O resto do dia foi estranho, desconfortável e comigo evitando todo mundo. O sol se foi fazia alguns minutos ficando só um rastro de laranja e começo do preto do céu noturno. Andava pelo campo, no limite entre nossas terras e a floresta, Brutus me acompanhava em minha caminhada, mas algo o faz correr desesperado para a floresta atrás de algo.
— Brutus, não, volta aqui. — O vejo sumir entre as árvores. — Merda, é assim que a mocinha morre em filmes de terror.
Rezo que ele tenha visto apenas um esquilo e resolveu o caçar antes de pular a cerca de madeira e ir atrás dele. Pelo meu celular, ligo sua lanterna, vou iluminando o que dava com a luz fraca e chamando por Brutus. Não queria entrar muito fundo na floresta com medo de não conseguir voltar, dou mais alguns passos observando a distância que estava da cerca que estava difícil de ver pela chegada da noite. Mas meu corpo congela totalmente ou ouvir o uivo alto que vinha de perto de mim. Me viro lentamente para o lado que ouvi o som vindo, de trás de uma das árvores surge a cabeça de um lobo preto, ele me encarava com seus dentes à mostra, rosnando e vindo em minha direção lentamente. Dou alguns passos pronta para correr, mas para quando vejo aquela criatura ficar posta em suas patas traseiras, crescendo e mudando para algo quase humano.
Como um anjo da guarda, Brutus avança na criatura, pegando ele de susto, fazendo a criatura bater na arvora ao seu lado. Brutus corre na minha direção e juntos corremos o mais rápido possível de volta para a cerca. Ele passa por baixo da cerca, eu subo para pular, me enrosco em algo que no desespero de me livrar, puxo com toda a força e o impulso me faz cair de cara com tudo no chão, a última coisa que vejo antes de apagar é ver a criatura no limite da floresta e o amarelo dos olhos.
Ouço ao longe vozes, abro os olhos tentando observar tudo em volta, estava em um quarto todo rústico com móveis de madeira e decoração bem masculina, as vozes se aproximam do cômodo que estou e resolvo fechar os olhos ficando imóvel. Meu instinto dizia para me fingir de ‘A Bela adormecida’ e prestar atenção no que acontecia.
— Qual o seu problema? — Eu conhecia aquela voz, Calab. — Podia a ter matado lá.
— Eu ainda não controlo bem a transformação e você sabe disso, além disso, não esperava encontrar ela e o Brutus na floresta. — A outra voz parecia assustada ou com medo, infelizmente não consegui reconhecer pela voz.
— Ela vai acordar a qualquer momento, é melhor a gente ir, eu te levo de volta Joe, Calab vai saber o que fazer. — outra voz surge, mexe em meu cabelo e rosto. — A garota esta com um corte na sobrancelha, é bom cuidar disso.
— Obrigado Luis, vou dar um jeito em tudo e Joe na próxima fica longe da fazenda.—Calab fala para os dois, então o outro no cômodo era o Luis da sorveteria.
— Cara, ela está exalando bruma a quilômetros, vai ser impossível qualquer um de nós ficar…
Há um tapa abafado, um gemido de dor seguidos de passos para longe, pude ouvir a porta abrir e fechar ao fundo. Alguns segundos se passam, sinto a cama afundar ao meu lado, meu corpo é virado me deixando de barriga para cima, mais alguns segundos se passa e algo é passado em meu rosto, me limpando e colocado o que creio ser um curativo na sobrancelha. Ele faz carinho no meu rosto de forma delicada, posso sentir o calor de sua mão e o ouvir suspirar como se estivesse relaxando finalmente.
— Não sei o que faria se algo acontecesse a você sua destrambelhada.—Calab sussurra para mim ainda pensando que estou inconsciente, dá um beijo em minha testa e sai.
Espero passar alguns minutos para fazer algo. Abro os olhos observando minha volta com cautela. Me sento na cama com dificuldade, meu corpo todo doía demais com o fato da queda e minha cabeça bem mais. Vejo um espelho grande ao lado da porta, vou até ele e fico pasme com a situação que me encontrava. Estava coberta de terra, grama, folhas secas, rastros de sangue seco pelo rosto e com minhas roupas em trapos praticamente. Abro a porta do quarto dando de cara com uma pequena sala integrada com a cozinha, atrás do fogão estava Calab com seu jeans velho surrado e sem camisa deixando bem visível suas tatuagens e algumas cicatrizes. A visão me pega desprevenida, tudo que consigo fazer é observar seu corpo e agilidade do que preparava ali no fogão.
Como se sentisse minha presença, se vira me vendo ainda parada no batente da porta, sorri largamente, se afasta do fogão vindo na minha direção. Ele para na minha frente observando meu machucado com cuidado com meu rosto entre suas mãos. Se afasta um pouco, vai até um armário do lado da porta, na sala, pega uma toalha e me entrega.
— Você está cheia de terra, toma um banho quente, deixei uma troca de roupa no banheiro que vai te servir. — Calab dá as costas e volta para o fogão. — Daqui a pouco fica pronto a janta.
— Onde eu estou?
— Esta na minha casa, é um pouco longe da fazenda, amanhã cedo te levo de volta, pois já é bem tarde.
— E como vim parar aqui? Eu me lembro que estava no limite das terras e…—para me lembrando da criatura, da conversa que ouvi e percebo Calab me observando atentamente.—Cade o Brutus?
— Ele está lá fora no quintal. Brutus me levou até você desacordada e minha casa era mais parto do que voltar para a mansão.— Calab me dá as costas mexendo na panela. — Minha moto está no mecânico e você estava sem carro, mas como não foi nada grave avisei minha mãe que estava aqui e que amanhã te levo de volta.
Calab desliga o fogão, começa arrumar a louça, levando tudo para uma pequena mesa, pega um vinho e se serve de uma taça. Não vou negar que o cheiro era bom o que fez meu estômago pular de fome. Ando alguns passos para perto da panela, mas sou impedida por Calab que balança a cabeça e aponta para o banheiro no quarto.
— Eu não vou comer com você fedendo à mesa, vai tomar banho menina. — O mesmo me vira empurrando para dentro do quarto e dando um tapa na minha bunda.
Totalmente chocada com a situação, resolvo tomar o banho e me trocar. Tiro minha roupa e percebo manchas roxas pelo lado no qual havia levado maior impacto na queda. Calab havia deixado tudo separado para mim, roupa, sabonete, pente e alguns itens para lavar o cabelo e escovar os dentes. Entro no chuveiro, permitindo água quente bater no meu corpo e relaxando o máximo que podia.
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Andrea Caliman Codeço
Muito boa a história!
2024-01-28
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