JEONGHAN
Olhei a hora no relógio do carro, eu deveria estar no estúdio em trinta minutos. Eu deveria ter saído mais cedo de casa, agora não conseguia sair do carro.
Vergonha. Esse era o motivo das minhas pernas não se mexerem. Como eu ia entrar naquela sëx shop e comprar um vibradör Essa ideia tinha sido, de longe, uma das piores que eu já tinha pensado em fazer. Só que eu precisava disso, a Senhora das Canetas Coloridas (apelido íntimo que eu tinha dado a ela) desafiou minha masculinidade.
Após ler mais sobre o surto da Senhora das Canetas Coloridas, eu me senti na obrigação de usar vibradör e provar que não era tão ruim assim. Eu até poderia tentar usar absorventes, mas não me sentia desafiado o bastante.
Só que agora eu não me mexia, um dos relatos no diário incluía vergonha na hora de comprar, que ninguém entendia quando uma mulher precisava... É, ela relatou bem. Na verdade, quando eu li achei ridículo, quer dizer, era como as pessoas se divertiam, qualquer um podia comprar, certo? Errado.
— Vamos Jeonghan — Bati na minha testa. — "Vibradör é tão comum quanto preservativo e não tem motivo para ter vergonha".
Incrível como eu conseguia decorar coisas idiotas como esse mantra da Senhora das Canetas Coloridas.
Respirei fundo e saí do carro. Qual é, eu tinha vinte e cinco anos, não era nenhum garotinho.
Entrei na loja e recebi vários olhares, fiquei com medo que me reconhecessem e a máscara, óculos escuros e capuz não fossem suficientes.
Não tinha nada de errado no que eu estava fazendo, mas a mídia consegue transformar um cara comprando um vibradör em um namoro escondido com alguma fã... Se bem que...
Continuei andando rápido e ignorando os olhares, não era difícil, sempre tinha gente me olhando. Cheguei na terrível prateleira e tinha diversos produtos, cremes de massagem e esse tipo de coisa, fiquei dando uma olhada para disfarçar. Algemas, chicotes... Ah, vibradör.
Fiquei parado na frente das inúmeras marcas de vibradöres tinha uma grande variedade! A Senhora das Canetas Coloridas não relatou isso.
Tinha até as potências e as mais variadas cores e formas. Me assustei um pouco com um que tinha o formato exato de um pênis.
Só de olhar me subiu um arrepio na espinha, como essa velha conseguia deixar uma coisa dessas dentro dela? Na verdade, quanto tempo será? Horas? Teria um mecanismo avisando? Quer dizer, século XXI, já podemos trabalhar com vibradöres de sistema inteligente.
Não sabia qual deles era o inteligente, peguei o que pareceu mais bonito (algo me dizia que a Senhora das Canetas Coloridas gostava de coisas bonitas) e fui para o caixa.
Já estava começando a me arrepender, minha dignidade não valia uma föda por trás, até porque como eu poderia convencer uma mulher sem contar que eu mesmo experimentei isso?
— Garoto, o que está fazendo?
Fui puxado bruscamente. Tomei um susto, mas mantive minha postura. Olhei para trás e dei de cara com um segurança. Não qualquer segurança, era um cara alto que os músculos pareciam que iam saltar do paletó. Senti inveja.
— Estou comprando?
— Não se faça de engraçadinho, uma funcionário viu você escondendo um produto da loja.
Ah isso. Eu estava com vergonha de comprar o vibradör então coloquei dentro do casaco... Meu Deus, parecia roubo.
— Eu vou ser bem direto com você — Coloquei minha mão no ombro do segurança. Processo difícil já que ele parecia ter dois metros e meio de altura. — Tenho que comprar o vibradör para a minha namorada e...
— Certo, garoto, dirija-se ao caixa — Ele pareceu constrangido.
Caralho, como que a Senhora das Canetas Coloridas não gosta dessa coisa de comprar vibrador? Isso abre portas.
Livre de perguntas, livre de seguranças nas lojas... Será que tinha mais alguma coisa que eu pudesse fazer?
