Estaciono na entrada da fazenda, antes que eu pudesse descer do carro vejo Elisabeth correndo a escada da entrada em desespero, como se a casa pegasse fogo. Pulo para fora de Lucinda e sou recebida por um abraço forte, maternal e preocupado. Elisabeth me analisa como se eu fosse uma criança que acabou de cair do balanço no parquinho. Tudo que consigo fazer é sorrir para aquela mulher que me trata como sua filha mesmo me conhecendo há poucos dias.
— Eu estava preocupada com você Anne.
— Não queria que ficassem preocupados, mas não vou negar que está tudo muito estranho e novo para mim.
— Calab me contou o que aconteceu, creio que saiba sobre os clãs.
Balanço a cabeça em positivo, ainda não conseguia verbalizar tudo o que vinha acontecendo. Elisabeth me dá um abraço lateral, seguindo ao meu lado para dentro da casa. Ao abrir a porta, sou recebida por Brutus, que late e pula em mim, faço carinho nele por alguns minutos e depois vou para a cozinha onde encontro Paolo fazendo chá. Paolo ao me ver, corre de trás da bancada e me abraça apertado, me solta olhando no fundo dos olhos e sorrindo.
— Achamos que iria nos abandonar.
— Eu ainda estou analisando rotas de fuga.
— Iríamos ficar muito tristes de te ver partir antes de conhecer bem a cidade.
— Paolo, ela já sabe. — Elisabeth o conta, o que faz Paolo mudar a feição de simpático para sério em segundos. — Calab a contou sobre os clãs.
— Não era para saber dessa forma, tão cedo também, espero que esteja bem com tudo. — Paolo parecia cada vez mais sério.
— Eu vou ficar bem, ainda não sei de tudo, Calab ficou de me contar e tirar minhas dúvidas.
— Por falar em meu filho, cadê ele?
— Ficou para trás para falar com Luis. Daqui a pouco ele deve chegar.
— Bom, vamos deixar eles conversarem Paolo. — Elisabeth começa a empurrar o homem o dobro de seu tamanho para fora da casa. — Qualquer coisa é só nos chamar na casa dos funcionários.
Paolo acena com a cabeça e sai com Elisabeth levando Brutus com eles. Fico sozinha na cozinha e resolvo comer meu lanche antes que esfrie. Alguns minutos se passam e nada de Calab chegar, o que me deixa mais inquieta com toda a situação. Por fim, resolvo tomar um banho e pôr meu pijama. Subo para meu quarto, coloco a banheira para encher, volto para o closet, pego meu pijama e celular, vejo que havia recebido algumas mensagens.
O prefeito Davies perguntando se eu estava bem, o respondo que sim e que passei o dia descansando, uma total mentira, mas ele não precisava saber. Vejo as mensagens de meu pai, que dizia estar com saudades e que pretendia me visitar no final de julho quando pegasse férias. Leio as mensagens dos grupos da faculdade e os planos que cada um tinha agora com o fim do nosso curso.
Entro na banheira ainda com celular em mãos e fico lendo e imaginando como eu estaria agora se não fosse uma herdeira presa em uma cidade com clãs de lobisomens. Sinto que precisarei de muita terapia para aguentar ficar aqui, o problema agora seria não parecer uma pessoa surtada com quadro de esquizofrenia.
Coloco meu celular de lado, me permito relaxar na água morna, logo a lembrança de Calab me chamando de fedida vem a minha mente, pego a bucha e o sabonete e começo a me esfregar.
— Quero ver aquele corno me chamar de fedida agora.
Termino meu banho, procuro cuidar da pele com um bom hidratante, passar desodorante e perfume. Visto meu pijama, prendo meu cabelo e volto para o quarto me deitando na cama. Sinto o cansaço chegar, começo uma luta enorme contra meu sono, mas perco por nocaute.
‘Estou novamente em meio a floresta, no ponto onde a lua podia me iluminar. Eu usava um vestido branco, segurava uma tocha e andava em círculos. Alguns segundos depois, outras mulheres se juntam a mim, com tochas e rodando em círculo. Nos riamos, algumas pareciam dançar, outras, cantar algo, todas nós paramos de frente para o centro e acendemos uma pilha de madeira que começou a espalhar um cheiro de salva, lavanda e palo santo.
Alguns minutos depois surgem entre as árvores alguns homens, com peles e cabeças de lobos cobrindo os corpos. Eles uivavam, riam e se mexiam como se dançassem. Uma das mulheres grita ‘corram’, fazendo todas correrem para dentro da floresta, rindo e sendo seguidas por algum homem. Eu corro, me sentindo leve e livre, sendo seguida por um homem coberto com pele cinza.
Ele me alcança depois de algum tempo, me levanta em seus braços e me gira no ar. A gente ria como duas crianças brincando, rodopiávamos em meio a floresta, quando paramos, ele me colocou no chão, levantou o capuz e pude ver seu rosto. Era Calab, um pouco mais velho que hoje e com os olhos amarelos o observando a alma.
— Minha deusa, eu sou todo seu de lua a lua, de corpo e alma, nessa e nas próximas vidas.
— Eu sou sua meu bravo lobo, de lua a lua, de corpo e alma, nessa e nas próximas vidas.
Como um casamento, selamos nossas promessas com um beijo. Eu podia sentir alegria tomar conta de mim e desejar que aquele momento nunca tivesse fim’
Sou arrancada de meu sonho com batidas fortes na porta. Me levanto com dificuldade da cama, sentindo meu coração acelerado. Abro a porta e encontro Paolo, vestido como se fosse sair, olho em volta sem entender nada e tenho a notícia jogada sobre mim sem filtro.
— Calab foi preso, parece que ele agrediu seu padrasto novamente e a polícia o pegou.
— Como assim? — Corro para o quarto pegando um roupão e o vestindo. — Elisabeth está sabendo?
— Não, ele ligou para mim, corri aqui primeiro. — Paolo me acompanha escadaria abaixo e me informando o que aconteceu.
— Avise ela, vou para a delegacia ver o que posso fazer. Liga para o Sr. Catter e diga para me encontrar lá também. — Corro porta afora, pulo em Lucinda e grito para Paolo antes de arrancar. — Espero por vocês dois também.
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Vanda Belem
Eu quero torcer o pescoço dessa padrasto. O nojo
2023-06-14
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