Resguardo

Eu não sei definitivamente o que dizer, meu coração está doendo apenas de pensar na possibilidade. Não irei suportar mais alguém me deixando, ainda sinto um abismo enorme dentro de mim. Uma dor desesperadora. Como se eu tivesse me forçando a ficar de pé. Para ir em frente, mas a ideia de perder aquela criança me quebra. Minhas pernas ficaram bambas, cai no chão chorando como uma criança sem controle das suas emoções.

— Sarah! Sarah! O que está acontecendo? Porque está fazendo isso! Pela mor de deus. Me responde alguma coisa. — Thanatos gritava ajoelhado na minha frente.

No meio de toda aquela cena, Marisa ouviu a confusão de dentro do quarto. Ao abrir a porta Thanatos foi até ela, mas ela passou na frente, ajoelhou na minha frente e me abraçou.

— Sarah, Beatriz está bem. Foi apenas um susto, ela está estável e passando pelos exames. Já chamei o neurologista para avaliar ela. — Marisa limpava minhas lágrimas.

Thanatos ouviu, sentou no chão aliviado, ficou olhando para o nada por alguns segundos, depois pareceu ter se lembrado de algo. Correu em minha direção, segurando minha cintura, me levantou. Ele puxou meu corpo contra o dele, abraçando com muita forças, pensei que ia quebrar no meio.

— Me desculpa por ter te gritado. Eu sei que você está em uma fase difícil e tudo isso deve ser terrível para você. Desculpa, de verdade. — Thanatos não fazia ideia, mas eu nem sequer havia me importado com aqueles gritos.

— Está tudo bem. Já disse que você é muito fofo para ser o dono do morro. — Sussurrei no ouvido dele.

— Com você, não sou o dono do morro, mas sim, seu marido. Não quero jamais te tratar como faço com os outros. Eu não me perdoaria por isso. Se um dia eu fizer disso, me deixe, tá? Você é maravilhosa demais para ser tratada desse jeito. — Thanatos parecia ter muita coisa na cabeça.

— Não quero estragar o momento, mas queria explicar direitinho a situação, preciso voltar para lá. — Marisa explicou levantando do chão.

— Me desculpa a bagunça. Estou com dificuldade de lidar com minhas emoções. — eu realmente sentia que havia passado um pouco da linha, me descontrolado.

— Sarah, você está no período puerpério, não esqueça disso, seu corpo ainda seu corpo ainda luta para se organizar da gravidez, mesmo que saiba, irei te lembrar, nessa fase você vai sentir insegurança, medo, tristeza. É um momento de intensidade. Nesse período é muito normal se sentir muito mais sensível, porque, além da desregulação hormonal, as mais se sentem muito cansadas e lidam com muitas transformações. Na maioria das vezes, nem se dão conta, se culpam na verdade, por sentirem que estão dando conta ou por não estar sendo uma boa mãe, quando na verdade, precisam apenas de tempo. Não se julgue tanto, você está passando por um período difícil na vida de qualquer mulher, sem contar o luto, que por si só já é complicado. É isso e está tudo bem. É apenas uma fase, você vai sair dela, eu prometo. — Marisa me abraçou. Não tinha me dado conta, eu estava de resguardo, meu corpo inteiro estava lidando com a bomba de hormônios da gravidez, eu não estava dormindo direito, Ana chora muito de madrugada. Eu sou tão cansada. Mesmo que eu soubesse que era assim, para mim, era apenas uma teoria. Parece até um intensivão para as mães lidarem com o que vem pela frente.

— Obrigada, não tinha me dado conta. Você é uma amiga maravilhosa. — Eu tive sorte de ter ela na minha vida, mesmo depois do tempo que passei afastada, Marisa segurou sempre minha mão e foi minha amiga.

— Não chora. Eu sei que sou uma amiga maravilhosa, mas você poderia conversar mais sobre como se sente com o pai da sua filha, sabe? Isso te fará sentir melhor. Thanatos vai te apoiar. Vocês são esse tipo de casal. Não tenha medo de confessar seus medos e inseguranças. Thanatos está por você. Ele vai ser seu apoio. Se segure mais nele. Muitas mulheres não têm a sorte que você tem. Os maridos não compreendem que estão passando por um momento difícil, não sabem como apoiar ou ouvir. Acham que estão sendo chatas, inconvenientes ou que é apenas frescuras. Eles continuam seguindo suas vidas, como se nada tivesse acontecendo, enquanto a mãe, mulher, sofre sozinha um dos momentos mais difíceis da vida dela. Então, não tenha medo de segurar na mão do seu marido. Tá? — Marisa me alertou.

— Farei isso. Obrigada por tudo. Agora, pode nos dizer como está Beatriz? — Não podia esquecer do que estava acontecendo.

— Bem, ela realmente foi exposta a veneno de rato. Houve uma demora para o diagnóstico, para o início dos procedimentos, mesmo você fazendo os paliativos, o veneno continuava agindo em seu corpo, nessa situações, deveria correr para um hospital mais próximo, mas eu entendo que não haja isso ao redor. De qualquer forma, ela teve uma parada cardiorrespiratória, mas facilmente conseguimos trazer ela de volta. No momento, um neurologista está fazendo alguns exames nela. E.. — Marisa parecia estar escolhendo a última palavras.

E? — Thanatos assim como eu, percebeu que algo pior estaria por vir.

— Estamos suspeitando que Beatriz pode está em coma. O médico neurologista avalia ela nesse momento. — Marisa explicou. Na mesma hora senti dificuldade de respirar. Senti o mundo me engolindo por inteiro e tudo ficou preto.

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