Por Acaso O Morro Se Transformou Em Meu Lar

Coleira para crianças

— O que você...— Minha pergunta foi interrompida antes que eu pudesse terminar, por uma queima de fogos e muita gritaria vinda de todo lugar que passavamos. Parecia um carnaval.

— O morro está em festa. Todos estão comemorando a chegada da nossa filha. Desculpa não avisar sobre isso — Thanatos terminou de falar e Ana abriu o berreiro.

— Acho que ela não gosta muito da comemoração. — Brinquei e me virei para Ana — Minha pequena tem medo? Se assustou com o barulho? Não se preocupe. Mamãe e papai estão aqui. Nada vai ter acontecer.

Eu só precisei fechar a boca. O carro freou com tudo. Por reflexo, acabei me agarrando com a cadeirinha. Quando me virei para ver o que tinha acontecido, Thanatos nos olhava preocupados.

— Estamos bem. — Respondi acariciando o rosto dele. — O que aconteceu?

— Um menino passou correndo, por sorte, eu vinha bem devagar, consegui parar antes de chegar nele, mas acabou sendo uma parada brusca. Estão mesmo bem? Posso ligar para Marisa se precisar. — Thanatos perguntou me olhando da cabeça aos pés.

— Sim. Eu e Ana estávamos muito bem. E a criança? Se feriu? — Questionei. Do banco de trás, eu não conseguia ver o que acontecia.

— Vou descobrir agora. Primeiro precisava checar que vocês estavam bem. Não vou demorar. Não saiam daqui. — Thanatos disse antes de sair do carro. Eu tinha me esquecido de um detalhe, Thanatos me fez prometer que não deixaria ninguém ver o rosto da Ana. Isso quer dizer que fotos poderíamos ter nos celulares.

Fiquei tentando fazer Ana parar de chorar, mas ela era obstinada, não cedia tão facilmente, tão caprichosa como o pai. Quando finalmente adormeceu, Thanatos abriu a porta, entrou com carro e fechou com força, fazendo ela se assustar, voltando a chorar.

— Não conseguiu fazer ela parar de chorar? Quer que eu tente? Você parece cansada e irritada. — Thanatos me olhava preocupado.

— Ela tem um sono leve. Não está acostumada a barulho ou luz, ela já já deve se acalmar novamente. E a criança, como está? — Perguntei preocupada. Também não contei a ele a verdade. Só ia fazer se sentir culpado por nada. Thanatos não havia feito de propósito.

— Só ralou os joelhos, mas levou uma tremenda surra na rua da mãe. Ela gritava, chorava e batia ao mesmo tempo. Dava para ver a mão dela tremendo. As crianças são muito perigosas na rua. — Thanatos parecia com mil preocupações na cabeça.

— Está com medo que Ana corra na frente de um carro? — Perguntei tentando entender onde estava vagando seu pensamento.

— Não, apenas estou pensando como ser pai é assustador. Aquela mãe está sentada em uma calçada tremendo, acho que cansou de bater no filho, mas ainda assim, se algo acontecesse, ela sempre se sentiria culpada e todos também culpariam ela, mas para uma criança correr para rua é questão de segundos. Às vezes, não somos tão rápidos em nossas reações. — Thanatos parecia estar com o pensamento longe.

— Você é um péssimo dono do morro. Acaba com todo aquele negócio de bandido mal que faz parte do seu personagem.. — Brinquei.

— Será que vende coleira para criança na Shopee? Será que tem do tamanho de Beatriz e Ana? — Thanatos pergunta ligando o carro. — Seria ótimo manter elas seguras e sem risco de fulga.

— Que? Você quer colocar uma coleira nas nossas filhas? Não mesmo! Enlouqueceu? — Falei assustada.

— Não é para sempre. É até aprenderem o perigo de correr sem olhar para os lados ou não se perderem. É um bom plano, né? — Thanatos explicou.

— Nem imagino o que fará com os namorados delas duas. — Brinquei. Certeza que ele está tirando com minha cara com a história de coleira.

— Ah! Neles vou brincar de tiro ao alvo. Quero ver quem será o corajoso que vai tocar nas minhas filhas. — Thanatos disse rindo.

— Você está brincando, né? — Perguntei assustada, mas desconfiava que fosse verdade.

— Quem sabe? Lembre que eu sou o vilão da história aqui. — Thanatos disse piscando o olho para mim. Eu disparei a rir.

— Muito, muito vilão. Super assustador. — Falei quando estávamos entrando na mansão, do portão eu já podia ouvir gritos, mas não conseguia entender do que se tratava.