Não lembro de nada dentro do avião, nem mesmo minha entrada. Talvez Marisa tenha me dado algo ou seja apenas meu cérebro não querendo aceitar a realidade. No fundo, nada disso me importava. Pisquei, estávamos descendo do avião, quando fechei mais uma vez, já estávamos no hospital.
— Minha filha! Que bom te ver. Está linda. — Meu pai disse me abraçando com um sorriso.
— Você está sorrindo? Mesmo depois do que aconteceu com minha mãe? — Me sentia indignada. Como ele poderia sorrir. Eu estava devastada por dentro.
— Filha.. Não me entenda mal. Estou lutando para fazer o último pedido da sua mãe. Ela não queria que ninguém chorasse por sua ida. Ela sabia que estava com os dias contados. E me fez prometer que não derramaria uma lágrima sequer por ela. Que voltaria a viver, sem olhar para trás. — Meu pai explicou. Eu não queria ouvir nada daquilo.
— Não vou deixar desligar os aparelhos. Minha mãe não morreu. Ela vai acordar. Milagres acontecem. — Falei olhando nos olhos do meu pai antes de entrar no quarto.
Senti meu coração quebrando em cacos. Minha mãe estava muito mais magra do que eu me lembrava. Havia olheiras em seus olhos fundos. Pálida como papel. Tinha envelhecido no mínimo uns 10 anos desde a última vez que nos vimos. Eu me aproximei. Deitei na cama ao lado dela.
— Mãe, sabe... Agora eu entendo como ser mãe é difícil. Ana chora toda hora. Acalmar ela é tão estressante. Também é a inimiga do sono. Será que é mesmo normal um bebê acordar tanto de madrugada? Ela nasceu bem pequena, mas cheia de saúde. Sabe o que é engraçado? Várias vezes me desespero ou vou olhar se ela está respirando. Mesmo sabendo que ela não tem nada, mas sempre verifico. Que boba, não? Aliás, sempre foi tão doloroso e difícil amamentar? Ninguém nunca me disse esse detalhe. Eu fiquei muito surpresa. Também tive muita dificuldade para dar banho nela. Ela é tão pequena. Molinha. Tenho a sensação que posso derrubar ela a qualquer momento. — Eu falei com minha mãe. Esperando sua resposta. Por tantos anos ela foi minha melhor amiga. Quem me estendia a mão no meio da tempestade. O ser mais belo que me confortava independente do que havia acontecido. Quem não me julgou, apenas aceitou. Ela me escolheu como sua filha. Minhas lágrimas caíram quando percebi que ela não ia responder.
— Sarah... — Thanatos me chamou. Eu não havia notado que ele havia entrado.
— Não adianta. Eu não vou deixar ninguém tocar nela. Minha mãe vai acordar. — falei aquecendo as mãos da minha mãe com as minhas.
— Ela não vai acordar, meu amor. Já se foi. Eu sei como dói, mas você tem que compreender. Sua mãe não está mais aqui. Seu pai está sofrendo com tudo isso. Foi a companheira dele por anos. Ele viu ela definhando em uma luta interminável contra a doença. Você precisa libertar seu pai. — Thanatos disse.
— Ela não pode doar órgão, né? Mesmo que eu desligar agora, ela não poderá nem sequer viver em outra pessoa. Se eu deixar desligarem agora, vou perder minha mãe para sempre. Ela vai acordar. Quando souber que eu estou aqui, ela vai. Eu tenho certeza. Minha mãe não me deixaria. — Eu sabia que Thanatos estava certo, mas eu não podia aceitar perder minha mãe. Ela tinha que acordar.
— Sarah, você sabe exatamente o que está acontecendo. É médica. Eu sei, você sabe. Sua mãe não vai acordar. Você está vivendo as fases do luto. A primeira fase é a da negação. — Marisa disse sentando na cama.
— Você conversa com ela? Preciso ficar com a Ana. Estou ouvindo o choro dela daqui. O avô não está sabendo lidar com ela. — Thanatos falou com um sorriso falso antes de sair.
— Sarah, você precisa deixar sua mãe ir. Você sabe que ela partiu. O quão difícil foram os últimos meses para ela. Nem sequer parece a mesma mulher que esteve em seu casamento. Sua mãe enfim descansou da luta que travava. Deixe ela ir. — Marisa me aconselhou. Eu não conseguia parar de chorar. — Eu sei que é um momento delicado, mas Ana precisa mamar. O choro dela é de fome. Sabe disso.
— Marisa, a única coisa que sei nesse momento é que não posso deixar desligarem as máquinas da minha mãe. E se ela acordar? — Milagres acontecem na medicina direto.
— Tome. Veja a ficha desse paciente. Como médica, acha que qual seria o melhor a se fazer. — Marisa me entregou uma ficha sem nome.
— Não estou em condições de fazer isso agora. — Respondi, mas ela insistiu.
O relatório era bem detalhado, com vários detalhes sobre o declínio do paciente. Seu corpo estava parando pouco a pouco. Havia metástase por todas as partes do corpo. Nenhum remédio funcionária. Essa paciente deveria estar vivendo um inferno. Não deveria nem comer ou ir ao banheiro. Estava sobrevivendo apenas. Não era vida.
— Ela está com os dias contados. O que você fará? — Perguntei triste. Pensando na família, como eles receberiam a resposta.
— Sarah, essa é a ficha médica da sua mãe. Percebe que mesmo em um milagre, ela conseguisse acordar, ainda assim, morreria em alguns dias? Como médica, qual seria a opção mais acertada para ela? — Marisa perguntou. Senti uma raiva nascendo dentro de mim.
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Atualizado até capítulo 120
Comments
Joselia Freitas
É muito difícil de julgar,😞🤔
2024-01-04
6
Rosilda❤️🌹
E complicado aceitar a perda de ente ou pessoa muito querida, principalmente uma mãe! 😥
2023-07-03
7
Vanessa Almeida
ninguém quer perder quem amamos principalmente nossa mãe que é o bem mais valioso, difícil decisão
2023-05-11
4