HAYUN
Acabei não lendo nada sobre aquele suposto velho da mala. Dormi a noite toda. Minha tia já tinha voltado do trabalho quando eu e Hana chegamos do aeroporto, ela estava super preocupada já que tínhamos esquecido de avisar.
Como todo mundo estava cansado, ela disse para contarmos depois o que aconteceu para irmos ao aeroporto repentinamente. Então eu a estava evitando, por mais que fosse meio difícil já que ela trabalhava a noite e agora estávamos todas na cozinha fazendo o almoço. Ela e Nana, eu só alcançava os ingredientes.
— Então o que aconteceu hoje mais cedo? — Tia Chun finalmente iniciou o assunto.
— Yun é burra e teve problemas com a mala.
— Não me chame de burra, burra.
— Vocês podem parar? Parecem criança — Ela suspirou. — Você teve problemas, Yun? Por isso está vestida assim?
Hana deu risada. Eu estava com uma das suas calças, o problema não era na cintura, mas no comprimento. Parecia que eu estava usando roupas infantis. Sem contar que Hana era magra como uma modelo e eu tinha mais busto que ela, o que deixava as blusas um pouco desconfortáveis.
— Sim, mas não é nada — Olhei para Hana para que ela entendesse o recado. — Foi um mal entendido, mas como é Natal só poderei resolver depois.
Hana não entendia que se minha tia soubesse de toda a história, ela faria eu devolver a mala... Mala que eu nem tinha mexido ainda.
Eu precisava saber de quem era a mala para contatar o senhor, algo me dizia que ele não ia devolver a minha, nem mesmo sabia como fazer isso já que não tinha nenhum pertence que mostrasse que a mala era minha... Ah não ser..
Ok, tinha o meu diário... Mas só horas depois pensando sobre isso que percebi que meu telefone era o antigo, e meu nome era apenas Hayun, meu endereço na Califórnia também era inútil, ou seja, tudo o que realmente importava eram meus pensamentos vergonhosos. Eu não sei o porquê decidi escrever tudo lá, a verdade nua e crua sobre mim, isso era loucura.
— E você abriu a mala?
— Que mala?
— Hana disse que as malas foram trocadas.
— Hana disse? — Sorri para a minha prima que nem percebeu já que estava entretida nos legumes. — Abri, mas não vou mexer nas coisas dele.
— Dele?
— É um senhor.
— Yun...
— Hana que ficou olhando as Calvin Klein dele.
— Que mentira, Yun, você também olhou comigo e além do mais, você é a tarada aqui!
— Eu...
— Ok, quero essa mala fechada, nada de violar a privacidade dos outros — Tia Chun se irritou. — Que atitude mais feia de vocês duas, até parece que eu as criei assim.
— Você já abriu a correspondência do vizinho.
— Choi Hayun, não me responda enquanto eu estou com uma faca.
Isso nós fez rir, minha tia acabou rindo também.
— Tudo bem, tia, eu não vou mexer nas coisas dele.
Hana olhou para mim e segurou o riso. Ela viu meus dedos cruzados atrás de mim. Mas o que eu poderia fazer? Precisava saber onde estava o meu diário, ou melhor, com quem estava.
...***...
Depois do almoço minha tia foi tirar seu cochilo da tarde, eu e Hana arrumamos a louça e eu pude finalmente ir para o meu quarto.
Hana ia sair com seu amigo Jae, algo envolvendo ficantes. Minha prima tinha a vida mais interessante que a minha. Para começo de conversa, ela não precisava ler o diário de um idoso.
Mas como eu sabia que era um idoso? Primeiro que ele tinha uma agenda/diário, segundo que suas roupas eram todas bem largadonas e simples, terceiro... Ele tinha um livro erótico. Eu não sabia o que fazer com essa informação, só agradeci a Deus pela Hana não ter visto ou ela ia querer o livro para ela.
O idoso, que deveria tomar muita Viagra e bater muita punheta olhando essas mulheres, até que tinha bom gosto, não é todo dia que um homem usa Calvin Klein e é bem perfumado... Ele deixou um kit de perfume, shampoo, condicionar e sabonete na mala.
