Recrutamento

Estava andando há alguns minutos com aquele peso todo nas costas, quando achei uma enorme mansão, misturada com castelo. Ainda bem que tenho uma estatura alta, ou estaria bem desgastado, mais do que já estou. Ao chegar mais perto, bati na porta, e uma elfa negra me atendeu com os olhos arregalados. 

— SENHOR JOANN! 

Quase instantaneamente, um enorme senhor de fina aparência e alguns fios brancos de cabelo parou na porta e pegou Mordred das minhas costas, correndo para dentro enquanto chamava outra pessoa. Com menos uma coisa pra me preocupar, estava prestes a ir embora, quando fui puxado para dentro por aquela elfa, que possuía uma massa muscular imensa. 

— Pode me falar o que aconteceu? 

— Um demônio nos atacou, então a gente se ajudou. — Fico sem jeito enquanto sou levado contra minha vontade. — Desculpa, mas qual seu nome? 

— Miriam Waller, e o seu? 

— Boris. Pode me deixar no chão, por favor? 

Ela me larga num sofá, e começa a analisar os meus ferimentos, que não são muito profundos, mas são preocupantes se lembrarmos que sou apenas um adolescente. Em um instante, ela vai e volta numa velocidade que me deixa abismado. Não só o Morcego, mas todo mundo nessa casa é extremamente forte? Isso é preocupante, preciso sair daqui o quanto antes! 

A elfa passa uma pomada medicinal, que fecha minhas feridas e cura um pouco das minhas queimaduras. Não era necessário, pois minha regeneração é muito alta, mas é uma ajuda muito bem-vinda. 

— Obrigado. 

— É o mínimo que posso fazer por quem trouxe meu amigo até aqui. — Ela me analisa de cima para baixo. — Acho melhor você ficar no jardim enquanto não preparo um banho, converse com o Luke lá, ele pode ensinar algo sobre flores. 

— Está tudo bem, eu posso… 

Antes que percebesse, já tinha sido jogado lá dentro do jardim e a porta estava trancada. Eu me sequestrei para um cativeiro, aparentemente. 

Vejo um lindo jardim, um detentor de romãs e outros frutos de grande importância de várias regiões. Ando tomando cuidado, até o jardineiro que estava no centro. Era um forte loiro de olhos verdes, que estava usando vestes de jardineiro normal. Mas era possível sentir sua aura assustadora e imponente, aquele ser não era nada menos que um dragão, tenho certeza disso. 

— Quem te mandou aqui, pirralho? 

— Uma elfa negra chamada Miriam, contra minha vontade. Pode me falar por onde saio daqui? 

— Primeiro, me ajuda a regar as plantas. — Me entregava um regador. — Comece pelas pontas, eu faço as do meio. 

Bem, não tem como ficar muito pior, e vai ser um bom jeito de passar o tempo. Rego as plantas, como já fiz com muitas outras, e observo o dom da natureza que as faz crescer de forma mágica. Uma Romã cai depois de amadurecer, e a levo até o dragão, que a pega e coloca numa cesta. Depois de algum tempo ali, o trabalho termina, e o dragão troca de roupas num cantinho, apenas tirando suas vestes de trabalho e ficando com uma roupa mais larga, camisa regata e calça moletom. Ele pega uma lança que estava no meio e, ao retira-la, o jardim some, deixando apenas uma grande área aberta. Uma realidade aumentada feita por uma arma celestial, incrível! 

— Para sair daqui garoto, você terá de me derrotar. Então escolha uma arma, e venha me enfrentar! 

Sabia que tinha caroço nesse angu.

— Não quero brigar, apenas quero prosseguir meu caminho. Já ajudei seu amigo, e não tenho nenhuma intenção de me aproveitar disso. 

— Não perguntei, só mandei me enfrentar. 

Eita lapada seca da mísera… 

Tiro de meu armazém magico duas soqueiras que contém minha força, e fazem barulhinhos quando acerta. Coloco nas minhas mãos, notando no desenho de Leão fofinho no meio, amei. 

— Não quero te machucar, então só vou te neutralizar, e depois saio daqui. 

Sou pego por vinhas abaixo de mim, e logo depois sou atingido na face por um soco sem contenção, sendo jogado para trás para depois ser quase perfurado pela lança de meu oponente. Estou lidando com alguém com muita experiência de combate, mais que a de Mordred, então devo responder à altura. Hora do show. 

— Segura o grosso! 

Acerto bem no centro do peitoral do dragão, onde suas escamas o protegem, mas o forço a recuar e vou pra cima. 

