Padre Max
Mando ela entrar e falar com a irmã Maria para esconde-la na minha sala, lá é um bom lugar para ela ficar, caso eles venham perguntar por ela e querer revistar a igreja.
Mas, assim que ela entra e fecha a portinha, um carro preto passa pela igreja, eu me abaixo para colocar a comida no pote para os pets, e fico olhando para eles pelo canto dos olhos, não demonstrando que vi nada.
Eles passam bem de vagar, e param um pouco, e me chamam duas vezes até que eu responda.
— ei padre, viu uma garota correndo por aqui? — ele fala em tom de zombaria, como se fosse impossível eu não ver alguma correndo na rua.
Deus, me perdoe pela mentira, mas ao ver o carro cheio de homens, eu já imagino o que eles querem fazer com ela, e isso é uma abominação, já que ela parece uma menina, e eles um bando de marmanjo escroto.
— ela passou correndo, para lá, mas não sei para onde foi depois disso. —Falo apontando mais para frente com a .ao que estou segurando o pote, eles olha para a direção, e volta a me perguntar:
— tem certeza padre, ela é uma garota que chama muita atenção, não tem como o senhor não ter olhado bem para ela, se bem que dizem que padre é capado, isso é verdade?
Ele começa a dar risada, e o motorista da um cutucão nele, e diz que eu sou padre, e padre não repara em mulher dessa forma. Se eu fosse um homem vulgar, tiraria a dúvida dele sobre padre ser capado.
O que falou de mim, está mais que certo, pelo menos um deles tem a noção da vida. Não respondo mais nada, não preciso ficar inventando histórias, uma mentira já basta, e quando você começa, parece que não para mais, então, melhor é eu me calar.
— então valeu Padre, domingo nós tá aí na missa ta ligado, mas ó, deixa eu mandar o papo, o bagulho é o seguinte, se a mina vier aí pedir ajuda, liga para nós, pois ela é nossa, ela é do comando tranquilo?
Não suporto essas gurias malucas, a pessoa tem a condição de estudar em uma escola pública, sem pagar nada para aprender a falar direito, não sei pra que estragar tanto o português dessa forma.
O mais engraçado de tudo, é que dinheiro para sustentar as drogas e toda sua ostentação eles tem, mas não tem para uma educação, para falar como pessoas civilizadas.
Eles ainda olham para a porta da igreja, talvez pensando que eu não esteja falando a verdade, mas quem não confiaria em um padre? Me sinto até mal por isso, mas sei que foi por uma boa causa. Então, eles seguem caminho, sem olhar para trás.
Bato a mão no pote para sair todo o alimento, e nessa hora vem os doguinhos para comer. E eles comem em desespero, como se essa fosse a única refeição do dia.
Todos os dias nesse mesmo horário eu trago comida para eles, mesmo que eu não tenha a ração, eu dou o que comemos. Sei que não é bom dar comida de gente, mas pior é eles ficarem com fome. E sei que se eu não der, será mais um dia que eles passaram com as costelas aparecendo, e a barriga roncando.
Espero eles terminarem de comer, e eles comem tudo, lambendo o pote. Acaricio as suas cabeças, muitas pessoas passam por eles e nem os notam, como se fosse nada, como se fosse um lixo a ser deixado lá no canto esperando que o lixeiro os leve embora.
Mas para Deus, todos são seres vivos, os animais são tem maldade igual os homens e é isso que eu mais gosto. O amor deles é verdadeiro, não tem falsidade, e nem ganância. Não fazem mal a ninguém.
Assim que eles terminam, eles começam a se aconchegar para dormir no pano que eu coloquei para que eles não tenham que dormir no chão frio, e entro na igreja.
Eu preciso saber do porque aqueles caras estavam atrás dela, quem ela e onde mora. Ela parece uma menina, seus pais devem está preocupados procurando por ela.
Vou até a salinha e vejo a menina sentada com seus cotovelos em cima da perna, e suas mãos no rosto, chorando em desespero, bate uma pena, e só de imaginar o que ela iria passar, me dá um aperto no peito.
— agora você pode me contar o que está acontecendo, porque estava correndo, e quem são aqueles caras.
Ela se assusta dando um pulo na cadeira, ela me olha firme com seus olhos vermelhos cheios de lágrimas.
— por favor, me deixe ficar somente essa noite aqui padre, eu juro que amanhã eu vou embora, não vou arrumar problemas para o senhor, eu juro, mas eu não posso voltar agora, eles vão me pegar e... E... — Ela volta a chorar mais forte dessa vez, sem me aproximar, vou olhando para ela, seus traços são bem delicados de uma menina mesmo.
E pela primeira vez sinto aquele desejo de proteger alguém de todo mundo, pois ela está com tanto medo, que seus olhos chegam a saltar para fora, seu corpo todo está trêmulo, da pra ver sua respiração ofegante. Nunca vi alguém dessa forma antes. Então, decido que ela fica, já que está muito tarde para mandar ela ir embora.
— pode ficar essa noite, vou falar com a irmã Maria para te colocar em um dos quartos aqui da igreja, mas, eu preciso saber de tudo que passou, e não me esconda nada, pois mesmo que você minta para mim, Deus está vendo tudo lá de cima.
Conversamos por mais um pouco, tento descobrir o porquê ela está aqui, e ela vai contando em detalhes cada coisa que lhe aconteceu.
Cada palavra dela é como uma facada, não entendo como uma mãe pode fazer uma atrocidade dessa com uma filha, não entendo o porque vender a filha de tal forma.
Eu tento acalmar ela com as palavras de consolo, mas ela está com tanto medo que eu a mande embora, que sempre fala comigo em súplicas. Mas, o pior acontece.
Ela se levanta e vem me abraçar, eu não abraço ninguém, não gosto que ninguém me toque.
Abro os meus braços para não tocar nela, ela demora mas percebe que eu não estou retribuindo o abraço.
— descubra padres eu não devia...
— saia daqui... Agora.
Elas sai correndo, tropeçando em seus pés. Retiro a camisa que ela me abraçou e coloco ela na cesta para lavagem e pego outra no armarinho que eu tenho aqui na sala.
Odeio quando isso acontece, odeio abraços de pessoas. Odeio.
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Atualizado até capítulo 94
Comments
Ivanilde T. Serra
Acho bom você revelar a verdade pra nós padre
2024-12-19
0
Fernanda
lendo essa obra maravilhosa pela 5° vez.
amoooooooooooooooooo./Drool//Drool//Drool/
2024-11-20
1
Eliana Regina da Silva
i padre tem toc
2025-01-28
0