Ok, eu experimentei o perfume sim, mas suas roupas eram cheirosas demais, foi inevitável não fazer isso. Peguei a revista e folheei umas páginas... Comecei a rir assim que abri no meio da revista.
Uma mulher loira transbordando silicone, tinha um bigode e uma sombra azul feitas a canetinha... Esse senhor tinha senso de humor, eu tinha que admitir. Ri mais um pouco e então continuei revirando a mala... Acabei encontrando a agenda de cachorro novamente, eu ficava chamando de diário pois eu tinha um diário, mas talvez fossem anotações do dia a dia. Isso seria mais eficaz ainda.
A letra era horrível, quer dizer, parecia arte, toda cursiva com voltas e reviravoltas. Interessante ele também escrever em inglês às vezes. Eu não tinha intenção de ler, eu só queria achar um número de celular, mas acabei lendo um pouco da primeira página e fiquei intrigada.
"Estou cansado. Exausto mesmo, acho que até de viver, ok não tão exausto assim... Mas eu queria dormir por sei lá dois dias? Uma semana? Um mês? O trabalho está me consumindo demais.
Às vezes eu me pergunto quando isso vai acabar, já faz tanto tempo que eu aguento, queria ser mais corajoso".
Puta merda. Ele queria a aposentadoria dele, meu Deus, isso era tão triste. Como podiam escravizar esse pobre idoso? Pobre não... Seu perfume deveria custar quase o meu salário, mas mesmo assim. Por que ele não saia dessa vida? Deveria ir na justiça, ele claramente trabalhava há anos. Que mundo injusto.
Eu estava ficando brava com essa situação, decidi pular algumas páginas... Não que eu fosse ler tudo, só queria saber se ficou tudo bem.
"Meu médico disse que faz bem escrever sobre nossas vergonhas e fraquezas, pôr pra fora, então lá vai. Eu já experimentei minha porra para saber se era boa, já disse que era gay para não pegar a irmã do meu amigo no ensino médio (isso foi muita filha da putagem, mas ela tinha bigode, eu não podia fazer nada), eu já gostei da minha professora... Mas quem nunca fantasiou com seu professor?"
Ok, ele era um doente, eu era uma professora! Oh Deus, será que meus alunos pensavam esse tipo de coisa de mim? Esse senhor era muito estranho.
Percebi que eu estava rindo, eu não deveria rir, isso tudo era bizarro demais, mas eu estava me divertindo. Continuei a ler por mais que não devesse.
"Eu não acho que eu tenha feito coisas muito vergonhosas, todo cara já deve ter feito uma dessas coisas pelo menos uma vez na vida. Quando eu lembrar de mais alguma bizarrice, escreverei aqui, agora é melhor eu te guardar agenda (você não é um diário, eu ainda não estou no fundo do poço). É isto, que a força esteja com você".
Que a força esteja com você!? Ele não citou Star Wars, ele não fez isso. Acabei explodindo em risadas e tive que abafar com um travesseiro ou minha tia viria ao meu quarto perguntar que diabos estava acontecendo.
Meu Deus! Talvez ele nem seja tão velho, talvez ele seja um geek quarentão... Não deixa de ser medonho, mas pelo menos não é um velhinho explorado e tarado.
Eu não deveria ler. Fiquei repetindo isso diversas vezes, mas eu estava entretida demais com as histórias desse senhor, tão entretida que quando me dei conta já tinham se passado duas horas.
— Yun, está dormindo? — Hana me fez esconder o diário rapidamente. — Está fazendo o que? Posso entrar?
— Não!
— Eu não ia entrar —. Escutei ela rir. — A mãe está te chamando pra tomar café, se estiver fazendo algo errado, tome um banho por favor.
Quando eu ia levantar pra bater nela, escutei seus passos se afastando. Idiota.
Voltei para a cama, peguei o diário e guardei na mala. Eu ainda não tinha o terminado, eram inúmeras páginas, eu costumava ler rápido, porém sua letra confusa não ajudava muito.
Não queria admitir, mas eu estava gostando muito das histórias e agora não sabia se queria devolver a mala tão cedo.
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Atualizado até capítulo 86
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