Era inevitável parar de ler. Depois que decidi parar, fui comer, assistir séries, até mesmo dormir eu não estava conseguindo.
Meu psicólogo tinha razão, eu era um doido. Passei a noite em claro lendo sobre a vida daquela intrigante senhora... Talvez ela não fosse tão velha, uns quarenta talvez... De qualquer forma isso era irrelevante. Ela deveria ter sido uma jovem incrível.
Meu celular começou a tocar. Droga, tinham me descoberto, ela queria a mala de volta. Atendi meu celular já com o coração acelerado.
— Jeonghan.
Respirei aliviado. Era meu chefe.
— Oi.
— Milagre acordar cedo sem que eu tenha que ir aí.
— Cedo? Que horas...
Meu Deus. Eram seis da manhã. Eu não imaginei que fosse tão tarde, quer dizer, cedo.
— Você dormiu? Não passou a noite naquele seu jogo, passou? Isso não é saudável, Jeonghan.
— Férias de um dia também não.
— Engraçadinho — Ele forçou uma risada. — Você terá férias quando terminarmos sua agenda... Mas agora tem que cumpri-la, se arrume, passarei aí em meia hora.
Ele desligou. Era sempre assim, sem conversa nenhuma. Já estava com dor de cabeça e o sono veio assim que atendi o celular.
Levantei, tomei banho e desci para comer alguma coisa. Talvez eu ganhasse uns minutinhos quando falasse que minha mala tinha... Sido perdida. É, perdida, eu não ia devolver esse diário até terminá-lo, meu empresário não podia saber que eu tinha trocado a bagagem ou iria buscá-la, mas se eu dissesse que tinha sido burro e perdido, ele não faria nada.
Afinal não era a primeira vez, por isso que eu viajava com pouca coisa... Porém, dessa vez me fodi legal já que não trouxe nem mochila, eu deveria ter trazido, assim meu diário estaria comigo.
A ideia da velha, que talvez fosse uma quarentona que ficou para a tia, ler meu diário me assustava agora, quer dizer nós dois parecíamos bizarros na mesma medida, mas eu... Bom, eu tinha um talento especial em ser bizarro.
Escutei a campainha tocar. Eu precisava parar de pensar nessa velha, quer dizer no diário. Corri para abrir a porta, e meu chefe já entrou sem esperar ser convidado.
— Você está péssimo — Ele me olhou de cima a baixo.
— Infelizmente, eu sei.
— Hoje teremos uma sessão de autógrafos e depois um pequeno show.
— Pequeno?
— Cinquenta mil pessoas, pouca coisa.
Respirei fundo. Quanto mais gente mais cobrança, mais chances de dar errado.
— A noite estarei livre?
—Não... Por quê? Tem compromisso?
— Que compromisso eu teria? Não tenho vida social.
— E aqueles seus amigos? Aqueles da internet.
Eu o encarei, irritado. Ele não podia estar falando sério. Desde os meus dezoito anos, eu não vivia mais.
— Devem estar com suas namoradas ou fazendo algo de bom da vida.
— É, mas pense pelo lado bom, nenhum deles vale milhões de dólares.
...***...
— Obrigado por virem me ver, eu amo vocês e até o próximo show — Fiz uma reverência.
Saí do palco e caí no chão de tanta exaustão. Algumas pessoas da minha equipe técnica vieram me ajudar, mas eu os afastei, não precisava de ajuda.
— Eu vou chamar o senhor Sang — Um deles falou e saiu correndo.
Eu respirava com dificuldade. Era uma das piores crises de exaustão que eu já tive, talvez fosse por eu não ter dormido um segundo desde que saí do avião.
Meu chefe chegou e se agachou ao meu lado, ele deu dois tapinhas no meu rosto.
— Jeonghan, você está bem?
— Estou, claro — Falei ironicamente.
— Ótimo, vamos encerrar por hoje, vou cancelar a entrevista — Ele não entendeu meu senso de humor. — As fãs vão ficar decepcionadas, mas...
— Eu vou, apenas me ajude a levantar.
— É uma atitude honrosa.
Forcei um sorriso e ele me ajudou a levantar. Fui para o camarim, comi umas barrinhas de cereal e tomei energético. Minha cabeça doía.
— Até quando, Jung Jeonghan? — Perguntei para o meu reflexo no espelho.
Meu eu, cheio de olheiras e suado, me encarou triste. Às vezes eu gostava de pensar que eu não estava sozinho, que tinha uma vida através do espelho, um universo alternativo onde eu podia ser quem eu quisesse...
Descansei por uns quinze minutos, em seguida fui trocar de roupa e retocar maquiagem e cabelo. Depois fiz minha melhor expressão de felicidade e fui encontrar minhas fãs.
Elas não tinham culpa, ninguém tinha além de mim. Às vezes eu me odiava, odiava toda essa situação que eu tinha me metido.
— Você está bem, oppa?¹ Parece cansado — Uma fã um tanto nova perguntou. — Espero que possa descansar esse mês.
— Apresentei muitas músicas, mas estou bem — Sorri largamente. Deus, eu deveria parecer um zumbi. — Descanse também.
Ela sorriu e pegou seu álbum autografado. Foram mais de cem garotas, geralmente eu não atendia muitas pessoalmente, era mais um serviço exclusivo.
Talvez por ser Natal estivesse pior, eu tinha visto anúncios na TV sobre mim, sobre como o número de pessoas da sessão de autógrafos tinha aumentado. Não lembrava de concordar com isso, mas minha opinião nunca era pedida de qualquer forma.
Eu queria ir para casa. Eu ansiava chegar, tomar banho, comer alguma coisa e... Dormir? Não, eu queria ler mais sobre aquela curiosa senhora.
Isso era péssimo, quer dizer, eu tinha vinte cinco anos, era milionário... Por que eu ia querer saber sobre a vida pessoal de uma senhora? Eu deveria estar louco.
Quando a sessão de autógrafos acabou, não esperei meu chefe me dar parabéns e toda aquela porra motivacional que ele sempre falava. Peguei minhas coisas e dei o fora. Infelizmente tinha vindo de carro com ele, tive que chamar meu motorista, pelo menos não era tão tarde.
— Jeonghan, espere — Era o senhor Sang.
— Já acabei, não?
— Já sim... O que você tem de tão importante?
Eu estava ficando com raiva, por que ele sempre tinha que saber sobre tudo? Eu não podia ter nada meu, a única coisa que ele não sabia era sobre os diários... Ainda bem.
— Sono — Menti.
Isso também era importante, mas poderia esperar, só de pensar em deitar na minha cama e ler mais páginas daquele diário, eu já ficava desperto novamente.
— Certo... Descanse, amanhã sua agenda começará mais tarde ok? — Ele pôs a mão no meu ombro. — Pode não parecer, mas eu me preocupo, desde que sua mãe...
— Morreu, você me tem como filho. Eu sei.
— Que bom, garoto — Ele sorriu. — Vai lá descansar, aproveite, uma hora da tarde de amanhã estará renovado!
Forcei um sorriso e entrei no carro.
— Para onde, senhor Jung?
— Casa.
* Forma como garotas mais novas chamam irmãos, amigos, namorados, mais velhos na Coreia.¹
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Atualizado até capítulo 86
Comments
Ilana Barros
já é meu terceiro livro seu autora 🥰 um melhor que o outro e ainda tem as continuações aaaaawwwn tô MT viciada kkkkk vou precisar por meu sono em dia depois
2025-01-18
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Cintra
To começando a gostar
2024-02-20
1