Eliminação

Meu corpo estava em seu ápice, era a terceira vez que usava aquele modo numa batalha, e a primeira vez contra uma calamidade. A situação era realmente… 

Tensa.

— Pulso! 

Mesmo sem encostar no meu alvo, sou capaz de infligir dano ao sintonizar com sua alma, criando uma distorção pequena no corpo através dela. Continuo avançando, pulando de seu ataque para ficar em seu braço, dando margem para um chute em sua cabeça. 

— Acerto crítico! 

O ponto de dano surgia um pouco mais abaixo, na região do tórax, onde me apoio no chão e utilizo da capoeira para acertar na marcação, tirando um pouco do equilíbrio da fera, está que era alvejada pelas magias da bruxa, raposa e feiticeira, ficando cada vez mais ferida e irritada, descontando tal emoção em seus golpes com trovões e ampliações físicas, quase me jogando para longe com cada potência que recebia. O problema de ser a linha de frente, é tomar tudo e mais um pouco. 

— Cacete, essa eu acho que meu filho vai sentir… 

Brinco com minha prima enquanto fecho o sangramento na parte da barriga. Nem quando eu tava na minha vida anterior, ajudando o Alcides, eu tive tanto trabalho. 

— Isso se você conseguir arranjar alguém. 

— Pro seu conhecimento, eu tenho mais experiência do que você com sua namoradinha, tua otária! 

— Ui ui, fucknator! 

Mostro o dedo do meio pra ela antes de tomar uma rajada de pura energia e ficar na ponta da montanha, apenas para cair com uma voadora vindo daquele gigante de quase quatro metros de altura, que vinha numa finalização até o chão, quebrando tudo ao redor com a pura força. Os trovões vindo da magia eram apenas um complemento para a surra que estava levando. 

Utilizo de uma explosão de alma para me soltar das mãos do Minotauro, rapidamente aproveitando para ataca-lo com alguns acertos críticos. Entretanto, o segundo e mais importante efeito, a drenagem de energia, não funciona nesse chifrudo. 

Que tipo de técnica eu uso pra enfrentar uma desgraça dessa? O cara bate, defende, devolve, corre mais que jaguar e ainda usa mana com alma, o cara comprou minha vida pra me espancar tanto?! 

Pensando por um lado, não ter mana significa não jogar mas regras dos deuses, mas por outro, me limita muito nessas tretas mais sérias. Com a manipulação de mana, facilmente mudaria o rumo dessa batalha, igual o Thesydis, um dos Herculanos, fez com Tifão, fazendo o estilo de constelação se tornar lendário com o aumento físico improvisado com mana e ether. 

Preciso pensar rápido, revisar minhas cartas nessa dança entre a vida e a morte. 

— Você… 

A fala de Asterius demonstrava sua rebeldia contra as correntes que lhe foram impostas. 

— Você morreu nos meus braços… — Seus olhos marejavam. — Me deu o título de herói… 

— Foi minha sexta edição, por assim se dizer. — Fico pronto para quando ele perder a sanidade novamente. — Essa deve ser a vigésima quinta, e bem, a original, que fez o pedido de viver cada geração e ter as memórias mantidas. Meu nome aqui é Boris e, do mesmo jeito que fiz quando Renê, vou te libertar dessas amarras, amigão! 

A calamidade abria um sorriso dolorido, se ferindo profundamente com sua mão e técnica, gargalhando antes de perder a sanidade para a magia de escravidão. 

— Confio em ti… 

Que ajuda do caralho, chifrudo! Mesmo assim, ao ver aquela maldição, lembro-me da pequena bruxa e monto uma teoria em mente. Se forem a mesma pessoa, tenho dois motivos para mata-la da forma mais cruel possível. 

— Eu prometo que vou arregaçar quem fez isso com vocês… 

Parece que vou ter que apelar pras técnicas de combate, não tenho controle suficiente da alma para fazer aquelas alterações no mundo como o monge do templo na terra dos ancestrais. Ainda bem que treinei com vários velhos caducas, foram tempos muito bem gastos com muitas histórias pra contar. 

