Esquadrão // Família

— Licença! Carregador passando!

Uma enorme baleia espectral tinha em suas costas os últimos materiais necessários para a reconstrução da mansão Yamazaki, sendo guiada por uma bruxinha emocionada com o vento passando em seus cabelos. O grande espectro, nadando em pleno ar, chegava ao seu destino, lentamente descendo e trespassando o chão, suavemente deixando os materiais e sua guia no solo.

— Luke, joga pra cá!

— Entendi~

Antes que pudesse pegar um dos blocos, uma mão surgia debaixo do dragão e o puxava até ficar apenas com a cabeça para fora do chão, que estava um pouco liquido. Surgindo do mesmo ponto, vinha o humano ainda semitransformado, pegando todos os materiais de uma vez com suas mãos de gigantes para então deixar dentro da construção.

— Isso é por não ter me ajudado com as crianças.

— Vai se lascar pra outro canto, Boris!

Poucos minutos se passavam, e depois de duas árduas semanas, o vilarejo Yokai estava reerguido ao redor de Camlann, a mansão-castelo de Mordred, dando fim ao processo de junção as forças do príncipe.

— Quer fazer as honras, Yakko-chan?

A matriarca da família Yamazaki encarava sua filha com orgulho, vendo a força dela aumentada com mais uma cauda, demonstrando ter cada vez mais experiência e sabedoria. Mesmo a vendo dessa forma, era notável o quão animada estava a kitsune com cores de morango, pegando o espelho da família em suas mãos enquanto canalizava todo seu núcleo mágico para a execução do ritual que vinha a seguir.

Susan, Miriam e Harlot estavam já esperando para ver o tal grande evento qual foram convidadas, enquanto Mordred, Joann, Luke e as crianças arrumavam o grande tapete ilustrado que iria ficar na parede.

Boris, depois de tanto esforço e ainda se recuperando dos ferimentos, mesmo que já quase cicatrizados, estava em sua forma felina observando tudo ao redor com seu instinto em seu ápice, não mais deixando a guarda baixa para evitar confrontos desnecessários e, quem sabe, encontrar alguma comida que deixaram por ali.

“Fazem quantos anos desde que não sentia essas necessidades humanas? Contando que estou com uns dezoito, no mínimo uns nove. Essas sequelas que a calamidade deixou, tenho certeza de que ultrapassam apenas os ferimentos físicos. Me sinto mais humano do que nunca, tão frágil e forte ao mesmo tempo. Hehe, como eu amo acertar nas minhas decisões”

Argumentava consigo mesmo enquanto olhava a dança da raposa em sua forma hibrida, além de notar as reações únicas dos membros de sua nova família. Sentindo uma exaustão de tantas transformações naquele dia, um treino que havia voltado a fazer, se enrolava como qualquer outro gato, fechando os olhos para cair num sono pesado, ronronando.

“Shinshin o michibiki, watashitachiha sekai no bēru o tōrinuke, jikan to kūkan no genkai o koe, jigen-kan no mugen no hirogari ni mukete tabi o tsumugimasu.”

Com o proferir da sacerdotisa que dançava elegantemente junto do espelho, uma magia espacial de alto grau espalhava por toda a nova instalação, concedendo a infinidade entre os planos material e espiritual, dando o aspecto tão especial para o casarão mais uma vez. 

— YATTA!!!

Depois do ritual ter sido feito com sucesso, um raio solar saia diretamente do espelho, iluminando completamente o ambiente, passando essa luz para toda a vila e o castelo.

Como recompensa na ajuda do abate da calamidade e a proteção dos seus, mesmo que não exigida, a deusa sol entregou sua benção para cada um que estava naquela área, evoluindo suas raças junto de uma alta proteção. Para aqueles que já estavam no estopim de sua raça, ganharam um novo espectro para suas armas e magias, o espectro laranja, que carregava consigo as chamas causadas pelo sol ardente.

Para aquele que já possuía ambos...

Tudo que ganhava era um pequeno carinho em sua cabeça, o suficiente para poder dormir tranquilo.

— O que foi isso?!

