Minha mãos tremiam. Eu estava segurando a ficha da minha mão. Sendo totalmente racional, desligar as máquinas era a opção certa, mas porque sentia meu peito rasgando. Eu deveria estar feliz que minha mãe estava livre da dor, mas me sinto despedaçada.
— Desligar. Eu posso fazer isso? — Perguntei.
— Sim, você assina com seu nome, como responsável, mas vou chamar seu pai e Thanatos. Assim eles podem se despedir também. — Marisa disse.
— Mamãe, espero que me perdoe. Não consigo acreditar que nada disso aconteceu, te vejo, parece apenas que está dormindo. Será que é egoísta querer deixar você assim agora sempre? Posso te ver, tocar, sentir seu calor. Desligar acabaria com tudo isso. Podia fugir com você para um lugar bem longe. Cuidar para toda a vida. Eu continuaria podendo dividir meus medos, angústias e felicidade com você. Eu não consigo acreditar no que está acontecendo. Irei acordar a qualquer hora. Certo? — Minha mãe estava viva. Certo? Eu podia ver o coração dela batendo. Sua oxigenação. Sentia seu calor. Ela está viva! Né?
— Sarah? — Thanatos segurava nossa filha. Eu balancei a cabeça e me agarrei com minha mãe. Eu tinha que proteger ela.
— Filha, por favor. Deixe sua mãe descansar. A luta foi dolorosa. Deixe ela ir. Seria egoísmo da nossa parte a prender aqui. Ela gostava de viver intensamente. Tenho certeza que odiaria a ideia de viver dessa forma. — Meu pai falou.
— Seria matar ela. Desligar vai matar ela. Ela está viva, está vendo? O coração está batendo. A oxigenação está certa. Como podemos desligar, ela está vivíssima. Os sinais estão bons. O coração ainda bate no seu corpo. — Expliquei nervosa.
— Sarah, todos esse sinais são por causa das máquinas. Assim que desligar, tudo isso vai parar. O corpo da sua mãe já não faz o básico para manter ele vivo. — Marisa explicou. Como se eu não soubesse. Será que sei?
— Marisa, pode desligar tudo. Eu sou o responsável legal por ela. Desculpa, filha. Tenho certeza que um dia você vai entender. — Meu pai falou.
Tudo foi tão rápido. Thanatos em segundos passou Ana para os braços do meu pai. Marisa se aproximou das máquinas. Tentei impedir, mas Thanatos me segurava.
— Me solta! Não, não faz isso. Não! — Gritei, mas parecia que ninguém estava me ouvindo.
Marisa continuou. Ouvi os barulhos das máquinas avisando que os sinais estavam baixando, mas Marisa desligou eles também. O silêncio invadiu o quarto. Thanatos não me soltava de forma alguma. Estava abraçado comido. A respiração da minha mãe foi deixando cada vez mais fraca. Marisa estava do lado segurando seu pulso. Durou certa se 10 minutos antes de Marisa declarar.
— Hora do óbito: 17:03. — Marisa disse com os olhos cheios de lágrimas
— Não! Não! Me solta. Ela matou minha mãe. Você matou a minha mãe. Pega o carrinho. Faz ressuscitação. Não deixa minha mãe morrer. — Gritei. Me debati tanto que consegui me soltar de Thanatos. Uma dor enorme me engolia. Senti como se estivesse caindo em um abismo enorme. Eu não conseguia respirar.
— Sarah, sua mãe não resistiu. Ela faleceu. Meus sentimentos. — Marisa disse exatamente como dizemos a família dos pacientes, para que eles consigam compreender exatamente o que havia acontecido. Já que nesses momentos, o cérebro demora para digerir a informação.
A declaração de Marisa pareceu a gota d'água para transbordar. Naquele momento, eu gritei agora minha mente e corpo me ouvirem, mas parecia que não estava mais no controle de mim. Comecei a quebrar tudo que estava no quarto. Joguei jarros no chão, luminárias, tudo que eu via pela frente. Até senti Thanatos me segurando novamente.
— Me solte! Estou mandando me soltar. — Gritei. Ana começou a chorar. Meu desespero apenas aumentava. A respirar estava cada vez mais difícil.
— Eu te amo demais para deixar você se ferir. — Thanatos disse mostrando o sangue nas minhas mãos. Não fazia ideia de como havia me ferido. — Me perdoa, mas precisamos fazer isso. Você precisa se acalmar.
— Do que você... — Estava tão focada em Thanatos que não vi Marisa se aproximando. Quando notei, foi por sentir uma agulha entrando rapidamente no meu braço. — Não basta matar a minha mãe, quer me matar também? Marisa, eu pensei que você era minha amiga. Eu te odeio. Você é um monstro.
Não, Marisa não era. Eu não conseguia controlar minha boca, atoa ou pensamento. Algo parecia controlar minha atitudes. Ana chorava cada vez mais alto. Meu pai não conseguia acalmar ela. Marisa estava na minha frente chorando.
— Não fique assim, ela não está no seu juízo normal. Ela acordará amanhã normal. Sarah está em um momento delicado. Perdoe ela — Thanatos falava tão manso, me segurando e acariciando meu cabelo. Ele estava certo. Eu estava arrependida já do que disse.
— Eu sei. Assim que as mulheres tem os bebês. Os seus hormônios ainda estão a flor da pele. Tudo fica muito intenso. — Marisa disse. — Minha maior preocupação agora é a Ana. Ela é um recém-nascido, precisa da mãe.
Senti meu corpo perdendo as forças. Só conseguia ouvir Ana chorando sem parar. Eu deveria está consolando ela? Não. Está tudo bem me jogar do abismo. Nada disso importa mais. Eu não quero mais acordar.
— Sarah! — Ouvi Thanatos gritar — Eu te amo! Eu e sua filha precisamos de você. Quando você voltar, estaremos em casa. Vamos lutar juntos.
Em casa? Minha filha? Porque isso parece tão vazio agora? Ana está chorando novamente. Será que ela está tão desconsolada quando eu? Tanto faz. Estamos indo de volta ao morro.
— Será que ela vai demorar para acordar? — Jade perguntou.
— Não sei, mas quando ela descobrir, talvez nunca mais nos perdoe por isso. — Thanatos disse parecendo com uma voz triste. — Depois de tudo que aconteceu, quando ela deixar sabendo, não sei mesmo como vai lidar com tudo isso. Nem eu estou acreditando que isso aconteceu. Tudo foi tão rápido.
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Atualizado até capítulo 120
Comments
Claudia
muito sofrimento né não...!? nossa!!!
2025-04-10
0
Viviane Ramos Ramos
lindo capítulo me senti como Sarah tadinha
2023-11-05
6
Ana Cláudia Andrade
autora que capítulo foi esse, nossa fique emocionada 😪
2023-10-15
3