Afasto ambas as pernas, ficando mais encurvado e abrindo as palmas das minhas mãos. Preciso segura-lo por tempo o suficiente até que a cavalaria chegue, então nada mais justo que um jogo de corpo. 

Espero a criatura terminar de fugir e preparar a investida para reforçar meu corpo, suando frio com a possibilidade de não ter força o suficiente para dete-lo. Tenho uma agradável surpresa quando chamas espirituais acertam consecutivamente a pelagem da calamidade, queimando de dentro pra fora, juntamente dos preços perfurando seu corpo e a corda o amarrando pelo pescoço, selando um pouco de sua força. 

Para conter meu superaquecimento, ganho um congelamento instantâneo da minha prima, que logo derrete mas permite um pouco mais de tempo naquele modo. 

— Demoraram pra descer, ein? 

— Não é fácil cair uma eternidade pra baixo e não tomar quase nenhum dano sendo uma feiticeira, Boris.

— Justo. 

Yakko se movimenta com graciosidade em sua forma original de raposa, percorrendo o campo de batalha com o controle das chamas e caminhos dos espíritos para auxiliar a bruxa mais velha, essa que tira algumas cartas de sua pequena bolsa, jogando-as e ativando os mais diversos efeitos;

Aumento de mana, regeneração rápida, invocação de pequenos cavaleiros de bronze, um manto da noite para poder descansar momentaneamente. São apenas alguns exemplos do que uma bruxa com cartas pode fazer. 

— Achei que só os ciganos tivessem esse talento pro tarô. 

— As bruxas da linhagem direta da grande mãe compartilha todas as suas bênçãos. 

— Depois eu que sou forte, pfft. 

Yakko rapidamente volta a forma meio-humana, demonstrando um pouco de cansaço devido às seguidas transformações, porém fazendo uma pode nostálgica para mim. 

Sua mão esquerda ficava aberta com a palma para cima, a mão direita ficava a frente com a palma aberta e os dedos juntos pra frente. A perna esquerda meio dobrada e a perna direita estendida. A pode de um grande samurai que aqui reinou por algum tempo, seu sorriso transmitia a paz e esperança para a mais malévola alma. 

— たとえ死んでも、世界を変えたいという私の願望を消すことはできません!

“Nem a morte pode apagar minha vontade de mudar o mundo!”, seu clássico bordão desde que era pequeno. Não acredito que você se tornou uma lenda igual prometeu, Iori! 

— Boris-chan, tem certeza que aguenta ficar na linha de frente por mais tempo? — sua preocupação vinha de uma série de feridas em meu corpo. — Se quiser, podemos recuar para o topo da montanha, afinal, Miriam-san está próxima! Consigo sentir sua alma ardente perto do solo! 

— Desculpa aí, mas depois que eu entro numa luta, eu não vou dar pra trás. — Limpo minha boca e foco a energia na palma da mão — Até porque, meio que esse é meu trampo também. Não vou simplesmente jogar tudo nas costas dos outros! 

— Yatta! 

A raposa então puxa dois leques, cada um contendo símbolos diferentes que representavam o amanhecer e o anoitecer. Sua animação com minhas palavras se tornam combustível para continuar lutando contra um machucado oponente formidável. Parando para observar sua luta contra o último dos cavaleiros, sua situação está tão ruim que não seria de todo mal recuar, ao mesmo tempo, nós dá margem para a finalização de um sofrimento constante com as próprias mãos. 

O bater de sua arma divina causa queimaduras utilizando apenas do ar, fazendo com que as cicatrizes não pudessem mais ser curadas. 

— Posso forçar um pouco mais? — Susan puxava uma poção roxa de sua bolsa — Deve ser o suficiente para você, seu corno desgramento! 

Como uma bola de beisebol, a poção voava até a criatura, explodindo com o impacto, liberando não só veneno e ácidos, como também líquidos inflamatórios. Com um sinal, ambas agem em sintonia para aprimorar os ventos quentes do próprio sol, fazendo uma explosão de chamas quais deixavam apenas a silhueta da grande besta aparecer enquanto tentava de qualquer forma apaga-las. 

