Samir
Nessa última semana eu e Kafar, meu irmão mais novo, formado em direito, e que trabalha na minha empresa, pensamos em uma forma de fazer com que a jovem Najla desistisse da ideia de se casar, mas como não tivemos sucesso, decidimos procurar brechas no contrato pré-nupcial firmado entre meu pai e o Sr. Omar.
- Irmão, tem mesmo certeza de que esse é o melhor caminho? - questiona, preocupado.
- Tenho! - afirmo, guardado os papéis em meu cofre pessoal, no meu escritório. - Será benéfico para ambos. Já que o contrato nos dá uma margem de 6 meses para anulação, caso não seja consumado o matrimônio e ambas as partes concordarem em desfazer o acordo, eu vou propor a jovem Najla que tenhamos uma relação amigável, sem contato físico, e no fim desse prazo estipulado no contrato, darei a ela uma bela quantia que a permitirá seguir sua vida onde desejar.
- Mas e o nome da moça, Samir? Ela ficará manchada, conhecida como a esposa devolvida, não pensou nisso, irmão?!
Suspiro, pensativo. Realmente esse fato não tinha me ocorrido.
- Bem, pelo que sei, essa jovem foi criada no Brasil, e lá eles não seguem os nossos costumes, então ela não terá problemas em se reerguer.
- E a família dela? Ou pior, e se ela se recusar a aceitar sua proposta? Vai negar à sua esposa um direito dela, de ser tratada como sua zawja?!
- Kafar, não me traga mais preocupações... - meneio a cabeça. - Estou em uma situação bem difícil, meu irmão. Eu não desejo este casamento, seremos dois infelizes vivendo sob o mesmo teto, sem construir um amor, sem que uma das partes queira isso.
- Irmão. - ele aperta o meu ombro e suspira. - Sei que não tenho experiência, sou o mais jovem dos irmãos, mal completei meus 23 anos, mas acredite, eu jamais me negaria ou negaria a uma esposa o direito de tentar, e você está negado isso a essa moça, sem nem sequer saber o que ela espera desse casamento. Talvez ela também não queira essa união, mas pense, e se com o tempo o amor surgir entre vocês?
- Meu irmão, eu não tenho intenção alguma de negar nada à essa moça, apenas não me vejo construindo algo com alguém dentro de um casamento que me foi imposto. Sempre deixei claro aos nossos pais o meu posicionamento sobre arranjos de casamento, e mesmo assim, nosso pai me obriga a aceitar tal acordo.
- Então foi por esse motivo que aceitou que os boatos sobre ser um homem rude, boêmio e inconsequente se espalhassem entre os comerciantes locais e empresários? - me olha, incrédulo.- Irmão, isso não se faz! Nenhuma família queria uma de suas filhas casadas com você, e foi tudo premeditado?!
- Eu não preciso de boa reputação, já que não almejo chamar a atenção dos patriarcas, mas confesso estar admirado com a coragem do Sr. Omar, que mesmo diante de tais boatos, aceitou seguir adiante com o acordo e entregar sua filha em minhas mãos. Ele realmente está disposto a conseguir dinheiro à qualquer custo, mesmo que para isso, tenha que entregar uma de suas filhas a um homem de má fama.
- Pelo que ouvi, ele não parece mesmo se importar com o que essa moça passará depois do casamento, pois o único intuito dele é obter o dinheiro do dote.
- Como, em um mundo tão avançado, ainda existem pessoas capazes de usar as próprias filhas como moedas de troca?! - meneio a cabeça, mas logo o meu telefone toca. - Preciso sair, irmão. Nos vemos em casa, para a cerimônia de assinatura e entrega do dote.
Meu irmão assente e nos despedimos.
Hoje Silvia chega ao Catar. Sei que será difícil essa nossa conversa, mas terei que esclarecer minha atual situação, e preciso fazer isso cara a cara, como um homem deve agir.
Saio da empresa e, como precaução, uso uma máscara para cobrir parte do rosto, pois não quero que me identifiquem e divulguem fotos minhas com outra mulher.
Sei, esse casamento será somente de faxada, mesmo assim não vou expor minha futura esposa a fofocas e nem quero que ela seja apontada na rua como a mulher traída.
Pretendo seguir a tradição e honrar esse compromisso, mesmo não o consumando, mas serei fiel ao acordo que firmei.
Assim que chego ao aeroporto avisto o motorista da minha família... mas que má sorte!
Ele me reconhece, mesmo com a máscara, e me cumprimenta, e descubro que, conscientemente ele está aqui para buscar a família do Sr. Omar, que acabou de desembarcar.
Me despeço dele e caminho como se fosse na direção oposta, mas uma cena intrigante me chama a atenção.
Uma moça, aparentemente mais velha, puxa com rispidez o hijab de uma outra, mais baixa e simples, que se desequilibra com o gesto e cai, mas a mais velha ainda atira longe o lenço da pobre moça, que parece desesperada por estar com os cabelos descobertos.
Vejo a moça no chão, e os mais velhos gritam com ela, que claramente está com o pé machucado. Me irrito com a situação, pois não tolero injustiça.
Caminho até um arbusto próximo, pego o hijab e o devolvo à moça, que cobre o rosto com os próprio cabelos, e se apressa em me agradecer e se cobrir novamente.
Sua voz é doce, mas parece triste.
Fico intrigado com a jovem, que sequer ergueu o olhar, enquanto as outras duas me olhavam com curiosidade e admiravam meu corpo. Sou homem e percebo tais olhares.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 71
Comments
Bell Belmonte
só espero que nem um documento esteja no nome de Najla
2025-02-20
0
Zenith Afonso
Mal sabe ele ,que ela ,é a prometida dele......
2025-02-23
0
Cristina Silva
Boa tarde você tem este livro em áudio 🔉
2025-02-13
0