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Coincidência Amor

Capítulo 1- Lugar certo, hora errada

O despertador tocou. Era hora de levantar.

Eram 6 horas da manhã, era realmente a hora de acordar. Acordar para mais um dia que me aguardava. Saí da cama num pulo. Era uma rotina puxada, de fato. Deixar tudo pronto para que minha avó não tivesse tanto trabalho. Afinal, ela já dava um duro em cuidar do Caleb por mim.

Falando no Caleb, aquele pimpolho tinha que acordar para ir à escola. Enquanto preparava o café da manhã e boa parte do almoço para ajudar minha avó, percebi a figura do Caleb na soleira da porta da cozinha.

— Bom dia, mãe. — Caleb falou, abafando a boca com um bocejo logo em seguida.

— Bom dia, meu amor! — Me aproximei dele bagunçando seus cabelos loiros. — Corre pra o banho, senão vai se atrasar, hein!

Ele me abraçou rapidamente e seguiu para o banheiro, que não ficava tão distante. Na verdade, nossa casa era, tecnicamente, uma "caixa de fosforo". Dois quartos muito pequenos. Mal cabia a cama e o nosso guarda-roupas, que por sinal, estava balançando. Eu preciso dar um jeito nos pés.

Voltei a atenção à panela, que fervia um leite. Claramente não era suficiente para nós três, mas isso não era um problema para mim, eu já estava acostumada a me privar de coisas pela minha avó e pelo Caleb.

Estava tudo bem, eu já estava adaptada àquela vida. Ser mãe solteira não era nada fácil, mas eu amava aquela correria. Sentia-me útil, tanto para mim quanto para o meu filho e a minha avó. Era por eles que eu me esforçava tanto. Meu filho, por ser meu próprio e único filho, e minha avó, por ser a única a me apoiar e estar do meu lado em todos os momentos.

Falando nela!

— Bom dia, minha flor! — Ela abriu aquele sorriso contagiante. — Já disse que não precisa se preocupar com o almoço, eu posso dar um jeito nisso. — Ela tomou a frente, tirando a colher da minha mão. — Vá se arrumar para o trabalho,você não pode se atrasar.

— Mas vó... — Fiz um mini protesto, cruzando os braços, um protestoque não foi atendido por ela. — Quero ajudar, não posso deixar que a senhora tome conta de tudo. — Choraminguei na tentativa (falha) de persuadi-la.

— Para o banheiro. Agora e sem protestos. — Ela gesticulou em direção ao banheiro e cruzou os braços quando viu que não saí do lugar. Ela veio em minha direção, cutucando a minha barriga.

— Para, vó! — Gargalhei com a sensação de cocegas e corri para o quarto.

Às 07h30 eu pegava a condução que me levaria o mais próximo dacasa da minha patroa. Dona Cecília também era um excelente apoio para mim, sobretudo porque foi ela que aceitou meu trabalho quando eu estava grávida. Embora não tenha aceitado que eu trabalhasse quando a barriga estava grande, ela me deixou trabalhar durante boa parte da gravidez e depois me aceitou sem julgar ou dar sermão. Cecília sempre foi uma excelente patroa, eu não estava com ela há quase 6 anos por outro motivo.

Eu estava adentrando a casa de Cecília pela porta da área que dava acesso a cozinha às 7h59. Não antes de acenar para Jorge e Maria, jardineiro e lavadeira. Estranhei o fato de Maria estar na casa em plena segunda feira, ela só trabalha das quintas aos sábados, até às 12 horas. Não perguntei por que, é um tanto invasivo de minha parte levantar esse tipo de questão. Quando adentrei a cozinha,dona Cecília experimentava um café – que estava entregando o cheiro da esquina,praticamente.

— A senhora é muito teimosa, não é? — Cruzei os braços de frente a elaa vendo sorrir com as bochechas rosadas e saudáveis.

— Sabe que sempre tomo meu café cedo. Ah! E bom dia para a senhorita.— Ela sorriu experimentando o café e me encarando da cabeça aos pés. — Estámuito magra, Samira. Está tudo bem com você? — Ela perguntou e eu assenti com a cabeça. Na verdade, eu era magra, o peso máximo que já tive foi 51 kg. Atualmente, eu estava com 45. Pareço realmente desnutrida aos 22 anos e com peso de uma adolescente de 14, mas nunca me importei o bastante.

