Capítulo 12

Depois de tanto chorar, e me sentir totalmente vazia de qualquer tipo de sentimento, eu caminhei lentamente até o banheiro e deixei meu corpo afundar na água quente, mas meu corpo parecia anestesiado.

Sei que não deveria ter expectativas neste casamento, afinal de contas, eu já havia ouvido boatos a respeito do meu marido ser um homem que se envolvia com várias mulheres. Mas depois de vê-lo me defender daquela forma, me honrar diante de todos, me mimar com tantos presentes e se preocupar até mesmo com minha Meher, algo que eu nem sabia que receberia... ah, Samir, como eu me enganei.

- Queria muito que tivéssemos a chance de construir um amor entre nós, Samir... mas eu mais uma vez, sonhei alto demais!

Respiro fundo e saio do banho. Visto uma camisola fresca e me deito na cama macia, me encolhendo embaixo da manta grossa.

Ouço a senhora Zaira bater na porta, me avisando que o jantar está servido, mas finjo estar dormindo quando ela não obtém resposta e entra no quarto.

Não quero ter que olhar para o Samir, não quero ver o sorriso vitorioso de minha irmã e minha madrasta, pois sei que não sou ainda forte o suficiente para disfarçar meus sentimentos.

Infelizmente o sono demora a chegar, e quando finalmente adormeço, já é madrugada, e eu olho a lua tão linda no céu, pedindo a Deus para que ao menos eu não seja ainda mais ferida amanhã.

《••••》

Logo cedo, uma moça vem ao meu quarto trazer meu desjejum. Agradeço por isso, mas sei que não vou conseguir evitar meu marido por muito tempo, afinal ao pôr do sol, estaremos finalizando a última cerimônia e iremos para a nossa viagem de núpcias.

Fecho os olhos, apertando com força... eu preciso ser forte!

Depois de comer apenas algumas tâmaras e beber uma boa xícara de chá quente, me levanto e vou me preparar para a primeira cerimônia do dia.

Assim como aconteceu ontem, eu me banho e me perfumo, e uma jovem me auxilia com os cabelos e também o vestido, que hoje é todo em vermelho, com muitos bordados e detalhes em dourado, simbolizando o ouro e a prosperidade

*referência roupa da Yasmin.

Nesta cerimônia, apenas as mulheres estão presentes, e a noiva é o centro das atenções.

As mulheres se reúnem e celebram a formação de uma nova família, há muita música e dança, e nessa festa são feitas as tatuagens de hena em minhas mãos e pés, e eu escolhi um modelo delicado...

*referência dança e tradições feitas com a noiva.

Me sentei num sofá separado especialmente para mim, e as moças solteiras e virgens iniciam as pinturas em minhas mãos e pés.

Eu estava feliz em participar de todos esse processo de preparação para enfim encontrar meu noivo e revelar a ele o meu rosto, mas a todo momento aquelas imagens vinham à minha mente, e novamente um sentimento estranho me invadia e somente um sorriso forçado era o que eu conseguia esboçar.

- Oi, muito prazer, eu sou a Hanya! - uma jovem com um sorriso bonito se aproximou. - Seja bem vinda, nova irmã!

- Obrigada, Hanya! Eu me chamo Yasmin. - sorri o melhor que pude.

- Você é tão bonita, de certo que meu cunhado ficará enamorado assim que puder os olhos em você, no fim dessa cerimônia.

Eu a encaro, confusa, pois achei que meu noivo só me veria na próxima celebração. Mas ela parece entender meus questionamentos.

- Em alguns casos, o noivo pode ver a noiva, mas só no fim da segunda cerimônia, e pelo que meu marido me disse, seu esposo está tão ancioso que pediu ao meu sogro para conceder a ele essa permissão. - sorrio um pouco mais ao ouvir tais palavras, então ele está ancioso para me ver?

- Meu marido fez tal coisa? Pediu essa permissão? Tem certeza, Hanya? - seguro em suas mãos, e ela sorri.

- Sim, irmã, eu tenho certeza. E vou lhe contar um segredo, mas não diga a ninguém. - eu assinto e ela se aproxima mais, falando em um tom baixo, para que somente eu possa ouvir. - Segundo meu marido me contou, ontem Samir ficou horas no jardim, sentado olhando fixamente para a janela de seu quarto. E quando você não apareceu para jantar, ele mesmo queria ir buscá-la, mas nossa mãe Zaira não permitiu tal coisa, pois não era correto. - ela dá uma pequena risada. - O noivo está tão ancioso para ver a noiva que até queria quebrar as regras. Meu esposo disse que nunca viu Samir tão ancioso e nervoso ao mesmo tempo, parecia inquieto, e a todo tempo olhava para a entrada da sala de refeições, a espera que você aparecesse.

Aperto com mais força as mãos de Hanya, que me olha com um sorriso carinhoso no rosto, e sinto uma afinidade e carinho muito grandes por ela.

- Yasmin, desejo de verdade que sejamos amigas, e tudo o que eu puder fazer por você, pode contar comigo. - suspira. - Mas não confie em Samira, ela não é uma boa pessoa, tem o coração duro e a alma amarga. Não se deixe enganar pelas palavras doces, pois eu acreditei e...- ela não termina a frase, pois ouvimos uma voz mansa e realmente doce aos ouvidos.

- Ah, mas que preciosa é nossa nova irmã! - a jovem mulher se aproxima e puxa minha mão, afastando de Hanya. - Eu sou Samira, a irmã mais velha, primeira e única esposa do irmão mais velho da família Harmud, então eu lhe darei as boas vindas, querida irmã mais nova! - diz, fazendo gestos muito excessivos para o meu gosto. - Venham, cantem e dancem em homenagem a nossa nova irmã! - ela diz em voz alta, e o grito típico das mulheres Árabes é ouvido por toda a sala. - Espero que nossa amada irmã Hanya não tenha dito nenhuma tolice. - lança um olhar afiado na direção de Hanya, e eu conheço esse olhar, pois Najla e Ursula tem o mesmo olhar venenoso.

- Hanya estava apenas me cobrando um pouco mais sobre a rotina da casa e alguns costumes, já que fui criada fora da nossa cultura, em um país estrangeiro, preciso estar atenta para não cometer erros e não envergonhar meu marido. - minto, e até me surpeendo com a rapidez com que raciocinei e dei uma resposta. - Mas espero contar também com sua ajuda e ensinamentos, irmã Samira, já que é a mais velha das irmãs, deve ter muito a ensinar.

- Ah, claro! Terei prazer em ensinar tudo o que deve fazer para ser uma boa esposa e uma boa filha nesta casa...- sorri.

Algo me diz que devo manter distância dessa mulher, pois estou calejada de cobras traiçoeiras!

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