Era tudo o que me faltava. Um inverno congelante e o chuveiro queimado. Hana sabia muito bem que eu chegaria hoje.
— Você sabia que eu estava vindo — Reclamei.
— Para de reclamar, está bonzinho — Ela disse e me ajudou a descer do banquinho. — Nem demorou para consertar, era coisa mínima.
Ela testou o chuveiro. Fiquei só observando. Hana sorriu para mim e fez um "ok" com a mão. Irritante.
— Obrigada, melhor prima — Ela agradeceu. Comecei a me despir. — Espera eu sair!
— Problema seu — Falei e ela pegou o banquinho já indo embora.
Fechei a porta e tomei meu banho. Para sair foi uma tristeza, a casa estava fria demais. Enrolei uma toalha no corpo e saí correndo para o quarto.
Encontrei minha prima sentada na minha cama, olhando para a minha mala.
— Me alcance um casaco logo.
— Desde quando você vê esse tipo de coisa? — Ela perguntou e me mostrou uma revista pornô. Hana estava rindo. — Que tristeza, Hayun, você está procurando um padrão ou o que?
Tomei um susto. Aquilo não era meu. Ok, eu estava solteira, mas isso não significava que eu andava... Me divertindo com revistas. Ainda mais de mulheres.
— Isso não é meu, essa mala não é minha.
— Como não... Uau, Picasso, você pintou todas as pessoas da revista.
Realmente. Enquanto Hana folheava, eu podia ver as mulheres com sombra e batom feitos à mão.
— Isso não é meu, e pare de mexer nas coisas dessa... Pessoa.
— É um homem.
— Como você tem tanta certeza?
— Tem roupas masculinas aqui, do que mais você precisa? E também a revista só tem mulher.
— Mulheres podem usar roupas de homem sabia?
— Lá vem.
— Só estou dizendo... Me dê seu casaco, estou morrendo de frio.
— Eu não vou te dar meu casaco, usa o desse tio aqui.
— Pelo amor de Deus, ele pode ter alguma doença de pele, quer que eu morra?
Tirei o casaco da Hana na base da agressão mesmo, ela não me obedecia. Felizmente eu tinha roupas do inverno passado e também poderia usar as dela enquanto minha mala não estava comigo.
Fui até meu antigo guarda roupa e procurei alguma coisa para vestir. Estava absurdamente frio.
— Seu amigo é um escritor, Yun, ele tem um diário.
Diário. Assim que ela disse essa palavra, entrei em pânico. Meu diário, minha vida, meus medos, vergonhas, desastres... Meu Deus, tudo de ruim que já tinha acontecido comigo estava com um cara esquisitão que pintava revistas playboy.
— Eu preciso da minha mala.
— Sim, amanhã você busca.
— Não, eu preciso agora, nós vamos agora. Vai saber com quem está minha mala.
— Hayun, para de surto, seus documentos estão na mochila, são só umas roupas.
— Não! Tem coisas importantes lá.
— O que? Provas dos seus alunos?
— Isso, são de extrema importância, todo esse trabalho perdido... — Balancei a cabeça. — Preciso da mala.
— Você não vai ao aeroporto, Yun, são três da madrugada.
Eu não podia deixar isso assim, como eu ia dormir? Meu Deus, aquele diário era minha morte na sociedade.
— Tem razão, eu não vou —. Ela sorriu. — Nós vamos.
...***...
Hana não era uma pessoa fácil de irritar, na verdade, eu era a única que conseguia isso só abrindo a boca. Então o clima dentro do carro estava mais que insuportável.
— A gente vai pegar essa mala e dar o fora.
— Você acha que eu quero fazer mais o que? Tomar café com os seguranças?
— Eu não sei, você vive tendo ideias imprevisíveis — Ela disse irritada.
Não era verdade. Só às vezes que eu exagerava, por exemplo quando éramos crianças e meu professor me entregou um dinheiro que tinha caído do meu bolso, então eu fiz minha tia fazer um bolo de agradecimento para ele. Hana ria disso até hoje.
— Com licença, eu perdi minha mala nesse voo aqui — Entreguei meu checkout. — E acabei pegando uma mala errada, poderia ver se alguém a entregou?
