Me ajeito na poltrona dura na sala de recepção do advogado de meu avô, vejo na mesa de centro, revistas antigas de temas diversos, as paredes de cor bege com quadros que tinha cara de serem comprados em mercado das pulgas e outros móveis que não conversavam com o ambiente, deixando tudo muito cafona.
A secretária atrás da bancada com dedos ligeiros digitando algo no computador, um coque amarrado meio bagunçado e as roupas em tons marrons a deixava pálida e mais velha do que realmente era. Me ajeito novamente na poltrona para distribuir a dormência pela minha bunda, mas algo no canto do balcão, vermelho e pequeno chama minha atenção. Foco meu olhar a tempo de notar que aquilo era uma calcinha de renda e do nada sumir de vez, seguido do advogado sair de sua sala.
— Senhorita, é um prazer revê-la. - Senhor Catter estica a mão, eu por reflexo me agarro a alça da minha bolsa e lhe dou um sorriso amarelo.
— Obrigada, Senhor Catter, mas eu só vim buscar as chaves da casa e os documentos.
— Sim, sim, entre vou lhe entregar e passar algumas informações importantes sobre a propriedade
Entro em seu escritório e sou tomada por um cheiro de velas aromáticas de algo estranhamente familiar. Vejo em uma das paredes uma estante com livros grandes de capas vermelhas, seguido de um aparador com uma máquina de café, no centro da sala uma mesa de madeira preta desbotada com um computador e a sua frente duas poltronas iguais às da recepção. O senhor Catter faz sinal para me sentar que nego com a cabeça e o lembro que estou com pressa.
Ele se senta em sua cadeira, pega da gaveta uma pasta que estava grossa e toda desengonçada pela quantidade de folhas dentro. Abre outra gaveta e pega um molho de chaves colocando em cima da pasta.
— Aqui estão todos os documentos da fazenda ao norte da cidade, a cabana no Alasca e o apartamento em Nova York. Também estão os documentos dos cinco carros antigos e da vinícola na Itália. - Senhor Catter vai falando e mostrando cada documento rapidamente enquanto falava para que cada chave era. - E por último a documentação bancária com os valores e itens guardados.
Pego esse último olhando os valores totais em dinheiro guardados em diversas contas somando um total assustador de cento e dez milhões de dólares só nos EUA. Me viro para o advogado que dá de ombros e apenas me entrega o restante de toda a documentação. Começo a pensar que meu avô era um mafioso foragido e que de alguma forma conseguiu viver uma vida tranquila em uma fazenda de ovelhas no meio do nada.
— Não se esqueça senhorita, você precisa morar na casa por dois anos a partir de hoje para a herança realmente ser sua. Você pode viajar, mas não pode se mudar ou passar mais de três meses fora da fazendo, só em caso de saúde ou emergência em alguma outra propriedade da família. - Fala com uma expressão de cansado e indiferente para mim me lembrando do testamento. — Tera a sua disposição o valor de cinto milhões para uso pessoal e será seu mesmo que não cumpra as exigências anteriores. Se no final dos dois anos não cumprir o acordo, tudo vai para o parente vivo mais próximo ou para as diversas instituições que seu avô listou no testamento.
Balanço a cabeça mostrando que lembro do acordo, coloco tudo dentro da bolsa segurando as chaves do casarão e me viro para sair antes percebendo no quadro familiar com o senhor Catter, uma mulher loira e uma casal de adolescentes sorrindo. Fico com dó da mulher, eu sentia sua futura dor, mas aperto meus passos para fora da sala, passando pela secretaria que agora estava com o cabelo arrumado em um coque perfeito, indo em direção a porta de saída.
Pulo para dentro de Lucinda, jogando a bolsa com o molho de chaves no banco do passageiro e acelero para longe do escritório do Sr. Catter. Dirijo por cerca de 20 minutos até a fazendo da família, ao parar na entrada, reparo nos enormes muros de pedra e os portões de ferro com o sobrenome estampado em letras grandes no topo “Gilliand”. Abro com dificuldade os grandes portões, entro com meu carro parando em frente à entrada principal do casarão da fazenda.
O jardim parecia bem cuidado, apesar de não se ter visitas há pelo menos dois meses. Subo as escadas com toda a documentação em mãos e ao colocar as chaves no buraco da fechadura, a porta se abre e atrás dela estava um homem, na casa dos 40 anos, usando uniforme e segurando uma flanela.
— Senhorita Gilliand, aguardava sua chegada só mais tarde. - Ele fala alegre sorrindo para mim. - Sou Paolo, eu era o caseiro e ajudava a manter a casa em ordem.
— Prazer Paolo, desculpa, mas o Sr.Catter não me falou de você.- Coloco minhas coisas no banco ao lado e estico a mão para cumprimentar o homem a minha frente.
— O Cole não gosta muito de mim, como eu não gosto dele. - Fala sorrindo de forma desajeitada para mim.-Bom, se a senhorita quiser, posso fazer o café e levá-la para conhecer a propriedade.
— Será ótimo, obrigada Sr Paolo.
— Só Paolo, por favor, Senhor me envelhece uns 100 anos.- Ele ri gostosamente, me fazendo rir também.
O acompanho pelo interior da casa até a cozinha, passo pela entrada que possuía alguns bancos e um armário para casacos e sapatos, sigo por um corredor dando de cara com duas enormes batentes com as portas abertas de cada lado, um dava para a sala com lareira e a outra para a sala de jantar. Entramos na sala de jantar e seguimos por mais dois cômodos que guardavam a louça e os vinhos. Quando entro na cozinha dou de cara com uma enorme bancada esculpida em madeira de lei, tudo tinha madeira e mármore preto, mas era incrivelmente iluminada naturalmente e completa com utensílios. Estava apaixonada por aquele cômodo e creio que deixei transparecer.
— Seu avô sabia da sua paixão por gastronomia, essa foi a última reforma feita por ele na casa.-Paolo fala preparando o café.-É impossível não gostar desse cômodo, melhor que esse só a biblioteca.
— Tem uma biblioteca aqui? - Falo incrédula.
— Sim, a casa é antiga, foi restaurada em boa parte e reformada em outras, mas é um lugar lindo.
Tinha que concordar com ele, a casa era realmente linda nos mínimos detalhes. Paolo estica por cima da bancada a xícara com café, me sento no banco alto e dou uma golada. Ele cruza os braços me observando tomar o meu café enquanto tomava o dele. Logo seu olhar foca por cima de mim e seu sorriso aparece novamente, me viro para onde ele olhava e lá esta ele, Calab.
— Você.
— O que você faz aqui?- Ele fala me olhando surpreso, mas volta sua atenção para Paolo. — Você a conhece?
— Jovem Manccini, essa é a Senhorita Anne Gilliand, a nova proprietária.
Fico olhando para a cara de Calab que ainda estava com expressão de surpreso, me viro para Paolo que vai perdendo o sorriso lentamente sem entender a situação e tudo que consigo pensar é ‘Mas que merda’.
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Vivi
kkkkkkk vai pegar fogo 🔥 esses dois
2023-09-07
2