Estrada das Cinzas

Dizem as lendas que, num reino qual não existe mais, uma rainha fugia com sua criança no colo, perseguida por homens do rei, o qual deu uma simples ordem:

Ache e mate.

Seu corcel cinza parecia entender a vontade de sua montadora, fugindo o mais rápido que conseguia, mas era mais do que óbvio o destino de ambas quando uma flecha disparada por besta atingiu o animal, que morreu na hora quando o veneno mágico adentrou seu coração. 

Encurralada, sem mais opções, a rainha deu seu último suspiro por sua criança, transformando a própria vida em cinzas que nunca mais parariam de cair, queimando todos ao redor que ameaçariam a vida de seu pequeno tesouro… 

— Foi quando eu encontrei minha irmã, naquele estado, sozinha e triste, no meio de cinzas e corpos carbonizados. Desde aquele dia, eu percebi a marca em seu peito, e decidi adota-la. 

Que história clichê, uma princesa de profecia, um sacrifício matriarcal e um mistério acerca do motivo do rei. Queria saber o que deixava esse lugar verde com cinzas caindo a cada segundo, mas poxa, pensei que fosse algo muito mais legal. Maldição de um Deus, remanescente de um lendário Yokai… 

— Sinto muito por ter que pedir para contar vossa história, senhorita Susan. 

— Não há problema algum, Lorde Mordred. Acho necessário que saibam da nossa origem, ainda mais se isso for ajudar a tirar a maldição da Susie. 

— Deve sim. O que acha, Bo?

Oh droga, eu não tava prestando atenção depois do clichê, que drible que faço pra sair dessa situação? Bem, vamos pelo clichê também, né? 

— Pode ser consequência do próprio sacrifício da mãe. 

— Que?! 

— Deixa eu explicar antes de vir me bater, peste! — Falo, segurando a mão de Susan. — Magia sacrificial é o pináculo da magia, mas vem com um preço muito alto. Habilidade, vida, memória, qualquer preciosidade pode ser sacrificada. E dependendo de como você fala, pode amaldiçoar ao redor de ti. 

— Nunca ouvi falar disso. — Miriam pega um livro para conferir. — Tem certeza que não está criando algo, livrinho? 

— Tenho, essa informação a Globo não mostra. — Falo, caçoando dos deuses. — Se você sacrificar "o que é mais precioso pra ti", ou falar " para proteger quem é mais precioso pra mim", a magia sacrificial pode colocar uma defesa que compromete o sistema biológico da pessoa afetada, pois não foi ela que invocou as forças da natureza pra magia. É complexo, mas vamos dizer que agora tem dois caminhos, o primeiro é fazer seu corpo e adaptar, o segundo, é tirar a maldição dela. 

— Qual a mais fácil? 

— A segunda… 

— Então… 

— Mas ela tem mais chance de mortalidade. E por isso a gente vai fazer a primeira. Ela vai sobreviver e ainda vai ficar na potência de uma arma divina. 

Uma aura sinistra junto de uma encarada mortal. Dou uma ameaçada em enfiar os dedos nos olhos da bruxa, a fazendo parar com aquele drama todo, e continuo andando. 

— É quase impossível de fazer um corpo se adaptar a uma maldição, seu pequeno imbecil! 

— Quase impossível, você já se respondeu. — Limpo meu ouvido. — Eu sou um oráculo, possuo conhecimento divino e uma restrição que me permite fazer as mais diversas coisas. sério mesmo que acha que não tem como fazer algo?

— Eu não vou deixar minha irmã morrer porque um serzinho arrogante quer tentar algo impossível! 

— E eu não vou abaixar minha cabeça pra uma bruxa de quinta categoria incompetente que nem sabe o que um oráculo consegue fazer! 

— Boris, já deu! Depois você prova o que quiser, mas no momento, nosso foco é leva-las para o outro lado do Yokaimo! 

— Tsk, entendido. 

Coloco meu capuz e saio na frente, bem nervoso, deixando todo mundo para trás enquanto vou prosseguindo caminho até o grande portão que fica no final. Cacete, eu devo ter usado o passo fantasma inconscientemente, tô um tanto quanto longe deles. 

Sento no chão, apoiando meu queixo com minha mão e olhando pra trás, esperando o restante chegar. Poxa, me irritei por uma coisa tão boba, minha vivência solitária me deixou um animal selvagem para os outros. 

Errei, fui moleque. 

