Capítulo 15

Malu

Por mais que eu esteja morrendo de saudades do Luís, e da turma, foi bom passar esses dias afastada de tudo.

Meus avós até tentaram morar na antiga casa da minha mãe, aqui na cidade, quando eu era pequena, não queriam perder nada do meu crescimento, mas ficaram pouco tempo, sentiam muita falta do sítio e eu consigo entender o motivo. Todas às vezes que volto de lá, sinto como se tivesse recarregado as minhas baterias, e estou pronta novamente para encarar qualquer coisa.

Desde a conversa que tivemos, o Diogo não me mandou mais nenhuma mensagem. Acho que agora ele entendeu que não tem mais volta, e desejo do fundo do meu coração que ele seja muito feliz.

Agora só falta me resolver com a cabeça dura da Helena, para a minha felicidade ficar completa. Mas não quero pensar nisso hoje, faz pouco tempo que cheguei e estou contando os minutos para ver o Luís. Mas, infelizmente, vou ter que esperar um pouco mais, ele está resolvendo umas coisas e disse que assim que der, vira me buscar e que deseja me ver tanto quanto eu desejo.

Estava no meu quarto, desfazendo a minha mala, quando ouvi as batidas na porta, e ordenei que entrasse achando que era a minha mãe ou o meu pai, mas não era nenhum dos dois.

— Podemos conversar? — Helena pergunta, ainda parada na porta após abri-la.

— Claro. — Respondo com a voz baixa e o coração pulando dentro do meu peito. E a observo entrando e sentando a minha frente na cama.

— Sei que acabou de chegar e deve estar cansada, mas eu estava ansiosa para essa conversa e quando o Luís Davi me disse que você já estava de volta, eu não consegui esperar.— Diz encarando as próprias mãos que estão apoiadas nas pernas.

— Não tem problema, seja lá o que veio me dizer, estou feliz que esteja aqui. — Digo e seu olhar encontra o meu.

— Ele me procurou ontem e me contou sobre o primeiro beijo de vocês, e que, na época, você o dispensou por minha causa, mesmo gostando dele. E eu jurava que o seu primeiro beijo tinha sido com o Diogo, já que nunca te vi com outra pessoa.

— Não sabia que tinham conversado... Mas é verdade.

Naquele dia, você não tinha ido à aula, ainda estava se recuperando de uma gripe, mas eu vim correndo para te contar sobre o beijo e te encontrei namorando uma foto dele no celular, e foi aí que me disse que estava apaixonada e eu não tive coragem de falar nada.

Como eu ia dizer: — Desculpa amiga, mas eu acabei de beijar o garoto que você gosta.

— Você deveria ter me contado, Malu. Eu teria desistido dele por você, eu me acostumaria a vê-los juntos, ia querer ver você feliz. Prometemos não deixar nenhum garoto entre nós.

— Não vê que foi o que eu fiz? E fiz porque sabia que faria o mesmo por mim. Achei que me afastando dele, você teria uma chance, já que ele estava sempre aqui na sua casa.

— Mas pelo o que o Thiago me contou, nunca foi por mim e nem por ele, o Davi estava sempre lá por sua causa. Na época eu me iludi, ele estava sempre olhando na nossa direção, e prestando a atenção na nossa conversa... Me iludi e achei que era para mim que ele olhava, estávamos sempre coladas.

— Mas isso é passado, não dá para voltar no tempo. Só quero que saiba que a minha intenção nunca foi trair a sua amizade, sei o quanto gosta dele, acompanhei seu sofrimento quando ele começou a namorar a Elisa... — Ela me interrompe.

— Espera, você está enganada nessa parte, eu nunca verbalizei, mas eu não gosto mais dele, não dá forma que eu gostava, como uma adolescente iludida. Perdi o encanto por ele na primeira vez que vi os dois se beijando.

Chorei, sofri e desisti.

Não fiquei chateada por ver o beijo de vocês, fiquei chateada por não saber que aquilo estava acontecendo bem debaixo do meu nariz e a minha melhor amiga e confidente de uma vida inteira, me escondeu.

— Não foi nada programado, todos os nossos sentimentos que foram sufocados por anos, resolveram se libertar e foi impossível resistir. Mas eu ia te contar assim que estivéssemos de volta, só não queria estragar as nossas férias, eram os nossos últimos dias juntas... — Não consigo mais segurar e deixo escapar algumas lágrimas e ela também.

— Eu estraguei tudo, deveria ter lhe ouvido no mesmo dia e não teríamos perdido esse tempo. Mas você me conhece, eu levo tempo para processar os meus sentimentos.

Me perdoa por ter feito todo aquele drama, eu deveria ter ficado feliz por você acima de qualquer coisa. Deveria saber que se não me contou, tinha motivo para isso.

— Eu só queria contar com calma, me senti uma traidora vivendo um romance com um cara que, eu achava, que você era apaixonada.

— Eu já entendi tudo, não precisa dizer mais nada. Só preciso que me perdoe por ter colocado a nossa amizade em dúvida e quero que me conte tudo que eu perdi.— Rimos juntas em meio as lágrimas.

— É claro que eu perdoo, você é a minha irmã do coração.

E pode perguntar o que quiser, não vou te esconder mais nada. — Ainda estava terminando de falar, quando fui surpreendida com um abraço que me fez cair de costas na cama. E após um longo abraço, entre lágrimas de alegrias e sorrisos inevitáveis, respondi a inúmeras perguntas feitas por ela.