— Sempre fui magrela, dona Cecília. Já estive um pouco mais gorda, na gestação do Caleb, mas depois voltei ao meu peso normal. E não fuja do assunto,sua teimosa. — Sorri tomando a frente do fogão.

— Tá bem! — Ela rendeu-se com as mãos. — Não está mais aqui quem falou — Ela deu a volta no balcão para ficar de frente para mim, do outro lado dobalcão. —, quero dizer... Quem mexeu na sua cozinha. — Ela gargalhou.

Tomei conta dos meus afazeres. Dona Cecília estava radiante. Seu filho viria almoçar na casa dela, isso realmente era motivo para festejar, visto que Lúcio era um homem muito fechado e amargurado. Há quase seis anos eu trabalhava aqui, antes mesmo de eu ter engravidado do Caleb, e se eu o tiver visto três vezes, foi muito. Logo ele tinha uma vida complicada, de acordo com a dona Cecília. Segundo ela, ele teve o azar de casar com a mulher errada. Ao oposto disto, tinha a pobre Marie. Ela era uma menina linda e educada e, sinceramente, nem parecia ser filha de Lúcio. Talvez eu esteja julgando errado, mas não sei. Para quem tinhasó a mãe viúva, ele a visitava bem pouco.

Embora Marie estivesse todos os dias na casa da avó na parte da tarde, ele pouco vinha busca-la, a não ser seu motorista, Teodoro. Talvez fosse azar de Cecília. Ela tinha outro filho, o Carlos. Esse que não era visto, mesmo. Ele era afamosa "ovelha negra" da casa dos ricos e renomados Martins. Carlos vivia aos luxos, em viagens exuberantes e lugares luxuosos. Pobre Cecília. Já a vi ter discussões sérias com Carlos pelo telefone. Carlos superara Lúcio, com toda certeza.

Após deixar a mesa pronta para o café da manhã, esperei que dona Cecília viesse tomar café, mas não a encontrei. Alguns minutos mais tarde, ouvi à voz de Cecília vindo do lado da lavanderia. Ela estava conversando com Jorge sobre uma lista de compras a serem feitas no Supermercado do Messias. Ele tinha um supermercado no condomínio o qual dona Cecília morava.

Senti-me um pouco tonta. Estava faminta, mas eu tinha que me acostumar àquilo.

Voltei à cozinha para beber uma xícara de café. Encontrando Cecília, fiz isso o mais rápido possível. Ela sempre me oferecia alimentos, mas nunca gostei de parecer aproveitadora. Eu já aceitava o almoço porque passava quase o dia todo lá, eu não queria passar a impressão errada.

Tive muito o que pôr em ordem antes do almoço. Dona Cecília passou por mim, mastigando algo. Sorri pra ela ao vê-la sair da cozinha.

Voltei o olhar à macarronada já pronta e ouvi um copo cair, emitindo um alto barulho de cacos de vidro se espalhando pelo chão. Virei meu rosto em direção à mesa. Dona Cecília estava no chão.

Corri até ela e vi seus olhos revirarem, na medida que seu corpo se contorcia. Eu não sabia o que fazer, estava assustada e confusa com a rapidez do ocorrido. O medo me invadiu. Cecília estava roxa. Meu corpo começou tremer, dos meus olhos caiam lágrimas de desespero.

— Dona Cecília, consegue me ouvir?! — Comecei a perguntar. Sangue escorria de sua boca. Meu coração gelou. — Dona Cecília! — Comecei passar a mão pelo seu rosto.

— JORGE, POR FAVOR, VENHA AQUI! — Minha voz saía trêmula entre lágrimas. Não obtive resposta. — MARIA, A DONA CECÍLIA ESTÁ SE CONTORCENDO,CHAMA UMA AMBULÂNCIA! — Sem obter resposta de nenhum dos dois, corri ao balcão e peguei o telefone.

Foram os momentos mais estranhos e assustadores que vivenciei em toda minha vida, eu não sabia o que fazer. A atendente pedia vários documentos, eu não conseguia raciocinar e nem me levantar do chão. Eu sentia que não conseguiria salvá-la. Dona Cecília não tinha mais cor e, aos poucos, seus olhos estavam parados, olhando para pra mim. Aquilo dilacerou meucoração.