E quando digo qualquer forma, também conta as investidas loucas para pegar um de nós e usar como toalha molhada, espremendo para sair água. Contudo, devido as características de cada uma, a agilidade era um ponto forte contra Asterius que, num ato de desespero, invoca a própria fúria dos céus contra si, fazendo com que raios, acompanhados de uma chuva pesada, caiam sobre sua cabeça e perdurem no campo de batalha. 

Algo que não duraria muito, visto a chegada mais que triunfal dos meus veteranos. 

— Prisão babilônica. 

Caneças de dragões vermelhos com uma coroa acoplada as suas cabeças enrolam o alvo de Harlot, esta que bebe um pouco de seu vinho para fazer uma névoa de veneno mortal e destrutivo, adentrando o Minotauro que vomita sangue. Logo acima dela, sendo rodopiada e jogada por um dragão ancião em seu modo híbrido, descia a guerreira com seu escudo e espada numa espiral destrutiva, cortando tudo em seu caminho como uma broca. Em um mero instante, aquele que nos deu tanto trabalho havia caído com um espetáculo da mais refinada magia. 

Cheguei a até ficar boquiaberto, afinal,tinha certeza que teriam de lutar um pouco mais com aquele demônio em formato de homem boi. 

— Oh, pelos deuses! O que aconteceu contigo, humaninho?! 

Harlot era a primeira a tratar dos meus ferimentos como se fosse uma criança de treze anos. Detalhe, atualmente tenho dezessete, o que pode parecer não muito, mas quando percebe que a taxa de morte dos humanos é exponencialmente alta até os vinte anos… 

Com a queda da calamidade e o clima voltando ao normal, todo mundo acaba caindo de exaustão. Sir Joann é o primeiro a mobilizar o tratamento geral para a recuperação de forças, enquanto Miriam auxilia no transporte das garotas enquanto sou pego pela Madame Escarlate como um gato indefeso. 

— Ao menos, acabou a tortura… 

Digo baixinho, olhando para o grande rombo no chão, resultado do golpe da elfa negra. Contudo, minha visão lentamente vai caindo para o lado, fazendo uma ilusão ótica, como se Harlot perdesse a cabeça bem na minha frente. 

Ponho a mão na bochecha e belisco, conseguindo voltar ao normal, porém meus instintos animais me denunciam um perigo crescente se aproximando cada vez mais. 

— Meu garoto, você não pode se machucar tanto, quer nos preocupar tanto ao ponto de… 

Mal presto atenção na minha veterana, apenas encarando aquela fumaça toda que vinha do golpe final, percebendo uma pequena chama ainda viva. Aquele brilho da maldição me deixava em alerta, vendo uma carcaça já vazia cumprindo uma última ordem;

Levar ao menos uma única pessoa com ele. 

Mesmo sem um braço, com metade de seu rosto cortado e completamente aos pedaços, prestes a se desfazer como manda as regras da natureza, o braço do minotauro se fortalece ao ponto de ficar tão afiado quanto seu antigo Machado, indo em direção ao pescoço de Harlot. 

Com um movimento rápido, consigo puxa-la com tudo que tinha, com um preço bem caro a se pagar. Mesmo com a junta quebrando e uma resistência do minotauro, um pouco de seu dedo raspa em minha garganta. Com a diferença de tamanho e forças se esvaindo, o sangue Mancha o solo e marca uma sequência de eventos que passam por mim lentamente… 

Harlot trocava de expressão, ficando completamente horrorizada. Miriam e Joann gritavam ao longe, o que alertaram as demais que ficavam aterrorizadas. 

A minha sorte para não perder a cabeça foi o pouco tempo restante no modo de fusão, mas um grande corte em meu pescoço havia sido feito.

Com ele, todos meus sentidos se esvairam, com o mundo caindo lentamente para o lado, até mergulhar na minha própria alma, deixando de lado o plano físico, apenas para despertar num grande labirinto. 

— Foi por pouco, garoto. 

Completamente normal, estava Asterius, vestindo aquelas belas roupas de um rei herói, seus dois grandes machados atrás dele. Seus olhos azuis constratavam com sua pelagem loira e sua pele negra. 

— Técnica de preservação espiritual, grau dois. — Penso comigo mesmo, passando a mão pelo corpo e não sentindo nada. — Pensou rápido, filho de minos. 