— Uma benção, ou melhor, um conjunto delas. — A líder da vila, Makoi, tragava um pouco mais de seu cachimbo antes de completar. — Acho que a trindade estava devendo um cado para alguma pessoa. Bem, não vou ter paz até que todo mundo se acostume com as novas formas, que merda. — Levantava, olhando exatamente para onde estava a nova encarnação do seu antigo amigo. — Vou ver o que posso adiantar por enquanto, depois, Shiba, é melhor você cuidar dos problemas no meu lugar!

— Tá bom, sua velha caduca, eu já vou.

— Pode repetir o que falou?

Uma técnica de morte instantânea estava chegando perto do pescoço do grande Oni azul, que apenas a refletia com sua espada.

— Eu vou depois, tenho que conversar ainda, sua shinigami ultrapassada!

— Haha, ao menos você ficou um pouquinho mais forte. Tem outro compromisso marcado, assim que o sol bater o horizonte.

A shinigami saia do casarão, em direção ao norte da vila. O general colocava a mão na sua testa enquanto bufava, sabendo que teria de ir pra mais um duelo devido a sua língua incontrolável, bem como é a do seu pai.

Deixando o problema de lado, reunia-se junto do seu amigo de infância e sua esposa, os Yamazaki, para uma discussão decisiva com o mais novo senhor de todo aquele espaço, o vampiro ruivo.

— Mordred-dono, pode vir conosco?

— Claro.

O lorde carmesim seguia os três seres até um cômodo confortável, Saquê disposto para cada um deles, junto de uma pequena mesa e alguns copos quadrados. No entanto, o ambiente da sala era um pouco intimidador para o ruivo, que apenas abria um sorriso e fechava os olhos para perguntar:

— No que posso ajudar?

— Pode ficar mais relaxado, garoto. — O general de sobrancelhas grossas abria um sorriso enquanto dava um tapa no seu amigo ao lado, que estava deixando sua preocupação extravasar — É apenas uma troca de favores, queremos que leve nossos filhos com você, em troca, vamos te dar alguns presentes. Simples, não? 

— É… — Mordred estava claramente desconfortável. — Eu vou falar a verdade. 

Entrelaçando os dedos, falava um tanto timidamente enquanto tentava formular a melhor frase possível para aquela situação. 

— O nosso trabalho não é o dos mais fáceis. Acho que isso é bem claro, principalmente depois do que passamos juntos. Manter a segurança de civilizações, lutar contra calamidades mesmo em situações desvantajosas, sem contar a dificuldade em manter uma vida pessoal no meio de tanto problema. — Olhava para as próprias mãos, como se vendo uma pequena memória passando. Terminava, com cada palavra saindo do fundo de seu coração — Não quero traumatizar esses garotos logo cedo. Ainda mais com tamanho potencial. 

— Nesse caso, não precisa se preocupar, eles não são tão frágeis quanto pensa. — A fala dos senhor Yamazaki surpreendia o lorde vampiro — Minha filha e suas amigas já viajaram pelo tempo, Noemi-chan já enfrentou a tempestade de perto e saiu dando risada. Não sei muito sobre aquele dragãozinho, mas me pareceu tão casca-grossa quanto todos os outros. 

— Concordo plenamente. — O general Shiba era o mais animado. — Quando vi minha filhinha sair com aquela espada recém forjada, lançando raios enquanto ainda treinava seu corte, deixando até as árvores acertadas com vida… 

— Em resumo, Lorde Mordred, acreditamos que o caminho certo a trilharem é ao seu lado. — A senhora Yamazaki cortava a enrolação de seus amigos de Infância. — Esta pequena vila não é o suficiente para lapidar seus talentos, ademais, precisam de professores adequados para seu nível. Já se provou ser perfeito para confiarmos a guarda deles ao dar tudo de si para nos proteger, mesmo quando estava esgotado. 

Como uma pequena faísca de esperança reacendida, as poucas palavras e grande confiança entregue pelos líderes yokais convencem o ruivo a voltar com o recrutamento de novatos, ainda mais entendendo um ponto importante… 

“Se pudermos treina-los antes que os verdadeiros perigos apareçam, então teremos ainda mais facilidade. Pensando além, conseguiremos até ficar mais protegidos…”

— Tudo bem. Eu aceito a sua troca. 