Não sei quando a ligação parou e nem se a mulher tinha entendido oque eu disse. Aproximei-me de Cecília, a segurei e coloquei sua cabeça sobre o meu colo. Eu nunca soube o que era perder alguém para a morte, daquela forma, na minha frente. Eu estava fora de mim, meu corpo estava paralisado. A vida começou a ter muito mais significado para mim a partir daquele momento.

Eu não estava enxergando nada, minha visão estava embaçada. Senti ser empurrada para longe. Ouvi vozes, mas não conseguia identificar. Meu corpo tremia por completo, eu estava com medo, era como se eu estivesse sofrendo um ataque de ansiedade.

Quando consegui abrir os olhos, senti uma pontada na cabeça. Vi uma equipe médica levar Cecília numa maca. Lúcio estava no chão, devastado e eu não fazia ideia de quando ele chegou ali. Seus olhos escuros me encaravam intensamente. Embora tivesse visto Lúcio apenas duas vezes, no máximo, seu rosto era inesquecível. E as fotos espalhadas pela casa me relembrava esse detalhe.

— O que você fez? — Ele ergueu-se do chão, me puxando para cima com um único gesto. Prendendo meu corpo contra a parede próxima à mesa. Seu olhar frio e coberto de ódio. Minha voz estava presa. Eu estava tomada por uma sensação de medo absurda. Eu não conseguia me mexer, era como se eu estivesse anestesiada de tudo.

Não consegui me manter acordada, eu apaguei antes mesmo de responder qualquer coisa.

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Capítulo 2- Culpada sem culpa

Eu senti um impulso, foi como um susto. Ergui o corpo para frente me fazendo acordar imediatamente. Era aquele famoso susto que nos dizem  que estamos crescendo, mas de uma forma mais intensa, eram como espasmos. Ergui meu corpo passando as mãos sobre meus cabelos soltos. Demorei um pouco pra raciocinar, pra entender onde  estava. Aos poucos flashes e memórias começaram surgir, e foi devastador lembrar o que tinha acontecido. Minha primeira reação foi levantar da cama com um pulo, mesmo ficando tonta e caindo logo em seguida. Não conseguia e não podia acreditar no que tinha acontecido, não conseguia aceitar que fui testemunha ocular da morte da minha patroa, eu não posso negar, estou com medo.

Uma enfermeira abriu a porta e quando percebeu meu estado ela veio correndo em minha direção logo que me viu sentada tentando erguer meu corpo que parecia pesado e fraco.

— O que aconteceu? A senhorita está bem?— Ela questionou segurando-me passando meus braços por seu pescoço. Meu estômago doeu, minha barriga estava tão vazia que eu sentia a pele praticamente grudada nos ossos. Forcei a mente e os sentidos a tentar saber qual horário do dia e qual dia era. Vi um calendário próximo a cama do hospital. Tentei entender como eu havia parado lá, eu não tinha memórias após ocorrido já que acabei apagando totalmente após sentir Lúcio me pressionar contra a parede. Meu corpo estremeceu ao recordar daquele detalhe.

— Vou chamar o médico rapidamente para que ele faça um checkup seu e diga quanto tempo vai precisar ficar em observação. Já posso adiantar que segundo o que ele falou você está com a saúde muito fraca, precisa de nutrição e também está anêmica.

Agradeci quando ela saiu minutos depois, após comentar sobre minha saúde que tava uma droga. Aproveitei a oportunidade para devorar a fruta que estava na bandeja próximo a cama. Comi a maçã com tanta força e determinação que não foi um minuto para ela ter sido engolida. Vi uns biscoitos logo ao lado, os engoli de uma vez. Meu estômago doía a cada pedaço que descia, mas forcei meu corpo a aceitar pelo menos isso nesse momento. já que não tinha ideia de quanto tempo estava sem me alimentar.

Depois de ter me recuperado um pouco e me sentir um pouco melhor, segui direção a porta não esquecendo de olhar aos arredores e constatar que não via ninguém. Afinal, de quem eu fugia? Nem isso eu saberia responder. Meus pensamentos me guiaram ao Caleb. Respirei pesado ao lembrar-me do meu filho.

Meu Deus! Meu filho, quanto tempo ele estava sozinho com a vó? Meu Deus!

Passei a correr pelo corredor sem nem saber para onde ir, enquanto virava o corpo seguindo o corredor para o lado esquerdo meu corpo chocou com algo rígido, o que me fez cair ao chão.

