Casarão Yamazaki

Espero todos descerem, para poder ir me transfigurando gradualmente, sentindo uma intensa dor que quase me faz vomitar no final. Ao olhar para cima, a mão de Susan está estendida, oferecendo uma ajuda bem necessária para poder se levantar. Minhas veias voltam ao normal depois de alguns segundos, que posso calcular observando a metamorfose em minha mão se dissipando. 

— Obrigado, Boris. 

— De nada. — Fico bem feliz com o agradecimento da bruxa. — Então, esse lugarzão aí é o Casarão Yamazaki? 

Um enorme castelo feudal, mas bem tecnológico. Uma versão moderna do que tivemos na era Heian, talvez? Fico feliz desse lugar ter melhorado tanto. A última vez que o vi, era pau e água. 

— KOOOOONICHIWAAAA!! 

De longe, com uma voz igual a de uma banshee, chega uma raposa com cores de morango, um kimono vermelho, e quatro caudas. No momento em que a vê, Susan sai correndo em sua direção, a abraçando fortemente no momento em que chegam perto uma da outra. Susie vem depois, pulando nas duas e sendo pega no colo da raposa, que a rodopia com magia de ar, a fazendo rir com as pequenas cócegas do vento.  

Não é necessário mais que a cena para entendermos que nossa missão acabou, ao menos, era o que eu e os demais achavam, até um enorme Oni vermelho aparecesse atrás delas, com aquela aura estranha e um Konnibo, a arma clássica espinhenta de metal da sua raça, e fizesse algo inesperado.

— HAHAHA! ENTÃO SÃO VOCÊS QUE VÃO NOS AJUDAR, NÃO É?! 

Num único abraço, havia pego todos do esquadrão. O cheiro do charuto em sua boca me lembrava aqueles caras da Yakuza. Será que ele é o líder deles?! Se for, tô ferrado… 

— OTOUSAN!  — A raposa parecia bem envergonhada com seu coroa. — Eles não sabem disso ainda! 

— Ah, perdão minha sakura. 

Nos deixando no chão, o Senhor Yamazaki se apresentava formalmente e explicava sua empolgação:

— Temos um grande problema em mãos, mas nosso sol avisou sobre sua chegada, e exatamente o que oferecer para nos ajudar. — O grande Oni, com a cicatriz no olho esquerdo, andava em direção de sua propriedade. — Por favor, nos acompanhe! 

Na frente, o Oni. Atrás dele, a Raposa arrastando ambas as bruxas. E como era de costume, a gente sempre atrás daqueles que possuem informações, visto que somos mais perdidos que qualquer outro ser existente nesse mundo. Ao menos, somos unidos, logo, um bando de perdidos.

Adentrando aquele casarão, que já era grande por fora, vemos o quão infinito é por dentro. Inúmeros corredores e portas que levam a corredores de outro plano, com salas em outro plano de existência. Puta que pariu, esse lugar é meu sonho de consumo pra uma base perfeita, por que eu não achei isso antes?! 

— Bem vindos, e já vão se acostumando! Aqui vai ser nosso principal ponto de encontro a partir de agora! 

Diversas criadas passavam com vários talheres e panos, uma delas iria cair, mas dou uma ajudada, pegando seus itens e gentilmente a auxiliando para não cair com o braço. Depois de ajuda-la, percebo seus traços de doninha e o controle do vento, uma Kamaitachi que consegue tomar forma humanoide. Isso que eu chamo de evolução! Darwin estaria maluco nesse lugar. 

— Desculpem a grande correria, mas sua visita veio de forma repentina. — Yakko falava com um sorriso no rosto. — Aproveitaremos o momento para botarmos o assunto em dia, logo depois, que tal um grande banquete? 

— Quem ignora comida é Serpente marítima. — Luke está domado pelo cheiro incrível da comida. 

— Sempre é bom ficar com energia antes da batalha, né? — Miriam está da mesma forma. 

— Vamos focar na missão primeiro, tudo bem?! — Harlot os coloca no eixo com uma pequena aura intimidadora. 

