e castigam suas esposas.

《••••》

Uma semana depois....

- Lembre-se, não nos envergonhe diante da família do Sheik Harmud, entendeu Yasmin?! - meu pai diz, severamente,quando desembarcamos do avião, já em solo Árabe.

- Sim, senhor, meu pai.- respondo, assustada com tantos prédio imensos.

No Brasil, morávamos em São Paulo, mas era num bairro onde haviam mais prédios baixos, de poucos andares, e com faxadas mais antigas.

Eu não saía de casa, exceto quando estritamente necessário, como quando precisei ir à uma consulta na semana passada, por conta do casamento. Então não estou acostumada com tanto movimento e construções tão grandes e imponentes.

Olho ao redor e aperto o hijab, pois minha mãe me ensinou, desde pequena, que não devo usar os cabelos descobertos nas ruas.

Saímos do aeroporto, mas sinto alguém puxar o meu lenço, me fazendo desequilibrar com o puxão e cair, levando as mãos à cabeça imediatamente, com medo por ter a cabeça descoberta.

Olho assustada e vejo Najla sorrir maliciosa, enquanto atira o meu lenço para longe.

- Najla! O que você fez? - olho, em desespero, o lenço sendo levado pelo vento e ficando preso em uma planta mais a frente.

- Eu?! - ela finge estar ofendida. - Você que é uma desastrada! Nem bem chegamos e já envergonha a nossa família! - me repreende.

- Yasmin! - meu pai se irrita. - Como pode causar confusão dessa maneira?! Vá logo, se apresse e pegue seu hijab!

Tento me levantar, mas sinto o meu tornozelo doer.

- Pai, meu tornozelo dói, acho que machuquei. - digo, passando a mão no local.

- Deixe de frescuras! Você quer que seu pai seja envergonhado para evitar o casamento?! - ela aponta discretamente o motorista do Sheik Harmud, que nos observa. - Vá agora, menina atrevida!

Quando tento me levantar, vejo uma mão grande estender o lenço diante dos meus olhos, e eu rapidamente cubro o rosto, usando o meu cabelo.

- Acho que esse hijab te pertence, estou certo? - o homem pergunta, e sua voz é potente como o trovão, mas não me causa medo.

- Obrigada! - digo, timidamente e pego meu lenço, cobrindo rapidamente meus cabelos e meu rosto.

- Precisa de ajuda para se levantar? - questiona, me estendendo a mão, e vejo um anel bonito em seu dedo.

- Minha filha não será tocada por outro, senão por seu marido! - meu pai segura em meu braço e me levanta, bruscamente. - Vamos, menina atrapalhada!

- Deveria ser mais educado com sua própria filha, senhor! - o estranho diz, e olho discretamente em sua direção, mas estranhamente, ele está usando máscara, e tudo o que consigo ver de relance, são um par de olhos intensos e profundos, que parecem te atrair e engolir, como areia movediça.

- Ela que é uma desastrada, a culpa não é do meu marido! - Ursula intervém.

- Então, a senhora como a matriarca, a mulher mais velha, deveria tê-la ajudado, oferecendo outro lenço.

- Não temos que te dar satisfação! Vamos logo! - meu pai sai me puxando e eu não vejo alternativa a não ser segui-lo.

Mas ainda assim, quando entro no carro, olho para o estranho, que parece me encarar através do vidro fechado.

Além da minha mãe, ninguém nunca me defendeu dessa maneira...

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Comments

Solange Araujo

Solange Araujo

Meu Deus quanta arrogância, que família estúpida, espero que ela seja muito feliz ☺...

2023-10-15

319

Maria Carmelita Albuquerque

Maria Carmelita Albuquerque

Que estupidez desse pai.

2024-05-07

0

Josilda Silva

Josilda Silva

Que família miserável

2024-05-03

0

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