— Hum!— Soltei um grunhido, enquanto rastejava tentando me fortalecer para voltar a estar de pé novamente. Ergui as mãos sentindo um líquido quente por meus dedos. Pra melhorar a situação tinha cortado a testa de alguma forma. Estava com a visão um pouco turva, mas consegui aos poucos focar nos meus dedos, vendo sangue sobre eles.

— Droga!— Resmunguei cambaleando.

— O que acha que está fazendo?— Uma voz grave me tirou do meu momento constrangedor rastejante pelo chão. — Onde pensa que está indo?— Senti meu corpo ser levantado com uma facilidade impressionante. Quando meus olhos focaram a frente eu reconheci quem era. Lúcio!

Droga!

As coisas se tornariam bem pior com certeza. Meus braços começaram doer, pois Lúcio permanecia com suas mãos segurando-os. Aparentemente ele não tinha noção da força que usava com aquilo.

— Você é doida? Sua cabeça está desmanchando em sangue. — Eu queria dizer... "Meu braço tá doendo" ou "Afrouxa a mão um pouco, vai quebrar meus braços". Mas estranhamente Lúcio era muito predominante, eu não conseguia nem falar perto dele. Era uma sensação assustadora. Ele passava a sensação de poder e força que amedrontaria qualquer um.

Suspirei sentindo a cabeça latejar novamente. Eu estava preocupada com meu filho, era o pensamento principal na cabeça.

— Pode me soltar? Está me machucando. — Falei.

É eu falei!

Tive um esforço para a frase sair, e principalmente depois quando vi seus olhos fixos sobre mim como se visse algo sobrenatural à frente. Aparentemente até ele assustou-se ao ouvir minha voz. Lúcio me soltou, e por um segundo eu pensei que seria melhor ele ter segurado, minhas pernas não tinham tanta força o que me fez tombar sobre o chão. Ele tentou impedir mas foi tarde de mais, já estava no chão. Me esforcei até ficar de pé.

Vi ele me encarar de olhos estreitos aparentemente perguntando algo, mas eu mesma não queria nem saber. Dei as costas para ele seguindo meu caminho até ser puxada pelo meu casaco. Vi ele interceptar a minha frente.

— Você não vai a lugar algum, você não sabe o que aconteceu? Minha mãe está morta. — Lúcio passou a falar de dentes serrados e visivelmente com ódio. Eu entendia a parte dele. Parei a tentativa de sair ao lembrar de dona Cecília. Suspirei sentindo o meu coração se apertar imediatamente.

— Olha Senhor Lúcio eu...— Pausei controlando a respiração que começara acelerar.— Eu sinto muito, a Cecília foi uma das mulheres mais importantes da minha vida eu ainda não consigo entender eu...— Limpei o rosto.— Eu não consigo acreditar.

Lúcio pareceu tremer um pouco, ele virava o rosto direção contrário tentando não deixar que eu visse o que ele estava sentindo. Era notório, ele tinha uma fachada de inabalável. Talvez fosse daqueles homens que nunca seriam capazes de chorar na frente de uma mulher. Mas seus olhos fixos e intensamente pretos me encararam novamente e ele passou a aproximar de mim. Senti-me um vira-lata na rua com medo de tudo e todos. Eu não sei talvez eu estivesse esperando um tapa de alguém. A dona Cecília estava morta, eu acho que ele me culparia por algo, eu sentia. E seu olhar entregava isso, ele parecia com raiva, ódio.

Ele parecia controlar-se, seu corpo estava em posição de ataque, mas ao mesmo tempo de controle. Ele assustaria qualquer um com aquela forma rígida de tomar a minha frente. Eu não poderia ser a única a achar isso. Recuei para trás aos poucos sentindo ele me acompanhar a cada passo dado para trás. Parei bruscamente quando senti uma parede por detrás me fazendo voltar com um impulso.

— Espera!— Usei as mãos com as palmas abertas o impedindo de prosseguir. — Não é o que vo... — Parei bruscamente engolindo ar seco ao perceber que o chamaria de você. — Não é o que o senhor está pensando, não é nada disso. Acredite nem eu mesma que estava lá não sei como aquilo veio a acontecer.

Lúcio cruzou os braços de forma determinada sem parar em nenhum momento de me encarar. Eu já estava me sentindo incomodada. Eu só queria voltar pra casa, eu queria vê meu filho queria vê minha vó.