Fechavam o acordo com uma bela risada, acompanhada com um gole de saquê. Antes que todas as entrelinhas fossem feitas, uma pergunta vinha do general Oni:

— Mordred-dono, poderia me dizer por quê tem um humano junto de vocês? — A dúvida genuína bagunçava a mente do grande oni. — É pra tentar preservar? 

— Com toda certeza não. O Boris pode se preservar sozinho sem problema nenhum, haha! — Ria conforme lembrava de cada estranha situação que viu seu amigo. — A verdade, é que ele me ajudou num problema bem grande, graças a isso, senti que era um ato de gratidão o scolher em minha família. O que não imaginei, no entanto, é que acabei tendo uma grande sorte ao traze-lo pro meu lado. 

Pegando uma foto de seu inventário mágico, adicionando um pouco de mana e transferindo uma memória, Mordred recriava algumas cenas das aventuras que teve. 

“— Tem certeza que só pode vencer esse cara dançando, ô ruivinho?! 

— Tenho! 

— Nesse caso, já vem gingando, safado! 

O dançarino amaldiçoado, um tipo de alma penada, era sobrepujado por um estilo de luta dançante que ninguém havia presenciado ainda, junto da primeira vez que o pálido jovem havia escutado a música que sempre tocava quando o humano lutava. Uma benção, e maldição, entregue pelo Deus Apolo.”

Em outra memória, um pouco mais recente… 

“Mordred treinava sua esgrima com a Lua Nova, sua espada, quando era surpreendido pela presença de Boris, o qual estava sentado perto dele. 

— Há quanto tempo você está ai?! 

— Algumas horas. Meio que dormi aqui depois do almoço e esqueci onde era a saída. 

O garoto se levantava, pegando uma espada de madeira e fazendo alguns movimentos mais profissionais, demonstrando um pouco de sua maestria com aquela arma. 

— Tenta fazer esses movimentos. — Repetia a sequência — Foca mais no acerto do que no impacto, também. 

Repetindo os movimentos sugeridos, o Lorde sentia o grande avanço que dava em sua esgrima, junto de uma melhoria no próprio estilo que antes estava usando. 

— Isso é incrível, meu movimento ficou mais leve, mas não perdeu potência! 

— Aprendi esse macete ai com um líder de rebeldes Jinxie. Acho que o nome dele era Roger, apesar que eu chamava ele de tigrão. 

— Como você sabe que ele era um jinxie, e não um homem-tigre? 

— Jinxies são frutos de maldições ou travessuras divinas, logo, acabam tendo uma pitada de sua raça original junto do animal escolhido. Ele era um tigre meio gigante, então era mais fácil saber! 

— Ainda quero descobrir como você sabe de tanta coisa. 

— Te contar um negócio, acho que só os loucos sabem.”

Com a foto tendo sido usada, o vampiro mostrava mais e mais fragmentos, passando um belo tempo demonstrando a excentricidade daquele humano. 

Enquanto isso, na sala principal, encontravam-se todos os demais integrantes se despedindo de Avery, que já havia se recuperado completamente. 

— Precisa ir de imediato, Avery-san? — Yakko perguntava, um tanto deprimida. 

— Sim, raposinha. Minha missão aqui já foi completa, preciso comunicar todos os resultados para a minha lady. — De mãos juntas, confortava sua amiga — Porém, se tudo der certo, vou logo terminar o feitiço de comunicação direta, assim poderemos conversar mesmo bem longe, sem aquela demora dos correios. 

— Ai, isso vai ser tudo de bom! 

O abraço apertado da kitsune quase esmagava a maga, que logo se despedia de todo o restante, que mal conheceu, porém teve boas experiências no festival. Colocando sua bolsa de lado, ia até a saída, falando num tom mais sério:

— Não vai me dar tchau não? 

— Deus te proteja, o Diabo te carregue. — Uma voz grossa e debochada falava lá de cima, seguido de um ronronar. 

— E eu aqui preocupada se você ia mudar pra pior. — um sorriso malicioso de manifestava. — Continua sendo um idiota, só que mais alegre e baixinho. 