— Só um instante — O atendente pediu. Esperei ele fazer a mágica dele no computador. — Não senhorita, nenhuma queixa por troca de bagagem.
— Como assim? Ninguém ligou? Ninguém disse nada?
Até Hana estava surpresa, até porque essa pessoa não tinha trazido muitas roupas, ou seja, provavelmente estava de viagem assim como eu.
E que tipo de pessoa viajava e quando chegava em casa não tomava banho? Meu Deus, ainda bem que tive o bom senso de não vestir nenhuma daquelas roupas imundas.
— Não senhorita, tem certeza que não se enganou?
— Está dizendo que eu vim aqui de madrugada porque me enganei?
— Não...
— Se eu estou dizendo que a mala não é minha, ela não é minha.
— Hayun — Hana me puxou. — Ficou maluca? Vai sair no soco com o atendente?
— Se for preciso.
— Você não é assim, para, por que tanto estresse? São roupas, vá numa loja e compre outras.
Fácil para ela falar, não era ela que estava com a vida em jogo. Ok, talvez eu estivesse fazendo um grande drama, mas ninguém nunca tocou nesse diário, eu colocava simplesmente tudo o que eu sentia... E pensava.
— Certo — Respirei fundo. Voltamos para o balcão de atendimento. — Desculpe, moço, eu só estou estressada.
— Entendo, mas você pode deixar a mala aqui e provavelmente o dono dela virá buscar — Ele me confortou. — Eu mesmo me encarrego de lhe dar um retorno.
— Viu, Yun? Antes do meio-dia a terá de volta.
Olhei para a mala. Era minha única ligação com esse estranho, e se ele não devolvesse? Eu não sabia que tipo de pessoa era e as revistas não me deixaram uma boa impressão. Quer dizer, nada contra seus métodos de satisfação sexual, mas ele não tinha acesso à internet?
Eu não podia deixar a mala e ir embora, não podia nem confiar que esse atendente se lembraria de mim assim que eu saísse do aeroporto. Eu tinha que encontrar meu diário sozinha.
— Não, quer saber? Vou ficar com a mala.
— Senhorita, isso é roubo.
— E você tem provas?
— Yun...
— Não tem, tenha uma boa madrugada e obrigada pelo atendimento.
Peguei minha nova mala e saí. Hana veio atrás de mim mais puta que antes.
— O que deu em você!?
— Preciso saber o telefone desse cara e pode estar bem aqui nesse caderninho.
— Você vai ler as coisas dele?
— Não, vou ver a primeira página, todo mundo preenche a primeira página.
— Só você preenche a primeira página, Yun... Já parou para pensar em roubo?
Não me dei conta disso até Hana começar com a teoria da conspiração e minha prima era super entendida dessas coisas. Um dos seus hobbies era pesquisar sobre alienígenas ou alguma organização secreta tentando nos manipular através de alimentos industrializados.
— Mas por que me roubariam?
— Você sabe, existe gente muito nojenta por aí.
— Certo... Está insinuando o que?
— Que um velho tarado roubou suas roupas e seu diário.
— Eu não tenho um diário.
Hana me olhou seriamente. Maldita, ela sabia que eu tinha um diário, seria uma surpresa se ela nunca tivesse tentado ler.
— Você é um livro aberto, Yun, eu falei do diário do velho e você surtou.
— Desde quando ele virou um velho?
— Ele se diverte com revista, que tipo de jovem faz isso? Ele não tem celular?
— Eu pensei a mesma coisa!
Nós rimos. Ela tinha razão. Mas era medonho, um cinquentão roubando roupas de uma pobre jovem como eu.
— Não sei como você ainda não conseguiu um emprego de jornalista.
— Aí está um pergunta que eu não tenho resposta — Ela suspirou.
Voltamos para o carro. Hana estava contente de novo, agora que estávamos indo para casa. Eu, por outro lado, estava ansiosa, quem quer que esteja com a minha mala vai ser encontrado.
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Atualizado até capítulo 86
Comments
darkzinha_fujoshi
tá começando a ficar interessante 🗿🍷
2023-04-01
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