— Ė o mínimo que pude fazer depois de ter causado tanta bagunça, não acha? 

Sua expressão enquanto tomava seu último copo de vinho era de puro remorso e desonra, amargurados ao ver cada corpo que deixou para trás. Então, levantava com tudo que estava ao seu alcance, falando com aquela bela e grossa voz;

— Sei que o que fiz como calamidade é irreparável, mas ainda posso compensar um pouco dos meus erros ao lhe manter vivo. 

Puxava a própria essência para fora de seu corpo, colocando-a dentro do meu corpo, substituindo um pouco do vazio que a morte já havia levado. 

— Porém, não quero deixar este mundo apenas como uma besta insaciável por sangue, quero ao menos partir como um guerreiro honrado! — Seus machados brilhavam como nunca. — Eu imploro, Boris! Permita-me lutar como deveria pela última vez! 

— Para o guarda-costas pessoal e de confiança da rainha do submundo, você é muito ligado a honra. — Digo, abrindo um pequeno sorriso. — Tudo bem, vamos dar um jeito nesse karma, amigo chifrudo! 

Minha força voltava de forma anormal, meu espírito, aquele que contém toda a informação das vidas e personalidade da pessoa, havia se restaurado completamente no corpo. Colocava a mão sobre o peito, sentindo o pulsar do coração novamente e passando um pouco do medo da súbita morte que teria. Mesmo que goste de encontrar aquele arcanjo sorridente, acho que antes dos vinte e cinco seria meio sacanagem. 

Junto todas as minhas forças no punho, batendo com tudo no ar, criando rachaduras que faziam as paredes do labirinto caírem por terra, liberando aquela grande arena para o confronto final. 

Asterius, com seu sorriso inocente que sempre demonstrou quando ainda era vivo em sua época, parecendo novamente aquela criança esperançosa, erguia ambos os machados para cima, invocando uma benção dos céus:

— Eu, Asterius, o herói jinxie, invoco os raios que um dia a mim foram concedidos para uma digna redenção! 

Como um sinal de seu juramento, vinham lentamente os raios dourados banhar suas armas divinas, dando-lhe ainda mais o ar de nobreza. 

Em troca daquela bela apresentação e da essência que a mim foi entregue, resolvo utilizar uma arma no combate, algo que não faço por achar muito chato. Resolver tudo com as mãos é muito melhor… 

— Dentre mil espadas, nenhuma seria tão eficaz quanto você. Dentre mil flechas, nenhuma conseguiria passar por sua lâmina. Dentre mil escudos, todos seriam cortados por sua graça… 

Lentamente surgindo do meu inventário oculto, uma adaga de única mão surge com algumas penas coloridas em seu punho. Eu havia lembrado como tinha parado naquela situação, é como sairia de lá bem rapidamente. 

— Está pronto? — Pergunto ao meu oponente. — Digamos que Tupi não gosta de brincar em serviço. 

Apontando seus machados para frente, o minotauro sentia a sensação da morte que logo viria após sua investida. Um único corte de meu punhal se demonstrava o suficiente contra a enfraquecida alma do minotauro, que já estava desaparecendo. Rindo da situação, sabendo que não teve toda a luta que desejou, escorpião lágrimas de seus grandes olhos. Vou até ele, o reconfortando ao passar todo meu braço por sua cabeça e acaricia-lo. 

— Asterius… 

— Sei que não foi culpa minha, mas não posso me perdoar pelas vidas que tirei. — O soluço demarcava seu tempo de partir. — Por favor, por favor… 

— Eu já prometi, não? Seja lá quem fez isso contigo, vai sofrer as consequências. 

Aqueles grandes olhos azuis então se fechavam, ainda lacrimejando, mesmo que mais calmos. Suas cinzas, tanto do corpo físico quanto da alma, eram levadas pelo forte vendaval que surgia na região e em sua mente. 

Pela terceira vez, depois de uma vitória, não sou capaz de comemorar como qualquer um. Apenas sento e espero o tempo em que acordarei no plano material. 

O grande perigo que assombração essa guerra se foi, mas e aquele que aterroriza o reino todo? 

… … … … 

— Acho que tenho mais problemas pra resolver. 

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