Francamente, eu deveria vir aqui mais vezes, nunca fui dispensado tão rápido assim, eu diria isso para a Senhora das Canetas Coloridas assim que eu devolvesse a mala.
— Posso ir mesmo?
— Só vai, cara, boa sorte aí com o seu... Conteúdo.
O segurança praticamente saiu correndo. Eu queria rir, um monstro desses com medo de um vibradör.
Fui para o caixa e tirei o vibradör de dentro do meu casaco. Tinha algumas mulheres na fila, mas eu não sentia mais vergonha, até porque se eu estava comprando isso eu era um bom namorado, ou seja, eu tinha alguém... Ou não, será que eu parecia carente? Porra, eu estava dando meu melhor sorriso.
— Senhor esse brinquedo é da prateleira de cima ou de baixo? — A atendente perguntou.
— De cima... Estou comprando para a minha esposa — Falei bem alto a parte da esposa.
A atendente deu um sorriso que dizia "foda-se". Não me abalei, as mulheres presentes nos outros caixas me olhavam como se eu fosse um príncipe.
— Pena que é casado — Escutei uma dizer.
— Lógico, homem bom nunca fica solteiro... Já eu não dou sorte, meu namorado simplesmente surta só de pensar em entrar numa loja dessas — A amiga dela respondeu.
— Masculinidade frágil.
— Às vezes eles não sabem o que comprar.
— É só ler, grande merda. Aposto que aquele rapaz nem sabe o que está fazendo.
Olhei discretamente para ela e sua amiga. Ela não parecia ser nova, devia até ser mãe, mãe sabe de tudo. É, minha senhora, eu não fazia ideia do que eu estava fazendo.
Paguei meu vibradör e saí da loja. Eu estava atrasado, já tinha sentindo meu celular vibrar no meu bolso. Entrei no carro e guardei o vibradör no porta luvas. Senhor Sang vai me matar.
...***...
— Você está estranho, Jeonghan.
Depois de ficar quase doze horas trabalhando, gravando aquele DVD que nem mostrava minha vida de verdade, ir em vários lugares de Daegu para promover a cidade, ele ainda tinha a coragem de dizer que eu estava estranho?
Eu estava farto, isso sim, só queria ir pra casa e descansar, "falar" com a Senhora das Canetas Coloridas novamente e encerrar esse assunto de masculinidade frágil.
— Estou cansado — Falei estacionando o carro.
— Cansado e ainda quer dirigir, eu não te pago um motorista para isso.
— Eu me pago um motorista, quem ganha o dinheiro sou eu, você só administra ele.
Assim que terminei de falar, percebi o erro que eu tinha cometido. Puta merda. Meu chefe sorriu para mim, um sorriso assustador.
— Quer se tornar um homem?
— Eu...
— Não, tudo bem, pode ser ingrato e ignorar tudo o que eu fiz pela sua mãe, tudo o que eu faço por você — Ele balançou a cabeça. — Se quiser podemos rasgar o contrato, você pode cuidar da sua agenda e tudo o mais, até porque é muito fácil não é mesmo? Eu não faço nada.
— Não foi isso que...
— Foi exatamente isso, Jung Jeonghan! — Ele gritou.
Eu me encolhi. Me sentia o maldito garoto de dezesseis anos novamente, órfão e sem saber o que fazer da vida.
— Me desculpe.
— Não escutei.
— Me desculpe — Falei mais alto.
— Desculpo — Ele deu duas batidinhas na minha perna. — Sabe por quê?
— Não.
— Como não? Bom, eu te desculpo porque amo você como se fosse meu filho, Jeonghan, entenda que eu só quero o seu bem.
— Eu sei.
— Certo, não vamos ficar de mal ok? Vem cá, garoto, me dá um abraço.
E assim eu fiz, como sempre fazia. Eu tentava abrir um assunto, ele fazia eu me sentir mal, nos abraçamos e tudo ficava bem. Só que a cada vez que isso acontecia, eu me sentia mais morto por dentro.
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Atualizado até capítulo 86
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