Seguimos os anfitriões até uma sala aberta, onde algumas figuras excêntricas nos esperavam. A matriarca da família, uma Kitsune de nove caudas, estava mantendo a sala silenciosa com seus poderes. Atrás dela, dois filhos ogros de ambas as cores, vermelha e azul, e uma raposa de duas caudas sem ser mestiça, diferente de Yakko. 

Todos entravam sem seus calçados, ficando sobre os joelhos em frente a uma pequena mesa quadrada, que continha saquê. Harlot já ficava de olho na bebida, enquanto Mordred nos pedia o silêncio para poder conversar com os líderes e entender a situação. 

— Agradeço pelo tempo concedido, Lorde Mordred. 

— Sou eu quem tem que agradecer pela recepção, Yamazaki-Dono. 

— É bom ver um garoto desse tempo com modos, haha! 

Colocando a bebida nos copos especiais, o assunto começava rapidamente, com um ar tranquilo apesar da tensão do problema. 

— Além da guerra fria que temos com os Yokais da elite, um novo problema surgiu onde reino. Tem muitos dos meus no topo do Fuji, e ele parece estar disposto a expulsa-los bem cedo. 

Tragava uma boa parte de seu fumo, deixando a fumaça sair livremente na sala. Nenhum de nós se incomodava, assim como nenhum deles. A única coisa que eu observava era a troca de olhares da bruxa e da raposa, além da fina linha de mana em suas mentes. Essas daí são amigas coloridas, com toda certeza. 

— Preciso de um de vocês pra evacuar o meu povo, enquanto o resto vai ficar aqui por outro motivo. 

— Que seria? — Indaga Mordred. 

— Uma calamidade. 

O choque da situação percorria cada um de nós como uma tempestade num copo, essa porra foi de zero a cem rápido demais! 

— Perdão, fiquei abismado. — Mordred tomava uma postura mais digna de um príncipe. — Meu esquadrão está sob suas ordens a partir de agora. 

— Ora, não esperava que fossem tão benéficos quanto minha deusa disse. — Sorria sem preocupações. — Não se preocupem, prometo recompensa-los no final. 

Já diria um velho sábio, para os vencedores, as batatas. 

— Nesse caso, quero saber toda informação que tiver, Yamazaki-Dono. Isso é um desafio e tanto, até para nós. 

— Nem me fale. — Olhava para trás, permitindo com um sinal a integração de sua família na conversa. 

— Lorde Mordred, meu nome é Toki, e fui eu quem avistei a calamidade pela primeira vez. 

— Toki-san, por favor, conte tudo que viu. 

Enquanto o Ao Oni chegava mais perto, fechava os olhos e pensava na situação de uma forma mais ampla, utilizando o domínio dentro de mim para projetar a situação atual. 

Nesse casarão, moram a principal família dos Renegados dos Yokais, junto de inúmeros criados. No alto do Monte Fuji, que está dando sinais de erupção, fica a parte mais conservada dos Onis. Além disso, uma guerra pode estar prestes a estourar com aqueles lixos da elite que tentaram matar o dragãozinho. Falando nisso, a Susie levou muito a sério o “amuleto da sorte”, ela está andando agarrada no braço dele de cima pra baixo. 

E por fim, uma calamidade, um ser que é fora do ecossistema local, possui uma força incomum, não é conhecido pelas pessoas daqui e são, como o título propõe, uma massa destrutiva de alto nível, anda livremente por essa parte da ilha? 

Meu cacete alado, que situaçãozinha que a gente se encontra… 

Abro meus olhos lentamente, observando um lindo campo de flores e grama, abençoada com um céu limpo e um sol que retira qualquer impureza do lugar. Suspiro profundamente, nem sequer me levanto, apenas encaro a pessoa, melhor, a Deusa na minha frente.

Uma armadura de shogun, as katanas no chão e o espelho flutuando atrás dela. Um olho marcava onde o Sol acordava, o outro, onde se recolhia. Sua aura divina era quente e imponente, e seus cabelos estavam soltos para representar sua liberdade e a que traz para aqueles que abençoa. À minha frente, uma das deusas da tríade, o sol do Japão, aquela que rege a família renegada.