— Eu sei que pode parecer estranho, mas eu não fiz nada que machucasse a senhora Cecília, ela era como uma mãe pra mim, nunca senti raiva dela em nenhum momento desses quase seis anos em que estive com ela.

Lúcio me observou com muita atenção mesmo parecendo controlar seu corpo, ele estava prestes a dizer algo mais, e isso me assustava, o que ele tinha a dizer?

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Capítulo 3- Injustiça

— Olha garota!— Ele voltou puxar meu braço direito. Seu telefone tocou. Vi ele fazer uma careta e resmungar soltando meu braço pra encarar o visor do chamador. — O que é?— Sua voz saiu grave e séria. Lúcio parecia totalmente sem humor algum.

— Eu já disse que não Gabriela. Siga a sua vida e me deixe com os meus problemas, não era isso que você queria?

Enquanto ele falava o que parecia ser com sua esposa ou ex-esposa , Eu não entendia ao pé da letra o estado atual dele e a mãe da Marie. Percebi o curto período em que ele deu atenção fixa ao que ouvia no telefone. Aproveitei a oportunidade para finalmente fugir daquela situação, mas Lúcio ao contrário do que eu pensei me puxou novamente pelo pulso me virando contra a parede novamente enquanto praticamente pedia em pensamento que a ligação finalizasse logo. Minhas costas doeram no exato momento em que senti ser presa contra a parede.

— Hum!— Resmunguei. Usei a mão esquerda que estava livre para puxar os cabelos que estavam sobre meu rosto para trás. Conseguindo ter uma visão melhor. Algumas mechas estavam grudadas com o bendito sangue que escorreu quando caí batendo a cabeça no chão. Não tinha percebido que tinha sido tanto os danos.

— Garota acredito que você ainda não entendeu a gravidade da situação, a minha mãe morreu. Você era a única testemunha e suspeita do acontecido, não sei se compreendeu, mas você não pode sair daqui até que tenhamos resultado. — Ele começou falar até que entendi que era comigo, ele tinha desligado o celular tão rápido que eu não tinha visto quando. Ele cruzou os braços novamente. — Eu quero, e é o meu direito saber a causa da morte. Era a minha mãe.

Fiquei sem nexo por longos segundos. Eu não podia acreditar naquilo, não conseguia entrar na minha cabeça que eu estava sendo acusada de ser suspeita a morte de dona Cecília. Eu nunca eu jamais faria aquilo com alguém. Não faria nem com um inimigo quanto mais com dona Cecília. Soltei um soluço sentindo algumas lágrimas surgirem. Dona Cecília era uma mulher de importância na minha vida, e além do mais, o que eu ganharia matando-a?

Sentei no chão daquele corredor frio. Eu estava preocupada, eu estava com medo, eu estava ficando desesperada. Se eu for acusada disso eu não vou poder sair da cadeia nunca. Quem eu sou? Quem acreditaria na domestica? Minha vida se tornaria um caos. Aos poucos senti que estava em completo desespero. Minhas mãos tremiam.

Meu filho!

Meu Deus!

Meu filho!

Eu tenho uma criança, a sua infância seria afetada se algo assim explodisse. Minha vida seria um caos.

Minha vó!

Por um mal entendido muitas vidas seriam afetadas. Eu não podia permanecer ali, eu tinha que encontrar o meu filho, eu tinha que dá um jeito. Comecei ficar cada segundo mais nervosa, pois percebia que quanto mais pensava no assunto, mais eu entendia a gravidade da situação.

— Eu não fiz aquilo. — Minha voz saiu como um sussurro. Vi que Lúcio olhou para mim imediatamente. — Senhor Lúcio, eu realmente não fiz aquilo, o senhor precisa acreditar em mim. Eu jamais mataria uma pessoa, eu jamais mataria a sua mãe!— Levantei do chão aos arrastos.

Eu sinceramente estava horrível, tinha me alimentado muito mal, eu me sentia fraca, a minha preocupação estava a mil. Meu peito começara a doer, era uma dor assustadora, uma dor insuportável, eu parecia que estava prestes a ter um ataque cardíaco. Minha frequência sanguínea parecia descontrolar, eu estava gelando, estava ficando sem forças, minhas mãos não pareciam ter sangue, eu não sabia mais nem o que estava sentindo.

