Essa Mala Não É Minha
O Natal sempre foi minha época favorita, eu voltava para Daegu, cidade onde fui criada, passava umas semanas com minha tia e minha prima, fazíamos sempre as mesmas coisas, mas nunca me cansava. Era o cronograma perfeito. Mas apesar de amar esse lugar, sentia saudade da minha casa lá na Califórnia. Infelizmente minha tia tinha muito medo de altura e não conseguia nem se imaginar dentro de um avião.
Essa viagem não estava sendo fácil, o tempo estava horrível e já tínhamos passado por inúmeras turbulências. Alguns passageiros estavam agitados, mas agora que já estava de noite a maioria tinha dormido.
Um rapaz até chegou a surtar mais cedo, dizendo que precisava sair do avião ou ia morrer. Achei dramático, mas depois percebi que era algo mais sério do que um medo de avião. De qualquer forma não era problema meu, fiquei passando o tempo assistindo filmes ruins. Estava sem sono hoje.
Estava animada para chegar logo, ver minha família, principalmente minha prima Hana. Somos quase gêmeas, a não ser pela diferença de quatro anos. Sempre cuidei muito da Hana, ela também era órfão de pai como eu, a única diferença era que sua mãe não tinha a abandonado.
Eu era muito grata a tia Chun, mãe da Hana, por ter me acolhido, a filha do cunhado dela, eu podia simplesmente ter ido para um orfanato, mas ela cuidou de mim da mesma forma que cuidava da própria filha. Ela e Hana eram tudo que eu tinha já que meu pai não tinha mais nenhum irmão e meus avós já tinham falecido há muito tempo.
De repente uma mão tocou meu ombro, me fazendo pular de susto por estar distraída. Meu Deus, era aquele rapaz mascarado novamente, o que tinha passado mal mais cedo, ele estava caminhando para o banheiro e se apoiou em mim que estava sentada no corredor. Ele parecia mal... Não, Hayun, ele não parecia mal, isso não é problema seu. Coloquei os fones e encostei minha cabeça no banco. Dormir era o que eu precisava.
Porém não consegui. Imagens do cara passando mal sem ninguém para ajudar começaram a invadir minha mente. Antes que eu me desse conta, estava levantando e caminhando até os banheiros do avião. O rapaz estava no banheiro com a porta aberta, suas mãos na pia tentando encontrar apoio, sua testa estava suada.
— Você está bem? — Falei em um tom baixo. Ele deu um pulo para trás. — Desculpe, não quis assustar.
Ele não disse nada. Cara estranho, andando de máscara por aí e suando no inverno. Bem ele não estava.
Como se eu não estivesse ali, ele voltou a posição anterior, porém para lavar o rosto. Como se não quisesse que eu o visse, ele ficou meio virado, de costas para mim.
Percebi que ou eu ajudava ou eu ia embora. Fiz o que qualquer pessoa faria, ajudei. Eu estava com meu remédio de enjôo no bolso, tirei um e ofereci a ele. Antes de olhar para mim, ele se cobriu com a máscara. Será que ele tem algum tipo de cicatriz? Bom, não é como se eu fosse rir dele ou algo do tipo.
— Obrigado — Ele assentiu.
— De nada — Sorri.
Ele voltou a posição anterior. Era um sinal para eu me retirar. Minha boa ação de natal estava feita, voltei para o meu lugar e fui dormir dormir.
...***...
O voo passa muito mais rápido quando dormimos. Acordei com as luzes sendo acesas novamente, íamos decolar.
Assim que o avião decolou, peguei minha mochila e saí do avião, agora só precisava buscar minha mala. Estava tudo uma confusão, gente atrasada, gente estressada. Porra, era natal, onde estava o espírito natalino?
Fui até o despache, tinha uma multidão amontoada. Esperei calmamente pela minha mala, ela até veio mais rápido do que imaginei.
Saí do aeroporto e procurei Hana. A encontrei encostada no carro, mexendo em seu celular e completamente desligada do mundo à sua volta.
