A cidade de Lounerse - Parte 8

Parte 8: 

“Millya, Millya!”, exclamava Amai.

Millya cambaleou para trás e caiu com as costas na pedra, o sangue em seu braço não parava de escorrer. Amai se aproximou dela e percebeu que ainda estava consciente.

“Precisamos encontrar um lugar para tratar essas feridas”, disse inquieto, colocando gentilmente sua mão em volta da nuca de Millya para impedir que a cabeça da garota tocasse na rocha.

Com os olhos marejados, Millya manteve sua visão fixa e indiferente para a copa das árvores, era como se o verde dos olhos tivesse perdido saturação. Ela tossiu e uma pequena linha de sangue escorreu pelo canto de sua boca. Ao virar o olhar em direção a Amai, ela deixou seus braços deslizarem como se não tivesse forças para mantê-los junto ao corpo e eles tocaram o chão. Amai olhou para todos os lados, como se procurasse encontrar alguém que pudesse ajudá-los. Vendo aquilo, Millya deixou surgir nos seus lábios um sorriso singelo.

“Qual é a desse sorriso? Não, não, não. Pô! Você não está pensando em morrer, né?” Amai pensava tanto e de maneira tão acelerada que não conseguia terminar nenhum raciocínio.

『 Amai, Pare! 』

Quando a voz da Map soou em sua mente, uma sensação aquecedora se espalhou por seu corpo e ele percebeu seus pensamentos desacelerar, permitindo que ele raciocinasse mais claramente. Seu olhar se voltou exclusivamente para Millya.

“Amai, acho que a pessoa que pode curar minhas feridas está bem na minha frente”, disse Millya com voz baixa e quase imperceptível.

Ele finalmente se tocou que era um sacerdote, ou algo do tipo, mas nem precisou agir. Map comandou um pensamento.

『〚 Orvalho da vida 〛. 』

“Orvalho da vida”

Amai repetiu, involuntariamente, a voz da MAP em sua cabeça quase que simultaneamente, e sentiu a magia se concentrando em seu corpo e se esvaindo pelos dedos.

De uma certa altura, um raio de luz azulado desceu e envolveu o corpo de Millya. Era como uma leve camada de água se despejando sobre ela. Com o toque daquele brilho, o sangue foi desaparecendo e ele percebeu as feridas se fechando.

Millya se sentou, afastando-se da pedra, e inspirou profundamente, como se não respirasse havia minutos, o que fez Amai recolher a mão para perto do corpo. Ela se levantou, sem hesitar, checando com as mãos os locais onde estavam as feridas.

Suas expressões ao examinar seu corpo iam de quem tinha dúvidas para quem não acreditava.

Amai se levantou e foi um pouco longe, xingando baixinho e o olhar de Millya o seguiu, mas em vez dela ir atrás dele, ela pegou o cartão do aventureiro do bolso e apontou para os corpos de tartaruga caídos. Um círculo mágico se formou sob cada um, e seus corpos começaram a desaparecer.

Eles não trocaram uma única palavra no caminho de volta, só conversando quando chegaram à guilda, onde Millya não se sentia à vontade para entrar. Apesar de seus ferimentos estarem curados e não haver nenhuma prova deles restante, sua capa e blusa ainda carregavam marcas da batalha e estavam rasgadas. Millya entregou seu cartão para Amai e disse ser suficiente informar a guilda que eles queriam terminar a tarefa, já que, como membros do mesmo grupo, ele não teria problemas em usar seu cartão para confirmar que o trabalho havia sido feito. A partir daí, eles voltaram para a hospedaria. Ainda estava no meio da tarde, mas cada um simplesmente entrou em seu quarto.

Amai, que havia estado sentado na beira da cama nas últimas horas, repetiu pela centésima vez o ato de contar as moedas de bronze que o funcionário da guilda lhe havia dado ao concluir a missão. Ele estava tão abalado pelo que havia acontecido que não conseguiu nem comer quando voltou para a estalagem. Já era noite, e o fato de não ter comido nada o dia todo não importava para ele.

“Três cascos a 10 moedas de bronze cada; Oito esmeraldas de tartaruga a 5 moedas cada e mais três moedas de bronze por cada Cristal de Monstro. Oitenta e duas moedas de bronze. Droga, Millya nem sequer pegou a parte dela. Ela quase morreu por causa dessas 82 moedas de bronze.”

Ele socou o colchão e o agarrou com força.

“Não é verdade. Foi minha culpa pelo que aconteceu! Só faz dois dias que existo neste mundo e eu quase mato alguém por mero capricho.”

Ele varreu as moedas espalhadas na cama com o braço e as empilhou na beira da cama antes de jogá-las na bolsa de pano.