Sinto um enorme estrondo atrás de mim, junto com um corte de espada que me acertaria, se não tivesse voltado para minha forma de doze anos e tivesse esquivado. Volto para os quinze, já puxando meu escudo e atirando-o contra o que quer que tenha me atacado. Ele acerta, fazendo um barulho metálico, e o puxo com linhas de energia para voltar ao meu braço. 

— Armadura bem pesada, é pra combinar com a espadona ai? Se for, então tu é treinado na arte do soca forte poucas vezes. 

— Oi, Oi! — O sotaque é bem evidente. — Sou eu quem faço as perguntas aqui. Apesar que você está certo, haha! 

Pai é muito bom no chute. Aprendi tudo vendo partida de futebol, gracias Messi. 

— Se você der meia volta, te deixo sair vivo. 

— Tá me ameaçando? — Falo num tom irônico. — Você leva seu trabalho bem a sério, parabéns. 

Seguro sua espada com a mão já transformada, ficando mais monstruosa e com placas de Devorador de Marés, tornando-se imensamente resistente, visto que esse tipo de Baleia-tubarão-orca é um dos Senhores dos Oceanos, criaturas mitológicas que ficam no mais profundo mar. Ainda bem que já enfrentei um de cada, para compreender suas características e poder me transformar com a Polimorfose. E mesmo com tudo isso, ainda sou acertado por um combo de espada forte, restauração mágica, encanto místico de fogo solar e um impulso de ventania. 

Caralho, esse guarda comprou dois jogos, o meu e o dele?! 

— Arigato. — Fica em pose de batalha novamente. — Mas você continua morrendo se não sair daqui. 

— Haha… 

Raios começavam a sair da pele do humano, e seus olhos mudavam da cor escura para uma amarela, representando uma alegria com expectativa. Juntando as poses de Kung Fu com Muay Thai, ele estava pronto para lutar. 

— Me entretenha primeiro, sem morrer. — Soltava um riso singelo. — Ao menos, não tão rápido quanto os outros. 

Enquanto isso, alguns kilometros atrás… 

— E basicamente foi assim que ele entrou pra nossa família, só fazem dois anos por sinal.

Depois de acalmar os ânimos das bruxas com doces, Mordred, o cavaleiro prateado, utilizava de seu carisma para explicar o quão estranho era seu recruta, um humano que segue apenas os próprios desejos e intenções e, mesmo dessa forma, consegue alinhar perfeitamente uma ação benéfica para a maioria. 

— Ele não é nenhum pouco famoso, muito menos amado, e sempre continua com esse temperamento difícil. Contudo, é um jovem coração de ouro, e um portador de imenso potencial. Ademais, não temos muito sobre como era a vida dele, se recusa a contar qualquer coisa, dizendo apenas "É mais interessante ver uma corrida de lesmas".

— Vou relevar as atitudes de seu novato, mas não irei perdoar caso algo aconteça com Susie. 

— Nem ele. — Retruca Luke, que estava com bastante raiva. — A única vez que ele falhou em algo, ficou em tamanho choque que não para de treinar nenhuma noite. E pensar que foi apenas um machucado naquela gigante… 

— Ele se vira, essa é a verdade. Um espírito livre não pode ser preso por ninguém, diria Pan. — Miriam continua lendo na jornada, dessa vez, um livro recomendado pelo humano, "a hora da estrela". — De qualquer modo, senhorita Susan, existe alguém em específico que queira encontrar aqui?

— Sim. 

A resposta foi bem mais rápida que os monstros puderam prever, e essa sinceridade vinha em conjunto com um nome…

— Yakko Asa Yamazaki, uma amiga de infância. — Seu Tom irritado havia desaparecido. — A raposinha vai saber o que fazer com a Susie, ela tem mais experiência no ramo que seu humano. 

Em uma rápida comunicação entre olhares, a equipe dava seus veríditos sobre a indivíduo que estava acompanhando;

— Ela é super protetora. Ponto forte e fraco ao mesmo tempo. — Harlot estava despreocupada. 

— Concordo, ela não é tão confiável por causa disso. — Luke argumentava. 

— É ao contrário, campeão. Em quem mais ela iria confiar, se não no filho do rei? — Joann colocava um bom ponto a mesa. 

— Deixem isso de lado, o importante é ela não acabar matando o Boris. — Miriam dava uma pequena razão. 

— Claro, vou tentar falar com ela sobre isso. — Mordred piscava e voltava para o momento atual. 