Amaterasu-no-Okami, ou como gosto de chamar, Amie.

— Para uma pessoa que evita encontros recorrentes, anda me visitando bastante.

— Apenas sou puxado para cá, e por sinal, é você quem sempre me traz pra cá. — Abro um grande sorriso. — Do que precisa, Amaterasu-Sama?

— Simples e direto, como sempre. — Ela aproxima sua mão de mim. — Mesmo mudando tanto desde a infância, a sua essência continua a mesma. Ótimo.

Um toque suave em meu rosto abre o infinito em minha mente, demonstrando tudo que ela quer que eu saiba em questão de segundos, ou menos que isso. Abro meus olhos, encarando-a com uma sombrancelha erguida.

— Sério? — Falo um tanto quanto cético. — Desde quando você se importa tanto com seus irmãos a esse ponto?

— Quem nos reconciliou foi você, Luz divina, então não reclame tanto. — Ela me acerta um pequeno golpe de karatê na cabeça. — Apenas faça-me este favor, e poderei garantir o que quiser.

— Tsk, odeio ter que cuidar de uma vida que não seja a minha. Mas para um cara que salvou um dragão, o que é treinar uma Semideusa?

— Obrigado, Boris-chan. — Esfrega meu cabelo. — Irei lhe dar como bônus essas vestimentas e um ótimo corte de cabelo...

— EI! ESPERA, EU NÃO...

Acordo do encontro divino, com a conversa entre Mordred e o Patriarca ainda ocorrendo. Toco do lado, para saber se ela realmente cortou meu cabelo, e só de sentir os fios bem curtos, sei que ela fez aquilo mesmo. Cacete, essa é a segunda vez que fico com um as pontas do cabelo laranja por causa da espada solar dela...

Por motivos de odiar a sensação dessas roupas extravagantes a qual ela me deu, uso minha transfiguração nelas e deixo num âmbito mais agradável ao clima e mais sociais, do meu jeitinho.

— Mordred, se me permite, posso ir recuar os habitantes do Fuji?

— Por mim tudo bem... — Ele percebe a diferença repentina. — O que aconteceu contigo?

— Longa história. Eu te conto depois que a missão tiver concluída, fechado?

O balançar das caudas de Yakko chamam minha atenção, enquanto ela me encara com olhos arregalados e um tanto envergonhada. Ah, entendi, então foi VOCÊ quem me mandou até ela dessa vez. Tal ancestral, tal descendente, não é Tamamo?

Abro um sorriso, me curvo e logo depois saio da sala, fechando a porta enquanto coloco meus calçados novamente. Vou andando até fora da mansão, no caminho, ajudando quem posso. No caso, as empreguetes, que parecem estar surpresas com minha saída e aparência. Esse lugar seria o paraíso pra quem gosta de maids e furrys, ainda bem que sai dessa paranoia há muito tempo...

Chegando no lado de fora, vejo o grande Monte Fuji, em toda sua plenitude. Espero que a aventura aqui seja mais interessante do que da ultima vez, a única coisa que fiz foi arrumar a floresta depois da briga do Tsukuyomi e do Susanoo....

— Olá, primo!

Sou cumprimentado por Avery, que distorce a própria realidade para se disfarçar e me acompanhar. Mesmo depois de tantos anos, continua se comportando como um vassalo de um rei.

— Avery, nossa próxima missão será treinar uma semideusa e escolher entre duas opções; recuar os civis ou desabilitar a erupção do Fuji.

— Finalmente, como nos velhos tempos!

— Tem certeza que quer continuar nesse caminho? — Pergunto, com uma expressão séria. — Sabe que pode ser perigoso andar com um senhor problema como eu.

— Como se não tivesse acostumada com o perigo que tanto fala. Fica na fronteira de Albion, vai ficar um bom tempo se divertindo.

— Que os deuses me livrem daquele lugar.

Seguimos caminho, como antes fazíamos sem rumo, agora com um objetivo.

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