— Com licença, quanto é a corrida?
— Não é aplicativo... Hayun! — Hana notou minha presença.
Nos abraçamos apertado. Eu sentia falta dela, as mensagens que mandávamos todos os dias não eram suficientes.
— Como você está? — Sorri.
— Com sono, que história é essa de voo durante a noite?
— É mais barato sabia?
— E mais frio, mais cansativo, mais perigoso, mais...
— Ok, é mais tudo de ruim, já entendi. Vamos embora? Me dê a chave.
— Quer matar a gente? — Hana colocou minha mala no banco de trás.
Dei risada e entrei no banco do passageiro. Eu era uma boa motorista sim, só tinha algumas leis... Feitas por mim. Mas em minha defesa, eu não estava mais acostumada com as leis de trânsito de Daegu.
— O que tem feito? — Puxei assunto.
— Você sabe o que eu tenho feito.
— Eu sei, mas como tem ido?
Hana queria ser jornalista, mas infelizmente não estava conseguindo emprego em lugar nenhum e já fazia três anos que ela cursava jornalismo. Era questão de tempo até que se formasse.
— Sabe como é, sempre tem alguém melhor que eu.
— Não é verdade, eu te contrataria.
— Você é minha prima.
— Sim, mas eu não gosto de você.
— Aí meu coração, Hayun.
— Estou brincando.
— Eu também.
Nós rimos. Minha tia geralmente acreditava nas nossas "brigas", se uma ficava mais quieta, ela já achava que algo tinha acontecido.
— E os namorados? — Perguntei.
— Minha cama? Ela está bem, obrigada.
— Deixa disso, você disse que estava saindo com um garoto.
— É, mas ele não está saindo comigo.
— Que deprimente.
— Mas e você?
— Eu trabalho — Dei de ombros.
Hana me olhou brevemente. Ela ia se irritar comigo. Eu sempre desviava de perguntas sobre relacionamento, até porque eu não tinha uma vida amorosa há muito tempo.
— E por isso não pode sair?
— Exatamente, você é tão esperta, Nana.
Ela riu. O assunto relacionamento morreu aí. Ficamos conversando sobre qual lugar iríamos nesse natal. Depois da ceia, minha tia sempre ia dormir e eu e Hana íamos para algum lugar fazer absolutamente nada.
No último ano tínhamos saído para beber já que agora ela é uma adulta. Esse ano, eu queria só ficar vendo a neve.
Chegamos e eu andei o mais cuidadosa possível para não acordar minha tia, ela tinha o sono muito leve.
— Você sabe que minha mãe não está em casa, né? — Hana perguntou quando me viu entrar silenciosamente.
— Você só me diz agora? Eu quase escorreguei lá na frente tentando andar na ponta dos pés.
— Estava engraçado.
— Palhaça... Está frio aqui, onde fica o aquecedor?
— Americanos — Ela revirou os olhos. — A gente usa lareira, remember?
Minha prima amava me provocar, era impressionante. Joguei minha mochila nela.
— As casas por aqui também tem aquecedor.
— Não a nossa.
— Então vai buscar lenha ou sei lá o que, quer que a convidada morra de frio?
— Que convidada? —. Apontei para mim. — Você não é convidada.
— Passei horas dentro de um avião, tudo que eu queria era um banho e você fala...
— Estou indo buscar a porcaria da lenha. Mas amanhã você vai me ajudar.
— Claro que vou —. Ela me olhou desconfiada, mas foi mesmo assim. — MUITA LENHA, NANA.
Até parece que eu ia ajudar, ela era totalmente capaz de fazer isso sozinha. Para ser justa, eu estava disposta a cuidar da louça e tarefas domésticas dentro de casa.
Dei uns pulinhos para me esquentar e peguei minha mochila, que Hana tinha largado no chão, minha mala e estava prestes a ir para o meu quarto quando escutei Hana me chamar na porta.
— Yun.
— O que?
— Esqueci de avisar, o chuveiro queimou.
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Atualizado até capítulo 86
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