E no mesmo momento em que iria abrir a boca para falar com Susan, um estrondo e uma grande armadura, com algumas partes quebradas, voava em direção a eles como um projétil. Antes que acertasse qualquer um, vinha aquele garoto com os olhos amarelos e um enorme sorriso correndo em uma velocidade anormal, acertando um chute, jogando seu inimigo para ainda mais longe enquanto o acertava com golpes tão rápidos e fortes quanto raios. Assim que a situação, que ocorreu em segundos, passou, todos os olhares se encontravam em Mordred. 

— Acho que ele tá animado. Sabe como é, a adolescência deixa as pessoas meio alteradas, hehe. 

virava o rosto de lado rapidamente, se perguntando em pensamento:

“Como diabos ele faz isso?!”

— É melhor a gente prosseguir viagem, daqui a pouco o Boris chega na gente. 

— Tem certeza? — Falava Susan, um tanto quanto assustada. — Aquilo não parecia um inimigo normal, ainda mais com todo aquele poder saindo dele. 

— Vai por mim, aquele garoto tem algumas coisas que nem nós entendemos. — Complementava Luke — Apenas aceitamos, ainda mais que só usa para proteger ou ajudar quem gosta. 

O dragão vai na frente, junto de Harlot que estava detectando uma alta magia vindo da frente. Com todos chegando perto do grande portão, conseguiam ver as marcas de batalha, como a grande cratera no chão e algumas árvores pegando fogo, como se tivessem sido acertadas por raios. 

— Então, a luta dele era com o guardião? 

— Falei! 

— Tá, deixa o humano pra lá. — Harlot segurava Joann pelo terno e o levava até a frente do portão. — Faz seus truques e libera o portão pra gente. 

— Eu não posso simplesmente colocar esse portão no chão, Madame. Ele é um método de defesa perfeita pros Yokais. 

— E dai? — Harlot tomava um gole em sua Taça dourada. — A gente só quer passar por eles e chegar do outro lado, o resto é problema dos Yokais. 

— Continua insensível como sempre, querida Harlot. 

Joann colocava sua mão no portão, enquanto um pouco de Lava surgia do alto do portão, e um tremor começava a se fazer abaixo de seus pés. 

— PAAAAREEEMMM!!! 

Um som estridente, como um rugido de manticora, vinha de atrás deles. Com um sorrisinho no rosto, vinha Boris com alguns machucados pequenos e carregando em sua mão um orbe de pura energia. Chegando próximo do portão, falava praquele objeto:

— É esse? 

— Sim, pode contar comigo! 

O orbe gastava um pouco de sua magia e abria o portão como uma chave, fazendo uma pequena mão para fazer um soquinho com seu oponente. Antes que entrasse, o garoto virava o orbe para a bruxa. 

— Ai, é essa aqui mesmo? 

— Ah, não acredito! — A voz ficava mais clara, sendo bem feminina e animada. — Susan! 

— Calma, Yakko? — Imediatamente usava sua magia para levitar o orbe. — Não acredito, o que… 

— Dominei a técnica de criação mágica, agora consigo controlar meus orbes de muito longe, e ainda posso coloca-los em armaduras ou armas para fazer marionetismo! 

— Que incrível… — Lembrando do acontecimento passado, pergunta — Você não se machuca por causa disso, né?! 

— Claro que não! Eu separo completamente a mana de mim, assim só recupero depois de um tempo e controlo essa parte. 

— Desculpa atrapalhar a conversa pombinhas, mas meio que ainda precisamos chegar na sua casa Yakko-san. 

— Ah, verdade! — O orbe começava a flutuar, indo em direção para dentro do reino, com um sol começando a nascer. — Me acompanhem, vai ser bem rápido. Só não se esqueçam de se disfarçar, por favor! 

No mesmo instante, todos usavam magias para poder ficar parecido com os Yokais com forma humana, enquanto Boris se transformava em um, completamente mudando sua aparência e deixando reconhecível apenas a pintinha perto de seu olho e os olhos metamorfos. Todos o encaravam com um pouco de admiração. 

— Que foi gente? — Perguntava o garoto, já com outro Tom de voz. — O que esperavam de um polimorfo? 

Andava tranquilamente em direção do Reino, com um grande sorriso no rosto. 

Os demais apenas riam da situação e iam atrás dele e do orbe, adrntrando na terra do sol nascente e dos Yokais.

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