— Baixo é seu peito! 

— O QUE VOCÊ DISSE?! 

Lançava um espinho de gelo, quebrando a parte onde o gato estava dormindo, caindo um humano no chão que sentia a queda.

— Perco a costela, mas não perco a piada, sua trouxa! 

— Tsk, ao menos, ficou um pouquinho mais forte. 

— Digo o mesmo, eita magia forte da mísera… 

Levantava, alongando um pouco enquanto sua prima conserta o estrago feito. Estendia o braço, mão aberta, com os seus olhos amarelos. 

— Até que um problema surja naquela mundiça que você chama de reino. 

Cumprimentando de volta, Avery respondia:

— Ou até que precise da ajuda das fadas. 

— Prefiro morrer. 

Fazendo o toque secreto para se despedir oficialmente, Avery então abre um portal com a ajuda de sua Lady, indo parar na terra das fadas, brevemente visível aos que ficam na terra dos yokais. 

O breve sentimento de nostalgia passava, encarando o restante com os olhos castanhos e mão na cintura, um tanto quanto entediado, Boris esperava alguma notícia ou convite de algum dos outros para fazer qualquer coisa, apenas para passar o tempo. 

Para sua sorte, vinha o ruivo com diversos papéis em mãos, sinônimo de trabalho novo a ser feito. 

— Reunião! 

Instantaneamente, todos os já acostumados se aglomeravam ao redor do lorde, sendo seguidos pelos mais novos. 

— Primeiramente, queria parabenizar a todos os novos integrantes. Susan e Susie, as bruxas descendentes; Yakko, a sacerdotisa solar; Noemi, a tempestade azul e Ryou, o protetor das águas doces. 

Todos os novatos comemoravam aquela conquista junto dos veteranos, recebendo tapinhas nas costas e se abraçando. 

— Agora, o mais importante, prestem atenção! — Todos ficavam em silêncio — Nossa estadia nessa nação ainda não terminou. Com o que vimos no incidente do minotauro, os yokais da parte exposta usaram a calamidade ao seu favor para um extermínio da parte excluída. 

— Bem que estranhei tamanha confiança com tão poucos soldados. — Comentava Luke. 

— Sem contar sua experiência. Era mais do que óbvio que não passavam de recrutas, no máximo tinha um ou outro comandante. — Complementação advinda de Miriam. 

— Por este motivo, nosso objetivo vai ser investigar os Nobu, a realeza daquela parte. 

— E caso tenham envolvimento direto com tudo o que aconteceu… — Joann arrumava seu óculos de leitura. 

— Serão considerados uma ameaça. — Harlot tomava um gole de vinho. 

— E se forem ameaças… — Boris socava sua própria mão, seus olhos laranjas demonstravam a empolgação — Vamos poder dar o troco! 

— Exatamente. — Mordred era o mais animado. — Apesar das provas poderem já estarem apagadas, temos nosso jeito de recupera-las. Boris, posso contar com o ladrão fantasma? 

Trocando entre variadas formas básicas, confirmava sua participação.

— Luke, Miriam, Joann e Harlot, vocês vão se separar junto de Susan, Yakko e Noemi para pegar informações com os opositores. 

— E quanto a nós? — Susie perguntava, grudada em Ryou. 

— Vocês dois vão vir comigo até um velho conhecido. Consegui arrumar o necessário para te fazer sentir melhor, queridinha. 

— Sério?! — Susan estava em choque. — Mas, quem?! Ele não vai usar aquela técnica desse oráculo de araque, né?! 

— Eu mereço… — Resmungava Boris. 

— Não, ele é mestre em todas e quaisquer magias. 

— Espera ai, Ruivo! Você realmente fez um trato com o seu mestre?! 

— Não se preocupe, tudo que precisei entregar foi uma amostra de DNA do Boris.

— É O QUE DOIDO?! 

— Ops, escapou… — Saindo do assunto, Mordred voltava ao foco principal — Posso confiar as missões a vocês? 

— Sim! — Respondiam em sintonia. 

— Então, comecemos! 

Em meio ao pôr do sol, uma nova missão era definida para o esquadrão, agora maior e mais unido do que nunca.

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