Antes que pudesse raciocinar, caí ao chão novamente. Eu não estava totalmente desacordada, mas estava ficando cada vez mais distante. Eu não conseguia respirar com facilidade, meu peito doía desesperadamente. Uma tontura absurda não parecia ter fim. Senti ser erguida do chão rapidamente, mas não conseguia vê com clareza nem entender o que falavam. Meus ossos estavam doloridos, era como se tivesse sido atropelada por algum carro. Parecia que as vozes estavam distantes, era como dentro de um túnel. Eu sentia girar, era como se fosse cair a qualquer segundo.

Eu não sei o que houve depois.

Acordei novamente, e estava completamente confusa. Puxei o meu braço direito sentindo ele dolorido. Quando meus olhos conseguiram enxergar melhor eu quis gritar de desespero.

— Porque estou algemada?— Me debati contra a cama desesperada.

Duas enfermeiras adentraram o quarto, mas ambas pareciam com medo de se aproximar de mim. Minha respiração estava acelerada, eu estava nervosa.

— O que está acontecendo, porque estou algemada?— Questionei vendo que ambas estavam voltando direção a porta. Eu não fazia ideia do que a minha vida se tornaria, o que estava pra acontecer com a minha vida.

No dia seguinte fui levada a uma delegacia algemada me sentindo um lixo. Era vergonhoso pra mim passar por tudo aquilo. As notícias rodavam por todos os lados da cidade. Eu era oficialmente a suspeita número um do assassinato de Cecília Martins. Até o que se sabe, não fora uma morte por causas naturais já que eu estava sendo acusada.

Fui deixada numa sala de interrogatório por mais ou menos duas horas seguidas, sozinha apenas a mesa e o vidro que dava visão ao outro lado. Parecia cena de filme, já tinha visto aquilo na Tv, mas jamais passou por mim a ideia de que passaria por aquilo um dia. Estava com tanto medo, aos 22 anos mãe solteira e acusada de assassinato. Deus! Era assustador de mais pra mim. Eu via a dona Cecília a todo instante, as memorias eram assustadora. Eu não conseguia dormir só de pensar no ocorrido, Cecília era uma patroa tão boa, eu não conseguiria acreditar naquilo. Meu corpo tremia quando eu sonhava com o ocorrido, era como se estivesse presa e não pudesse fazer nada para melhorar minha situação. Meu coração ficava tão acelerado que doía respirar.

Não sei quanto tempo passou, mas uma mulher e um homem adentraram a sala. Eles me encararam como se vissem uma assombração.

— Samira Santos não é isso?— A mulher fez aquela típica pergunta retorica, óbvio que ela sabia meu nome. — Quero que conte tudo que aconteceu naquele dia.— Eu os encarei  totalmente desgastada.

— Não sei se vale muito a pena dizer algo, o que te faz pensar que acreditará em mim?— Eu perguntei sondando sua resposta.

— A verdade! Ela ganha onde quer que vá. — Ela disse.

— Me desculpe, mas do mundo em que venho o dinheiro vale muito mais do que à verdade, se for um mau que cubra outro maior, o dinheiro ganha. Não venho desse mundo fantasioso onde as pessoas acreditam nas palavras de alguém da classe c.— A respondi imediatamente. Ela pareceu sentir o peso das palavras. — O que eu ganharia matando a galinha dos ovos de ouro? Era minha patroa, acha que pra uma mãe solteira aos 22 acrescentar o desemprego traria que bondade a minha vida?—As palavras escorregaram de minha boca com muita facilidade, eu só poderia estar ficando louca. Estava querendo ser presa pelo resto de minha vida?

— Você é ingênua, está querendo dizer que somos comprados?— Ela perguntou delicadamente.

— Não precisaria ficar afetada se não cai a você o que eu disse. — Virei o rosto direção ao vidro.

— Então me explique como Cecília foi morta envenenada por outra pessoa se você era a única com acesso a cozinha e aos alimentos?

Fiquei tonta imediatamente ao ouvir a

palavra "ENVENENADA"

Cecília tinha sido envenenada? Minha cabeça não quis aceitar aquela frase. Eu realmente estava sendo acusada, eu realmente estava sendo a única suspeita, eu era a cozinheira da casa, como aquilo pôde acontecer? Era como se o céu tivesse caído por minha cabeça, eu não conseguiria me salvar daquilo. Eu temia o que aconteceria comigo a partir dali.

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