Passo o dia na loja conversando com Olivia, fofocando sobre os habitantes da cidade e vendo o movimento na rua. A noite chega, sinto fome, mas não estou a fim de voltar para a fazenda e ter que conversar sobre o que vi ou ouvi.
Digo para Olivia que vou comprar algo para comer e voltar para a fazenda, a mesma me lembra de voltar amanhã para fofocar mais e ver os tanquinhos correndo. Dou risada, um abraço em minha nova amiga e saio atrás de uma lanchonete para pegar qualquer coisa para comer.
No fim da rua, encontro uma hamburgueria, entro e peço um combo pequeno para viagem, o atendente me olha admirado e passa meu pedido para a cozinha. Me sento aguardando meu pedido, mas um som familiar chama minha atenção vindo da rua. Me encolho o máximo que dá no banco, mas como um Imã gigante o som da moto para em frente a lanchonete, segundos depois Calab entra cumprimenta o atendente, que aponta para onde estou com a cabeça.
— Dedo duro! — sussurro para mim mesma.
— Não fale assim do pequeno Joe. — Calab se joga no banco a minha frente. — Ele é um bom garoto.
— O que você quer?
— Voltamos para essa conversa do que eu quero com você? — O sorriso safado estampava seu rosto, mas foi sumindo quando não esbocei nenhuma reação. — Você saiu correndo de casa, ficou sumida o dia todo, Luis disse que te viu por perto e imaginei onde poderia estar.
— Eu estava com a Olivia.
— Minha namorada se tornou amiga da minha amiga de infância. — Ele sorri largamente.
— Eu não sou sua namorada, não temos nada um com o outro.
— Não é bem o que lembro da noite passada quando eu estava com a boca na sua…
— CALAB. — Quase pulo por cima da mesa para tampar a boca de trapo dele com as mãos. — Eu quero esquecer essa noite, por favor.
Observo os olhos de Calab ficarem amarelos, me observando, como se pudesse ver minha alma. Ele se inclina sobre a mesa, sério, como se estivesse prestes a me jogar outra bomba.
— Você está fedendo. — Calab se levanta e vai até o balcão
Na fúria que surgia em mim, pego o porta guardanapo da mesa e arremesso na direção de Calab, que o pega no ar sem nem olhar na minha direção, continua falando com o Joe que me olhava com timidez. Alguns minutos depois Joe sai de trás do balcão e vem junto de Calab a minha mesa.
— Joe, essa é Anne Gilliand, Anne esse é o jovem Joe Miller, o que te atacou ontem na floresta. — Calab fala sem rodeios, sorrindo como se o que aconteceu comigo fosse algo normal.—Vamos, como se diz a senhorita?
— M-me desculpe senhorita Gilliand, não tive a intenção de lhe atacar, eu ainda não controlo bem a transformação. — Joe me fala com um misto de medo e timidez em sua voz.
— É, está tudo bem Joe e por favor, me chame apenas de Anne. — Lhe dou o meu melhor sorriso amarelo, o que faz Joe relaxar um pouco e sorrir de volta.
— Seu pedido está quase pronto, já venho lhe trazer. — Joe dá um sorriso para Calab e sai parecendo um pouco mais animado.
— Ele gosta de você — Calab se vira para mim sorrindo debochado. — Tenho que tomar cuidado para ninguém querer roubar você de mim.
— Primeiro que ele deve ter o que, 16 anos? — Calab confirma com a cabeça e continua sorrindo para mim. — Então, não rola, segundo…
— Você não quer rotular nossa relação e eu entendo, além disso, você ainda não sabe nada sobre o meu mundo então vou ser paciente.
— Sério, qual é o seu problema comigo? Não, o que acontece conosco?
Calab suspira, parecia cansado, como se carregasse o mundo nas costas. Ele se ajeita no banco, olha em volta, como se procurasse algo ou alguém. Sigo seu olhar procurando por algo que não faço ideia do que poderia ser. Finalmente ele volta o olhar para mim, dessa vez com os olhos azuis de sempre.
— Como você já sabe, sou de um clã de lobisomens, nossa espécie é, como posso dizer, diferente do que se vê em filmes ou cultura pop no geral.
— Você precisa ser mais claro que isso Calab.
— Lobisomens no geral se transformam em lua cheia, a gente consegue se transformar a qualquer momento. É difícil controlar nas primeiras transformações, mas aprendemos com o tempo. Somos mais fortes, rápidos, nossos sentidos são incrivelmente aflorados, nos curamos com facilidade e rapidez. Também conseguimos nos transformar por completo como um lobo ou ficar mais humanoide como viu o Joe ficando.
— Você disse que existem outros clãs, são iguais a vocês?
— Não, o clã do sul não conseguem se controlar tão bem e sua transformação ocorre apenas na lua cheia, o clã mais ao norte ficam como lobos gigantes.
— Tipo em crepúsculo?
— Isso chega a ser ofensivo, mas é uma boa comparação, só evite dizer isso de novo no futuro.
— Ok, mas isso não explica eu e você.
— Sim, você tem razão. Vamos voltar para a fazenda e eu explico o que quiser.
— E por que não aqui?
— Bom, estamos em público, tudo que você sabe é um segredo e, além disso, você esta fedendo e precisa de um banho.
— Fedida é sua mãe, seu adotado!
Me levanto indo para o balcão pegar o meu pedido, dou um sorriso para Joe e lhe entrego uma gorjeta generosa com sinal de paz. Ele me dá tchauzinho todo feliz e sorridente, fala algo para Calab que apenas acena com a cabeça antes de sair e vir atrás de mim. Sou acompanhada até Lucinda, vejo Luis saindo da sorveteria e parando na porta, o mesmo faz sinal para Calab, que levanta um dedo em sinal de ‘um minuto’ para o amigo. Luis me olha, levanta a mão dando um oi que retribuo com o mesmo gesto.
— Vou só falar um assunto rápido com Luis, te encontro na fazenda. — Calab me fala quase como um sussurro debruçado sobre a porta do meu carro. — Por favor, espere por mim.
Tudo que consigo fazer é balançar a cabeça em aceitação, ligar Lucinda e dirigir de volta para a fazenda Gilliand.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 61
Comments