Coincidência Amor
O despertador tocou. Era hora de levantar.
Eram 6 horas da manhã, era realmente a hora de acordar. Acordar para mais um dia que me aguardava. Saí da cama num pulo. Era uma rotina puxada, de fato. Deixar tudo pronto para que minha avó não tivesse tanto trabalho. Afinal, ela já dava um duro em cuidar do Caleb por mim.
Falando no Caleb, aquele pimpolho tinha que acordar para ir à escola. Enquanto preparava o café da manhã e boa parte do almoço para ajudar minha avó, percebi a figura do Caleb na soleira da porta da cozinha.
— Bom dia, mãe. — Caleb falou, abafando a boca com um bocejo logo em seguida.
— Bom dia, meu amor! — Me aproximei dele bagunçando seus cabelos loiros. — Corre pra o banho, senão vai se atrasar, hein!
Ele me abraçou rapidamente e seguiu para o banheiro, que não ficava tão distante. Na verdade, nossa casa era, tecnicamente, uma "caixa de fosforo". Dois quartos muito pequenos. Mal cabia a cama e o nosso guarda-roupas, que por sinal, estava balançando. Eu preciso dar um jeito nos pés.
Voltei a atenção à panela, que fervia um leite. Claramente não era suficiente para nós três, mas isso não era um problema para mim, eu já estava acostumada a me privar de coisas pela minha avó e pelo Caleb.
Estava tudo bem, eu já estava adaptada àquela vida. Ser mãe solteira não era nada fácil, mas eu amava aquela correria. Sentia-me útil, tanto para mim quanto para o meu filho e a minha avó. Era por eles que eu me esforçava tanto. Meu filho, por ser meu próprio e único filho, e minha avó, por ser a única a me apoiar e estar do meu lado em todos os momentos.
Falando nela!
— Bom dia, minha flor! — Ela abriu aquele sorriso contagiante. — Já disse que não precisa se preocupar com o almoço, eu posso dar um jeito nisso. — Ela tomou a frente, tirando a colher da minha mão. — Vá se arrumar para o trabalho,você não pode se atrasar.
— Mas vó... — Fiz um mini protesto, cruzando os braços, um protestoque não foi atendido por ela. — Quero ajudar, não posso deixar que a senhora tome conta de tudo. — Choraminguei na tentativa (falha) de persuadi-la.
— Para o banheiro. Agora e sem protestos. — Ela gesticulou em direção ao banheiro e cruzou os braços quando viu que não saí do lugar. Ela veio em minha direção, cutucando a minha barriga.
— Para, vó! — Gargalhei com a sensação de cocegas e corri para o quarto.
Às 07h30 eu pegava a condução que me levaria o mais próximo dacasa da minha patroa. Dona Cecília também era um excelente apoio para mim, sobretudo porque foi ela que aceitou meu trabalho quando eu estava grávida. Embora não tenha aceitado que eu trabalhasse quando a barriga estava grande, ela me deixou trabalhar durante boa parte da gravidez e depois me aceitou sem julgar ou dar sermão. Cecília sempre foi uma excelente patroa, eu não estava com ela há quase 6 anos por outro motivo.
Eu estava adentrando a casa de Cecília pela porta da área que dava acesso a cozinha às 7h59. Não antes de acenar para Jorge e Maria, jardineiro e lavadeira. Estranhei o fato de Maria estar na casa em plena segunda feira, ela só trabalha das quintas aos sábados, até às 12 horas. Não perguntei por que, é um tanto invasivo de minha parte levantar esse tipo de questão. Quando adentrei a cozinha,dona Cecília experimentava um café – que estava entregando o cheiro da esquina,praticamente.
— A senhora é muito teimosa, não é? — Cruzei os braços de frente a elaa vendo sorrir com as bochechas rosadas e saudáveis.
— Sabe que sempre tomo meu café cedo. Ah! E bom dia para a senhorita.— Ela sorriu experimentando o café e me encarando da cabeça aos pés. — Estámuito magra, Samira. Está tudo bem com você? — Ela perguntou e eu assenti com a cabeça. Na verdade, eu era magra, o peso máximo que já tive foi 51 kg. Atualmente, eu estava com 45. Pareço realmente desnutrida aos 22 anos e com peso de uma adolescente de 14, mas nunca me importei o bastante.
— Sempre fui magrela, dona Cecília. Já estive um pouco mais gorda, na gestação do Caleb, mas depois voltei ao meu peso normal. E não fuja do assunto,sua teimosa. — Sorri tomando a frente do fogão.
— Tá bem! — Ela rendeu-se com as mãos. — Não está mais aqui quem falou — Ela deu a volta no balcão para ficar de frente para mim, do outro lado dobalcão. —, quero dizer... Quem mexeu na sua cozinha. — Ela gargalhou.