— Um ataque de frente não vai funcionar, garoto! 

Ele se prepara para me atacar, quando recebe um eco do meu soco, o desequilibrando e me fazendo acertar bem em sua cara, com o barulho da soqueira amortecedora confirmando meu ataque. Ou melhor, meu acerto crítico, pois tinha acabo de definir um ponto fraco para meu oponente, assim podendo me aproveitar daquela pequena fração de segundo para maximizar meu dano. 

Apesar de não o fazer sangrar, acabei desnorteando-o, e isso é o suficiente. Agora, posso me fortalecer pro próximo acerto, e formular um jeito de nocautear ou o forçar a ficar no chão por mais de alguns segundos, igual agora. 

— Mandou bem. Vamos ver o que pode fazer quando pego pesado. 

Vejo um pequeno brilho sair de dentro de seu peito, e sua forma muda, tornando—se metade dragão e metade humanoide. A forma misturada é algo da qual preciso me preocupar, pois mistura as melhores partes da forma dragão e da forma humanoide para atacar. Além disso, ele me parece um dragão de jade, então sua dádiva deve ser algo como controlar a água ou fortalecer seu corpo à beira do indestrutível… 

— Avanço de sete partes: Ato um… 

Em poucos segundos, uma pressão enorme me para no lugar, apenas para o dragão vir com tudo e me atacar, causando um rombo no chão, pois me jogo para trás para não morrer no processo. Acho que ele se perdeu no personagem. 

— Ato dois… 

Enormes vinhas vêm em minha direção, enquanto água começa a surgir em meus pés. Quando me novo corretamente e consigo acertar um soco no Dragão, sua pele está dura como um diamante. Ele tem uma dádiva especial, controle de água e invulnerabilidade. Que cara incrível, pena que tem a paciência de uma galinha sem cabeça. 

Pelo que percebi, a cada ato, ele vai ficando mais forte e com mais métodos de me atrapalhar na esquiva. Nesse caso, é melhor que eu termine antes de chegar no quinto ato, ou vai ser impossível de fazer qualquer coisa. 

— Manipulação gravitacional… 

— Ato três! 

No momento em que seria preso no chão, pulo para quase o teto, impressionando o dragão que vem pra cima. Transformo um dos meus braços em uma grande massa que ataca individualmente, com cabeças de vários predadores, mas nenhum deles acerta Luke, que vem para cima. Corto meu braço e o regenero, assim transformando—me numa ave e indo para cima, ainda sendo caçado, até poder voltar a ser humano e acertando um outro golpe crítico no momento em que ele tenta me acertar com a lança. Ao bater as costas no chão, ganho uma enorme vantagem, a qual gasto me transformando numa jubarte e caindo em cima de Luke, que é afundado no chão com o peso, e neutralizado no processo com o terceiro golpe crítico. 

Volto a minha forma humana e sento ao seu lado, apenas vendo seu sorriso e escutando seus risos. 

— Você é forte. Mas afinal, que poderes são esses? Polimorfia, gravidade, socos fortes… 

— É a minha restrição. Ela impede usar coisas comuns, mas posso ter essas coisas estranhas.

Estendo um soquinho para o meu oponente, que devolve o cumprimento, completamente ileso de meus ataques.

— Luke, já terminou aí? 

Escuto a voz da elfa, que entra e dá um beijo em sua bochecha, o corando na hora. Depois de ajuda-lo a sair da pequena cratera, ela nos leva para fora, onde nos separa. Antes de subir com a elfa, ganho um cafuné na cabeça daquele cara alto, que fala:

— Você é o primeiro que me vence numa luta assim, garoto. 

— Se tivesse vindo com tudo, eu não teria nenhuma chance. 

— É verdade, mas não posso fazer isso com alguém que tem pouca experiência em combate. Talvez depois de alguns treinos. 

Treinos? 

— Venha cá, Boris! 

Sou chamado, então, acompanho a garota até um banheiro, do qual continha uma banheira cheia de bolhas de sabão, e água quente. Fico maravilhado com a vista, e sou deixado sozinho para tomar o banho por quanto tempo quisesse. E de novo, não tinha nenhuma saída, então apenas aproveito a banheira e me lavo, tirando minhas impurezas e ficando cheiroso no processo. 

— Tchau preguiça, tchau sujeira, adeus cheirinho de suor!

