Quando me dei conta, eu estava na frente da primeira casa que morei depois de ser adotada pelos meus pais. Tenho lembranças tão doce dessa casa, passei boa parte da minha infância. Ela sempre tinha cheiro de bolo ou biscoitos.
— Olha! O balanço que meu pai colocou na árvore usando eu era pequena ainda está ali. Lembro que pedi uma casa na árvore, ele me disse que só conseguia o balanço. — Pensei em voz alta indo em direção ao balanço, sentei nele e senti como se tivesse sido abraçada, sempre me senti assim nesse lugar?
— Está se divertindo no balanço? — Minha mãe perguntou me empurrando no balanço com força, fazendo ele se mover para frente e para trás.
— Mamãe! O que você.. — Não podia acreditar no que eu estava vendo. Será que havia sido tudo um pesadelo?
— Sabia que você ficou com raiva de todos nós por causa desse balanço. Não conseguia aceitar que não podia ter uma casa na árvore. Passou muita tempo sem nem ao menos se aproximar do balanço. Um belo dia, eu estava sentada e você se interessou. Rimos muito nos balançando nele. — Minha mãe relembrou me empurrar.
— Eu lembro vagamente, mas tenho várias lembranças desse balanço. — Comentei sorrindo.
— Sabe que esse não é o mesmo balanço, certo? Ele quebrou quando você era mais nova. Você chorou muito quando dissemos que iríamos colocar um novo. Disse que não podia, tinha que ser aquele balanço, não queria mudar de jeito nenhum. Você sempre teve muito medo da mudança. Mesmo assim, trocamos ele. Você chorou por semanas. Disse que nós odiava. Que apenas gostava daquele balanço. Lembro que também falou que nunca mais brincaria com nenhum balanço que não fosse aquele, mas um dia, suas lágrimas secaram, você viu outra pessoa brincando no balanço. Era filho de uma amiga minha da escola. Raramente eu encontrava com ela. Seu marido não gostava que ela saísse. Você fez amizade quase instantânea com aquele garoto e juntos brincaram no novo balanço. Você nem lembrou do balanço que dando chorou, certo? — Minha mãe contou a história. Me levantei do balanço na mesma hora.
— Isso não é sobre o balanço, né? — Perguntei olhando para ela. Minha mãe parecia muito mais nova. Parecia uma versão dela de quando eu era criança.
— Não. É sobre a vida. Acontece que algumas vezes na vida perdemos ou se quebra algo que amamos muito, mas mesmo assim, não quer que isso vá desaparecer, ficará na nossa memória eternamente. Quem amamos nunca morre, sabe? Eles vivem eternamente em nossas lembranças. Como agora. Eu sou apenas reflexo de uma memória sua. — Minha mãe disse. Eu me aproximei, mas cada passo que eu dava, ela para mais longe de mim.
— Vamos voltar? Eu prometo que te visitarei mais. Não vou mais brigar com você por coisas bobas. Serei a filha que você sempre quis. Vou parar para aprender todos os bolos e sobremesas que você sempre quis me ensinar. Vamos voltar? Eu farei o que quiser para que faça isso. Eu não saberei viver sem você. — Não era mentira. Eu não imaginava a vida sem a minha mãe. Sabia que ela estava doente, mas nunca pensei sobre a morte dela. Ela era imbatível para mim. Não tinha como me deixar.
— Sarah, você foi a filha perfeita. Abdicou de tanto por mim e seu pai. Eu nunca tive nada para dizer sobre você. Sempre cuidou e zelou por nós. Mesmo distante, manteve presente com ligações, mensagens e presentes. Você em momento algum, mesmo com a vida agitada, esqueceu de mim ou do seu pai, mas agora, você precisa levantar a cabeça, tem uma família esperando por você. Minha neta chora sentindo falta da mãe dela. Você precisa ser forte. Por você, por ela e por seu marido. — Minha mãe disse com um sorriso lindo.
— Mãe, vamos trocar? Porque tem que ser você? Eu... Você saberia fazer tudo melhor que eu. Porque foi você? Podia ter sido eu. Mãe, não tem como eu ir no seu lugar? Por favor. Volta. Eu vou no seu lugar. — Sentei no chão chorando, colocando minhas mãos no rosto. Meus sentimentos eram confusos. Ao mesmo tempo que eu queria ir no lugar dela, sabia que não podia. Tinha minha filha e Thanatos.
— Não, você não pode. Sabe disso melhor que eu. Eu já vivi, amei e cuidei na minha bebê. Agora é sua vez de fazer isso. Sabe, Sarah, desde pequena você sempre fez de tudo para minha felicidade e a do seu pai, mas agora você tem que viver para você. Tudo que podia ser feito por nós já foi feito. É a sua vez de viver. Saiba que sempre estaremos com você. E também, por nossa neta. — Minha mãe me abraçou. Eu não conseguia sentir ela, mas era caloroso aquele abraço.— Adeus, meu bebê. Você foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida. Tenho certeza que Ana será seu farol.
Desnorteada, acordei na cama, ao meu lado estava Ana, com sua mão sobre a minha. Ao lado dela estava Thanatos acariciando a cabecinha dela. Ele parecia exausto.
— Bom dia, amor. Como se sente? — Thanatos pergunta.
— Drogada. Marisa não pega leve mesmo. — Perguntei olhando para Ana, seus olhos estavam vermelhos, parecia ter chorado. — O que aconteceu enquanto eu dormia?
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Atualizado até capítulo 120
Comments
Claudia
muito emocionante esse capítulo...🥺😥
2025-04-10
0
Marisa Araujo
chorando e lembrando da minha mãe que não está mais aqui
2023-06-02
7
Deisinha
por q não eu, demora para entendermos
2023-05-29
5