Tomei conta dos meus afazeres. Dona Cecília estava radiante. Seu filho viria almoçar na casa dela, isso realmente era motivo para festejar, visto que Lúcio era um homem muito fechado e amargurado. Há quase seis anos eu trabalhava aqui, antes mesmo de eu ter engravidado do Caleb, e se eu o tiver visto três vezes, foi muito. Logo ele tinha uma vida complicada, de acordo com a dona Cecília. Segundo ela, ele teve o azar de casar com a mulher errada. Ao oposto disto, tinha a pobre Marie. Ela era uma menina linda e educada e, sinceramente, nem parecia ser filha de Lúcio. Talvez eu esteja julgando errado, mas não sei. Para quem tinhasó a mãe viúva, ele a visitava bem pouco.
Embora Marie estivesse todos os dias na casa da avó na parte da tarde, ele pouco vinha busca-la, a não ser seu motorista, Teodoro. Talvez fosse azar de Cecília. Ela tinha outro filho, o Carlos. Esse que não era visto, mesmo. Ele era afamosa "ovelha negra" da casa dos ricos e renomados Martins. Carlos vivia aos luxos, em viagens exuberantes e lugares luxuosos. Pobre Cecília. Já a vi ter discussões sérias com Carlos pelo telefone. Carlos superara Lúcio, com toda certeza.
Após deixar a mesa pronta para o café da manhã, esperei que dona Cecília viesse tomar café, mas não a encontrei. Alguns minutos mais tarde, ouvi à voz de Cecília vindo do lado da lavanderia. Ela estava conversando com Jorge sobre uma lista de compras a serem feitas no Supermercado do Messias. Ele tinha um supermercado no condomínio o qual dona Cecília morava.
Senti-me um pouco tonta. Estava faminta, mas eu tinha que me acostumar àquilo.
Voltei à cozinha para beber uma xícara de café. Encontrando Cecília, fiz isso o mais rápido possível. Ela sempre me oferecia alimentos, mas nunca gostei de parecer aproveitadora. Eu já aceitava o almoço porque passava quase o dia todo lá, eu não queria passar a impressão errada.
Tive muito o que pôr em ordem antes do almoço. Dona Cecília passou por mim, mastigando algo. Sorri pra ela ao vê-la sair da cozinha.
Voltei o olhar à macarronada já pronta e ouvi um copo cair, emitindo um alto barulho de cacos de vidro se espalhando pelo chão. Virei meu rosto em direção à mesa. Dona Cecília estava no chão.
Corri até ela e vi seus olhos revirarem, na medida que seu corpo se contorcia. Eu não sabia o que fazer, estava assustada e confusa com a rapidez do ocorrido. O medo me invadiu. Cecília estava roxa. Meu corpo começou tremer, dos meus olhos caiam lágrimas de desespero.
— Dona Cecília, consegue me ouvir?! — Comecei a perguntar. Sangue escorria de sua boca. Meu coração gelou. — Dona Cecília! — Comecei passar a mão pelo seu rosto.
— JORGE, POR FAVOR, VENHA AQUI! — Minha voz saía trêmula entre lágrimas. Não obtive resposta. — MARIA, A DONA CECÍLIA ESTÁ SE CONTORCENDO,CHAMA UMA AMBULÂNCIA! — Sem obter resposta de nenhum dos dois, corri ao balcão e peguei o telefone.
Foram os momentos mais estranhos e assustadores que vivenciei em toda minha vida, eu não sabia o que fazer. A atendente pedia vários documentos, eu não conseguia raciocinar e nem me levantar do chão. Eu sentia que não conseguiria salvá-la. Dona Cecília não tinha mais cor e, aos poucos, seus olhos estavam parados, olhando para pra mim. Aquilo dilacerou meucoração.
Não sei quando a ligação parou e nem se a mulher tinha entendido oque eu disse. Aproximei-me de Cecília, a segurei e coloquei sua cabeça sobre o meu colo. Eu nunca soube o que era perder alguém para a morte, daquela forma, na minha frente. Eu estava fora de mim, meu corpo estava paralisado. A vida começou a ter muito mais significado para mim a partir daquele momento.
Eu não estava enxergando nada, minha visão estava embaçada. Senti ser empurrada para longe. Ouvi vozes, mas não conseguia identificar. Meu corpo tremia por completo, eu estava com medo, era como se eu estivesse sofrendo um ataque de ansiedade.
Quando consegui abrir os olhos, senti uma pontada na cabeça. Vi uma equipe médica levar Cecília numa maca. Lúcio estava no chão, devastado e eu não fazia ideia de quando ele chegou ali. Seus olhos escuros me encaravam intensamente. Embora tivesse visto Lúcio apenas duas vezes, no máximo, seu rosto era inesquecível. E as fotos espalhadas pela casa me relembrava esse detalhe.
— O que você fez? — Ele ergueu-se do chão, me puxando para cima com um único gesto. Prendendo meu corpo contra a parede próxima à mesa. Seu olhar frio e coberto de ódio. Minha voz estava presa. Eu estava tomada por uma sensação de medo absurda. Eu não conseguia me mexer, era como se eu estivesse anestesiada de tudo.
Não consegui me manter acordada, eu apaguei antes mesmo de responder qualquer coisa.
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Atualizado até capítulo 95
Comments
maria fernanda
11/08/24. vamos ler/Drool//Drool//Drool/
2024-08-12
0
Thalia Hillary
😠
2023-10-03
2
Thalia Hillary
é muito bonito o nome ❤️🥰
2023-10-03
1