Capítulo 5

Maria Luísa

Desviei meu olhar tentando processar o que tinha acabado de ouvir. Tentando entender se ele realmente estava se declarando ou eu estava entendendo tudo errado.

— Posso te fazer uma das perguntas que guardo a anos? — Volto a olhá-lo e faço que sim com a cabeça.

— Foi mesmo só um beijo para você? Não significou absolutamente nada?— Vejo tanta profundidade em seu olhar, que não consigo mentir para ele.

— Não. Me desculpe por ter dito aquilo, mas eu não podia me envolver com você.

— E por que não?

Você tem noção em quantas partes você partiu o meu coração me dizendo aquilo?

— Não tenho. Não sabia que sentia algo por mim.

Mas não pense que foi fácil te dizer aquilo, doeu em mim também.

— Se foi tão doloroso, por que fez?

— Não tenho direito de te contar, diz respeito a outra pessoa.— Me levanto e ele se levanta em seguida, deixando a câmera na pedra.

— Mas me envolve e envolve tudo que senti ao ser rejeitado por você.

— Não podemos só esquecer tudo isso?

Vamos voltar para casa, daqui a pouco o pessoal começa a acordar e... — Ele me interrompe tocando o meu rosto delicadamente, tirando uma mecha de cabelo que o vento trouxe para a frente dos meus olhos, colocando atrás da minha orelha, e maneou a cabeça.

— Não quero deixar para depois, acho que já perdemos muito tempo e eu nem sei o motivo.

— Luís, você foi o meu primeiro beijo e eu gostei. Mas uma pessoa que eu gosto muito era apaixonada por você e eu não podia magoá-la me relacionando com você.

— E adiantou alguma coisa me magoar?

Eu estou com essa pessoa?

Nós namoramos?

Eu me apaixonei por ela?— Maneio a cabeça com vontade de chorar, porque sei que está certo. Minha recusa só serviu para ela alimentar falsas esperanças a respeito dele.

— É a Helena, não é? Por isso não queria me beijar ontem?— Questiona após alguns segundo em silêncio. E meu silêncio serve como resposta a sua pergunta.

— Agora eu entendo você, são amigas e admiro a sua lealdade. Mas você me dispensar para que ela não sofra, não vai mudar o que sinto por você, só vejo a Helena como a irmã caçula de um amigo, e só tenho carinho por ela como tenho pelos meus outros amigos.

— Talvez eu tenha errado não contando a ela sobre o beijo, mas foi para protegê-la. Você estava sempre na casa dela e achei que um dia poderia se apaixonar por ela.

— E você não ia sentir nada se isso acontecesse? Não ia se importar?

— Eu tentaria superar, o importante era vê-la feliz. — Respondo e ele semicerra o olhar na minha direção.

— Vem, vamos descer. — Pegando a câmera do chão e segurando a minha mão para me ajudar a descer Da pedra sem escorregar.

Caminhamos em silêncio de volta para casa e apenas a Bella estava acordada. Lhe dei um abraço e um beijo de bom dia e subi para o quarto, deixando os dois na sala.

Tomei um banho e enquanto me arrumava, pensei em tudo que ele me disse e, talvez eu tenha sido injusta com os dois, mas fiz o que achava certo na época e agora não adianta mais me lamentar.

— Faz tempo que acordou? — Helena entra no quarto perguntando.

— Faz, sim, o céu ainda estava escuro quando perdi o sono.— Respondo enquanto desembaraço o meu cabelo e ela se joga na cama.

— Aí Malu, falta tão pouco para a minha viagem... Eu vou morrer de saudade de você.— Guardo a escova e me deito ao seu lado, tentando segurar a minha emoção.

— Eu estou tentando não pensar nisso, e você também deveria. Prometemos não tocar nesse assunto durante as férias e aproveitar o máximo de tempo juntas, lembra? — Ela afirma que sim com a cabeça.

— Você tem razão. Vou tomar um banho para despertar e aproveitarmos o dia. — Se levantando e entrando rápido no banheiro, tentando esconder suas lágrimas.

A Helena decidiu passar um ano fora viajando e fazendo alguns cursos antes de decidir qual carreira quer seguir. Tenho tentado não pensar nisso, vivemos grudadas desde que me conheço por gente e sei que ela vai fazer muita falta e não sei se estou preparada para uma despedida, a única coisa que eu sei, é que quero aproveitar cada minuto que ainda tenho ao seu lado antes que entre naquele avião.

Descemos e encontramos toda a turma já acordada. Tomamos café, saímos para fazer um passeio de barco, e aproveitamos o resto do dia conhecendo praias mais distantes da casa que estávamos, e às vezes meu olhar cruzava com o do Luís, mas passamos o resto do dia falando só o básico e necessário. Acho que ele entendeu que é uma situação um pouco delicada.

Pelo caminho de volta para a casa de praia, passamos por um parque de diversões e o pessoal se animou para voltar a noite. Mas eu não estava me sentindo bem e cheguei em casa precisando correr para o banheiro para vomitar, provavelmente foi algo que comi no nosso almoço a beira-mar.

Queriam desistir de ir ao parque por minha causa, mas insisti e disse que só precisava de um banho, dormir um pouco e ficaria tudo bem.

E foi o que fiz, tomei um banho e me deitei, mas antes de pegar no sono, precisei convencer a Helena e o Thiago de não desistir de ir, pois queriam ficar velando o meu sono e não era necessário.

Acordei após horas de sono, me sentindo melhor, e pelo silêncio da casa, sabia que ainda não tinham voltado. E como coloquei tudo que tinha consumido durante o dia para fora, precisava comer algo que aliviasse o vazio que estava no meu estômago.

Desci, fui até a cozinha e me coloquei nas pontas dos pés para ver o que tinha nos armários, e me assustei quando um braço passou por cima do meu e alcançou um pacote de pão, me causando um arrepio ao sentir sua pele encostar na minha.

— Deixa que eu faço um sanduíche para você, senta ali. — Davi, apontando para que eu me sentasse em uma cadeira próximo à bancada.

— Pensei que tinha saído com a turma. — Falo enquanto me sento.

— Eu até ia, cheguei a me arrumar e a pensar que a garota que não se preocupa com os meus sentimentos, não merecia a minha atenção.

Mas não consegui ir e deixá-la sozinha e desamparada, ela poderia precisar de ajuda ou acordar com fome. — Disse enquanto pegava algumas coisas para o sanduíche, e eu debrucei na bancada e escondi meu rosto envergonhada, mas com o coração saltitando por ele ter escolhido ficar comigo.