Fico sentada na salinha secreta ignorando meu celular que vibrava loucamente com as ligações e mensagens preocupadas de Paolo, Elisabeth, Calab e até o Sr. Catter. Respondo o Sr. Catter o informando estar na propriedade e bem, seguindo de Paolo que quer saber onde na propriedade eu estava, pois estavam me procurando, apenas o digo que um lugar na casa. Por fim, respondo Elisabeth, a digo que estou bem e para não se preocupar, que preciso de tempo. A mesma me responde rapidamente dizendo sentir muito que vai estar na cozinha se eu precisar de algo.
Calab, bom, ele eu ignoro totalmente, ainda sentia um misto de ódio, medo e incerteza em relação a ele. Pior, sentia ódio de mim mesma pelo que fiz na noite passada. As lembranças da noite me voltam à mente, a intensidade de tudo, a força, os beijos e tapas. Só o pensamento me deixa fraca e com vontade de repetir tudo novamente.
Me levanto do lugar que estava e resolvo explorar o lugar. Chego perto da escada em caracol e subo. No final da escada dou de cara com um sótão com alguns móveis empoeirados, livros, ervas secas, parecia um lugar de estudo antigo com janelas pequenas, mas que iluminavam muito bem o ambiente. Pego um dos livros e percebo ser um diário antigo datado de 1899. No meio havia algumas fotos antigas, cartas e anotações. Mexo em mais alguns itens e percebo finalmente que aquilo tudo era a história dos meus antepassados, minha família, Os Gilliand.
Pego alguns dos diários mais antigos que vi ali e desço a escadaria, dessa vez indo para baixo, desço dois lances de escadas, o que me faz crer que passei pelo térreo e estava em um porão. Ligo a lanterna do celular iluminando a minha frente e noto que era um quarto pequeno, com uma cama, um armário antigo e ao lado uma porta de ferro que aparentava estar enferrujada. Com dificuldade, consigo virar a chave presa na fechadura e abrir a porta no qual me levou para um enorme corredor. Sigo corredor afora, sendo encoberta pelas teias de aranhas no caminho. Logo uma fraca luz aparece no final, vou me aproximando e percebo ser uma entrada bem discreta e escondida que dava para uma escadinha. Consigo sair com dificuldade, observo minha volta, vejo que o casarão da fazenda está a cerca de alguns metros de onde saí.
Aquela passagem é uma ótima rota de fuga, discreta, pequena, provavelmente ninguém mais sabia sobre ela. Volto por onde andei, trancando tudo, até chegar novamente no pequeno quarto. Tranco a porta enferrujada, subo a escadaria e paro na sala que dá para o meu quarto. Deixo os diários perto da entrada, abro a passagem com cuidado para ter certeza que não tem ninguém e finalmente saio.
Corro para o banheiro, tomo um banho rápido, para não chamar atenção, me visto com jeans, tênis e casaco. Pego as chaves de Lucinda, passo devagar pelos corredores e os demais cômodos até a porta da frente. Mas ao abrir a porta dou de cara com Paolo, que entrava com sacolas de compras junto de Elisabeth.
— Anne, a gente estava preocupado com você — Paolo fala colocando as sacolas de lado e me olhando com cuidado.
— Eu estou bem, só preciso dar uma volta.
— Querida, você acabou de chegar, não é melhor descansar? — Elisabeth fala vindo para meu lado.
— Não, eu preciso realmente… — Não consigo terminar de falar, apenas saio porta afora.
Pulo por cima da porta do meu fusca, ligo e piso no acelerador, deixando tudo para trás. Dirijo meio sem rumo para onde devia ir, mas como uma fera cheia de instintos, paro no lugar mais provável aquela altura, o antiquário.
Empurro a porta com um pouco de força demais, fazendo a mesma bater com tudo. Olivia sai dos fundos com semblante assustada, mas relaxa ao me ver. Eu dou um sorriso sem graça e adentro mais a loja.
— Desculpa, não consegui segurar antes que batesse.
— Tudo bem, às vezes acontece. O que te traz aqui hoje? — Olivia me aponta uns bancos para a gente se sentar. — Os bombeiros só passam aqui na frente amanhã.
— Eu vi as fotos sua com Calab. — Jogo a informação em Olivia sem rodeios.
— Ele te mostrou? - Olivia fala tristemente, mas com tom de choque na voz.
— Não, eu encontrei as fotos. - Falo e Olivia me observa por alguns segundos.
— Calab e eu eramos muito amigos, desde criança, nossas famílias sempre estavam juntas. - Olivia se levanta e começa a pegar café.
— O que mudou?
— Meu irmão morreu e Calab nunca falou o que aconteceu aquela noite. Então, meio que acabamos nos tornando estranhos um para o outro.
— Eu sinto muito, Olivia, Não sei nem o que dizer. — Era quase palpável a dor de Olivia.
— Tudo bem, depois de quase sete anos a gente se acostuma com a dor.
— Eu pensei que vocês eram um casal. — Confesso a Olivia que me olha com cara de nojo.
— Eca, não. Anne, eu cresci com Calab, ele para mim é como um irmão apesar de toda a nossa história. - Olivia me entrega uma xícara de café e se senta novamente.
— Para quem é de fora vê a tensão entre vocês imagina outra coisa.
— Isso infelizmente vou ter que concordar com você. — Olivia ri e me passa um pouco de calma. — Mas me diz aqui, você esta querendo ficar com o Calab?
A pergunta me pega desprevenida, dou uma golada em meu café, me viro para ela que me observa por cima dos óculos me analisando. Dou o meu melhor sorriso amarelo e tento parecer o mais calma possível.
— Não quero nada com ele, apesar dele passar os últimos dias me chamando de deusa e falar para os quatro ventos que somos um casal.
— Será que você fisgou o solteiro mais desejado? - Olivia ri.
— Sério que ele é o mais desejado?
— Na verdade, é o mais difícil de se relacionar, se passar de um mês se considere vencedora. — Olivia ajeita os óculos e olha para algum ponto como se puxasse algo da memória. — Nunca o vi com a mesma garota mais de duas vezes.
— E quais são os outros solteiros mais desejados da cidade? — Minha pergunta faz o sorriso de Olivia se ampliar e me entregar uma lista detalhada.
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Atualizado até capítulo 61
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