Fico apenas o tempo para me lavar e saio, vendo que tem algumas roupas na pia, junto de um bilhete com uma monografia de dar inveja:

"Peguei algumas roupas antigas, pois eram as únicas que ficariam boas em você. Não se preocupe, nada é muito feminino, é mais unisex. É que os homens da casa são brutamontes ou possuem um senso de moda bem estranho. Espero que goste!

Assinado, Harlot."

Harlot? Quem seria essa? De qualquer forma, possui bom gosto para roupas e sabe muito sobre como disfarçar o tom feminino. Já gostei bastante dela. 

Coloco as calças moletom pretas com a corrente de lado, o chinelo de madeira encantada, que me deixa com livre movimento, e uma blusinha com capuz verde. Saio do banheiro depois de o deixar bem limpo, e então me deparo com uma bela dama.

— Eu sou Harlot, um prazer te conhecer, humaninho. 

— O prazer é todo meu, senhorita Harlot. 

Ela parece se comover com minha educação, pegando em minha mão e me arrastando até outro lugar. As mulheres daqui, além de fortes, tem alguma inclinação pra dominação? 

Sou levado até o lugar onde Mordred já está acordado. O mesmo, ao me ver, acaba me abraçando e falando:

— Ah carinha, você me trouxe até em casa! Muito obrigado. 

— De nada. Foi só uma troca de favores, afinal, tu meio que salvou minha vida, né? 

— Bem, você me ajudou primeiro, então acho que estamos quites! 

— Bem, se for assim… 

— MAS! 

SABIA! ESSA PALAVRA SEMPRE VEM NO MOMENTO EM QUE ACHO QUE ESTÁ TUDO BEM! Entretanto, estou curioso, o que esse morcego quer comigo? 

— Você tem um potencial de outro mundo, Boris. Mais do que isso, se demonstrou super empático, ou melhor, sabia o que tinha de fazer e não hesitou nisso. — Segurava minhas mãos bem juntas. — Nós precisamos de pessoas como você para os trabalhos que fazemos. 

— E o que vocês fazem? — Pergunto, tentando pegar alguma dica do local. 

— É melhor eu me apresentar melhor. 

Levantando do sofá, trocando rapidamente suas roupas para uma mais casual e luxuosa ao mesmo tempo, quase como a de um príncipe, o ruivo pronuncia:

— Sou Mordred Unelure, líder do esquadrão de soluções e apoio às ilhas. Viajamos o mundo inteiro para resolver problemas que pessoas normais ou heróis treinados não conseguem, e também vivemos nossas próprias vidas enquanto isso não acontece. — Vai rapidamente até Luke, o dragão Esmeralda. — Ele, por exemplo, é um jardineiro e possui uma loja de flores lindíssima! 

— Para com isso… 

— E ela é uma bibliotecária e professora de artes marciais. Não acha isso divertido? 

— Está se empenhando bastante, ein? — A elfa cruzava os braços e ria. 

— Esse grandalhão é só o melhor mordomo do mundo, e a senhorita aqui é uma atriz do mais alto escalão! 

— Haha, o lorde está um pouco animado hoje! – Diz Joann, com uma poderosa voz.

— Ao menos, sabe como apresentar uma estrela.  – Harlot completa.

— Por fim, eu faço meu trabalho de contador e algumas outras coisas, como ser chefe de guilda. — Dando um grande sorriso, ele chega bem perto de mim. — E então, você aceita participar com a gente? 

Fico um pouco incomodado com tamanha proximidade, algo que acaba sendo revelado através de meus olhos. Por ter uma habilidade tão única quanto a metamorfose universal, alguns de meus sentimentos acabam alterando partes básicas do meu corpo, como meus olhos, que ficam como rabiscos na íris quando me sinto muito pressionado. Vendo isso, o vampiro solta minha mão e fica um pouco mais afastado. Reparo em cada um deles cochichando, e logo consigo identificar suas dúvidas a respeito da minha escolha pela audição combinada. 

Gosto de viver de uma forma livre, fazendo apenas o que eu desejo e nada mais. Entretanto, essa família ou clã acabou me cativando com suas maneiras estranhas e poderes absurdos. E por isso, talvez, seja hora de ficar um pouco mais a mercê dos desejos alheios, apenas para me deleitar com as experiências, boas ou ruins, que podem vir com esses estranhos superpoderosos.

— Tudo bem, eu aceito sua proposta.

Mordred e os demais estavam prontos para pular de alegria, no entanto...

— MAS... — é minha vez de utilizar de tal artificio. — Eu quero que me deixe com o máximo de liberdade possível, tanto em pensamentos quanto em ações. Até eu me acostumar com suas éticas, pois isso vai ser difícil.