“Nem f*dendo que eu vou deixar que um medo guie minha nova vida, como fez na anterior.”

Seu corpo se moveu por conta própria, e ele teve dúvidas se era apenas um lampejo de coragem ou se o Map estava influenciando-o para isso. Mas, sem se importar o motivo da coragem repentina, ele se dirigiu em direção à porta; em sua cabeça só conseguia pensar em se desculpar e contar a verdade.

Ele foi ao corredor e andou duas portas à direita. Não havia ninguém por perto. Quando chegou à terceira porta, parou e, depois de um longo suspiro, bateu levemente três vezes. Enquanto esperava, ouvia pequenos ruídos vindos do outro lado. Quando o ranger da porta cessou, ele examinou Millya, que usava um vestido modesto de cor branca. Seus olhos se cruzaram com os dela, quando ele baixou o olhar.

“Desculpa te atrapalhar.” Amai ergue a sacolinha com as moedas. “Vim te entregar as moedas e...”

Ele tem dúvidas em relação a como falar, o silêncio de Millya ao longo do trajeto de volta da floresta e até mesmo após chegarem na cidade fez com que ele pensasse que ela o estava ignorando ou incomodada com ele por algum motivo. Mas não a culpava, ele próprio estava enfurecido consigo mesmo naquele momento. Millya não tomou nenhuma atitude, apenas o observava.

“Eu queria te pedir…”

“Muito obrigada, Amai,” ela o interrompeu com uma voz firme e em bom-tom. “Você salvou minha vida.”

“Mas, por minha culpa, você quase morreu.”

Millya agarra-o pelo cotovelo e puxa-o para o quarto. Antes de bater à porta, ela olha para os dois lados do corredor.

Ela se acomoda em uma cadeira de madeira e indica, com um gesto, que a Amai se sente na cama. Estavam afastados um do outro.

“Desde que te vi ontem, tenho sido extremamente egocêntrica,” Millya começou. “Já tentei te manipular, já me superestimei fingindo não ter medo de nada, porque você era alguém com nível menor que eu. Pensei em você sendo fraco.”

O semblante de Millya mantinha uma expressão de seriedade. Amai estava admirado como ela podia ter aquela expressão.

“Mas a verdade é que você é, provavelmente, mais forte que eu. Antes da punição, pertencia a um grupo e lidávamos com algo como aquilo de uma forma tão fácil que achei que conseguiria sozinha, mas não dei conta. E você teve que me salvar. Já você, deve ser algum tipo de prodígio, já que usa magias sem precisar de encantamentos, derrotou um monstro com uma única habilidade, viu 4 monstros de Rank C simultaneamente, e mesmo tendo a chance de fugir, não o fez. Qualquer outra pessoa fugiria naquela hora. Provavelmente, se estivesse no seu lugar, teria abandonado qualquer um que estivesse ali e fugido. No entanto, você não fez isso. Desde que te conheci ontem, tenho ficado cada vez mais confusa com algumas coisas em relação a você. A coragem que você demonstrou hoje, apesar de você supostamente ser apenas um suporte, foi a que mais me surpreendeu. Como você tem tanta coragem?”

Amai estava vivendo uma aventura de RPG desde que nasceu nesse mundo. Se divertiu até quando foi cercado pelos coelhos; para ele, não passava de uma brincadeira. Tudo mudou quando observou o corpo de Millya sangrando. Só então ele percebeu o que estava acontecendo de verdade.

“Para mim, aquilo era só tartarugas. Grandes, mas apenas tartarugas,” disse Amai, com a voz triste e quase falhando.

“Sim, eram tartarugas, monstros rank C que podem matar uma pessoa.” respondeu Millya com estranheza.

“Não, Millya. Para mim, não passavam de tartarugas. Tartarugas de um mundo onde tartarugas não são perigosas. Não sei se você acreditará em mim, não sei o que vai acontecer, mas como sei que vão descobrir, prefiro que você seja a primeira a saber e que sirva também como um tipo de pedido de desculpas. Eu menti para você. Até ontem, Amai Niot não existia nesse mundo. A verdade é que renasci neste mundo ontem, após morrer no outro,”.

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Comments

komiLover

komiLover

Ficou muito bom depois da reescrita. Que perfeição é essa Millya.

2023-02-27

0

Finho

Finho

Mais uma parte divertida e bem escrita da história. Consegui imaginar a cena de forma detalhada e até sentir raiva da hipocrisia dos caras com ciúmes da Milliya. Vagabundos, eles tiveram 1 ano de vantagem, mas não fizeram nada. Tem que se f#der mesmo.

2023-02-15

2

Finho

Finho

A beldade do vilarejo.

2023-02-14

0

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