Capítulo 4

Luís Davi

Fiquei confuso e até mesmo triste, ao ver o desespero da Malu quando soube que teria que me beijar. Pensei: O que fiz para essa garota? Por que a ideia de me beijar é tão ruim assim?

Mas, seus lábios diziam outra coisa quando tocaram os meus e tenho certeza que não estou louco, ela não é indiferente a mim. Tinha envolvimento naquele beijo, e até esquecemos que estávamos em uma brincadeira e que tinham outras pessoas a nossa volta até o Miguel nos interromper.

Antes de pegarmos no sono, a Bella cochichou no meu ouvido: — Te ajudei, agora é com você!

Só então eu percebi que ela fez tudo de caso pensado, foi para ela que contei que tinha beijado a Malu, e lembro que foi ela que sugeriu que eu deveria procurá-la e convidar para fazer alguma coisa sem a turma. Mas infelizmente, nada saiu como esperávamos.

Eu já tinha planejado de me levantar antes do nascer do sol para fotografar o momento exato que ele apareceria, aprecio esse tipo de coisa. Me levantei e percebi que a Malu não estava mais deitada no meio da nossa bagunça, mas achei que estivesse no banheiro. Peguei a minha câmera e sai, mas ao passar pela porta, me deparei com ela sentada na namoradeira da varanda, envolvida em um cobertor e de olhos fechados.

— Sempre acorda cedo assim? — Pergunto e ela abre os olhos, parecendo surpresa com a minha presença. Dou alguns passos e me sento ao seu lado, ainda faltavam alguns minutos parar o espetáculo do sol.

— Não, mas hoje eu perdi o sono.

E você, sempre acorda cedo e com a câmera na mão?— Me pergunta e eu sorrio.

— Nem sempre, só quando sei que algo belo vai acontecer e vou poder registrar. — Ela me olha curiosa e eu decido explicar.

— Levantei para fotografar o nascer do sol. Quer vir comigo?

— Para onde?

Ainda estou de pijama.

— Até aquelas pedras. Não tem ninguém por aqui essa hora, o pijama não é um problema. Está mais coberta do que estava ontem de biquíni.— Ela sorri e cobre o rosto.

— Você tem razão. Vamos lá! — Se levantando animada e deixando a coberta ao meu lado na namoradeira.

Caminhamos até às pedras e peguei sua mão para ajudá-la a subir até onde nos sentaríamos para observar o sol, que só demorou uns dois minutos até dar início ao seu espetáculo.

— É tao lindo!

Agora eu entendo você ter madrugado para fotografar. — Diz enquanto fotografo, e eu viro a câmera para ela e aproveito para ter uma lembrança desse momento.

— Não acredito que me fotografou assim, descabelada e de pijama.

— Gosto de registrar belezas naturais. E você estava aí, competindo com o sol... Não resisti.— Seu olhar encontra o meu por alguns segundos, até que ela o desvia para o mar.

— Soube que você e a Elisa terminaram, sinto muito. Vocês formavam um bonito casal.

— Não sinta, foi o melhor para nós dois.— Viro a câmera para o céu e fotógrafo algumas gaivotas.

— Não está triste com o término?— Ela insiste no assunto.

— Você está com o seu? — Devolvo a pergunta e volto a olhá-la. Ela dá um sorriso, ainda virada para o mar e cobre o rosto.

— É horrível o que vou dizer, mas me sinto aliviada. — Me encara e rimos juntos da sua declaração.

— É, realmente, é horrível!

Fiquei até com um pouco de pena dele, e olha que eu nunca achei que vocês combinavam.

Nós frequentamos a mesma academia e toda vez que o via tirando milhares de fotos na frente do espelho, ficava tentando entender o porquê de estarem juntos.

— Não combinávamos mesmo. Por isso terminamos, ou melhor, eu terminei.

Não sei se sabe, mas nos conhecemos em um jantar na casa da minha tia, ele é modelo da agência dela e nós éramos os mais jovens naquela mesa. Por isso ele puxou assunto, me pareceu interessante, além de muito bonito, então trocamos contato e começamos a sair.

No início era divertido, ele me tratava como uma princesa... Mas depois, acho que sem perceber, foi me sufocando.

Tinha ciúmes da minha relação com vocês e sempre inventava programas nos mesmos dias que marcávamos os nossos. E poucas foram às vezes que consegui convencê-lo a fazer algo junto com a gente.

Diogo, 20 anos.

— Por isso ficou ausente em alguns dos nossos passeios. — Comento.

— Sim, ele dizia que vocês atrapalhavam o nosso namoro. Mas eu não queria ficar frequentando aquele monte de jantares cheio de gente esnobe que ele me levava, prefiro mil vezes os nossos acampamentos, nossas trilhas, passeios de bicicleta... E ele queria me moldar.

Mas dei um basta e me Sinto livre novamente para ser quem sou.

— Gosto de quem você é. — Nossos olhares se cruzam novamente e ela inclina a cabeça para trás, pressionando os olhos para olhar o céu claro.

— E você e a Elisa, por que terminaram?— Pergunta ainda encarando o céu. Olho para o mar e respondo.

— Por nenhum motivo parecido com o seu.

Ela gosta de vocês e sempre gostou de participar de tudo, além de ser uma garota muito legal.

Mas outro dia a minha mãe me disse que não devemos ficar com uma pessoa para superar outra, ou só porque seu par gosta de você e isso é cômodo. Acaba não sendo justo com nenhum dos dois.

— Não gostava dela?— Deixando de olhar o céu para me olhar, e eu para de olhar o mar e a encaro.

— Claro que gostava, não consigo me imaginar namorando alguém por um ano sem gostar da pessoa.

Mas... Eu não era apaixonado. Não sentia um frio na barriga quando a via e nem essa vontade louca que eu sinto de beijar e abraçar que sinto quando estou perto de você.