— Wow, não Sabia que pequenos seres poderiam ser tão rebeldes. Bem, por mim tanto faz, desde que fique com a gente eu aceito!

Sou apertado como um boneco, quase expulsando meus olhos e língua para fora do corpo, antes de ser bem recepcionado por todos que se apresentam de forma mais formal.

— Eu sou Luke, Luke Galivam, A Criatura mais forte dos céus. 

Luke é um homem alto, entre seus 1,89 e 1,91 centímetros de altura, com belos olhos verdes e cabelos loiros presos num rabo de cavalo com algumas mechas para frente de seu rosto. Suas roupas casuais eram um moletom preto e uma camisa regata branca que destacava seu belo físico.

— E eu sou a namorada dele, Miriam Waller, a General mais nova de Roma.

Miriam, uma bela elfa negra de porte físico invejável, possuía cabelos lisos longos soltos e olhos roxos como beterraba, roupas semelhantes as de Luke, com exceção da pequena blusa aberta cinza, e cicatrizes de batalha. Sem contar sua altura, que não ficava muito atrás de seu namorado, chuto uns 1,85.

— E eu sou o pai dele, Joann Galivam, o Dragão dos Desastres!

Joann era um senhor de meia-idade, com cabelos cortados na altura do pescoço, já com mechas brancas, e uma barba e bigode bem feitos no estilo francês. Ademais, utilizava-se de um terno branco com camisa social azul, além de luvas pretas e uma charmosa gravata-borboleta avermelhada.

— Harlot III, ou Madame Harlot. Não tenho nenhuma relação com eles, a não ser a amizade. 

Harlot, uma quimera de belíssima aparência, com olhos azuis opal, cabelos de cobras vermelhas e azuis, com um lindo vestido branco e luvas de meio fio vermelhas. Era realmente um porte de uma atriz de sucesso, além de ter um rosto muito mais maduro que o de Miriam, demonstrando sua idade um pouco mais avançada.

— Acho que não preciso de apresentações, hahaha!

Mordred era um vampiro de cabelos ruivos cortados na altura dos ombros, junto de olhos vinho e uma pequena presa para fora. Possui uma pinta de galã, com um belo corpo e bom senso de moda, vestindo como suas roupas casuais uma camisa de manga longa com estampa do Yon Bardo, e um moletom chique de cor branca. Mesmo sendo um vampiro, sua pele era vislumbrante, e não pálida como o de costume.

Por fim, restava-me apresentar como os outros. Contudo, minha desconfiança neles me impede de contar exatamente quem sou, principalmente por causa daquela família...

— Eu sou Boris, um oráculo “selvagem”, um polimorfo e por fim, um humano. Espero que nós nos demos bem daqui em diante!

— Miriam, me lembre de ensiná-lo a falar como uma pessoa normal daqui em diante.

— Anotado, apesar que gostei do tom educado, só vejo isso em livros de época e olha lá!

Antes de poder recorrer a alguns métodos para sair de fininho daquela enrascada, sou novamente abraçado por todos ali, sentindo o peso de alguns, mas principalmente, o calor de uma família deles. 

Daqui pra frente, espero boas experiências familiares, diferente do que um dia já vivi...

...----------------...

「Guia de vivência em Odisseia:

Dádiva: Uma benção dada no nascimento, uma técnica única para cada ser.

Metamorfose: Técnica de trocar de forma.

Polimorfia/Metamorfose Universal: Técnica única de trocar de forma entre todos os seres existentes, desde plantas à [omitido].

Acerto Crítico: Uma habilidade única da Dádiva da Restrição Vital, utilizada por Boris. Performa uma análise imediata e define um ponto como “ponto fraco” do oponente. Ao acertar, causa duas vezes e meia o dano que causaria. Caso for acertado três vezes por essa habilidade, seu efeito “Crítico” fortalece, assim diminuindo as forças vitais do oponente em cinquenta por cento, retirando sua energia de seu corpo.

Arma Celestial: Uma arma criada por um ser divino, ou feita através de uma fonte divina.

Realidade Aumentada: Uma versão imaginária do mundo feita pela mente do usuário, que se manifesta através da grande quantidade de determinação e controle de Ether (mana divina) sobrepondo a realidade comum.

O nome da floricultura de Luke é “Roses de jade draconiques”.」

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Comments

artie_

artie_

fuegoso sempre me faz rir mesmo que eu esteja lendo esse capítulo pela segunda vez ksksks

2023-06-21

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