A cidade de Lounerse - Parte 3

Parte 3: 

 Eles se sentaram na borda da fonte e Millya começou a questionar o nível de conhecimento de Amai sobre o mundo. Eles conversaram por cerca de 10 minutos e ficou claro para ela que ele era completamente ignorante sobre a maioria dos assuntos, alguns outros a Map o ajudava mentalmente, mas mesmo assim era um conhecimento limitado. Após constatar isso, ela começou a listar em voz baixa de tudo o que precisava ensiná-lo, como se quisesse guardar na memória para não esquecer. A lista incluía informações sobre os reinos, raças, classes, o sistema de guildas, a forma de governo e até sobre o dinheiro. Millya imaginou que talvez Amai não soubesse nem qual era a sua própria classe, já que ele se apresentou como um Arauto do Evangelho. Por mais que existisse uma grande gama de classes, aquela era uma que ela nunca havia ouvido falar antes. Ela riu quando ele disse isso, achando engraçado que ele também não tinha ideia e não sabia explicar o que realmente significava ser um Arauto do Evangelho.

"Para se registrar na guilda e conseguir um lugar para ficar, você vai precisar de dinheiro. Eu entendo que você não tem nada agora e consigo bancar sua hospedagem hoje, mas a longo prazo, não posso continuar te ajudando. Eu já expliquei como está minha situação." enquanto falava, ela olhava para o chão, apoiando o queixo nas mãos.

"Eu disse que ia te ajudar, mas eu que acabei precisando de ajuda. Eu realmente não tenho nada agora." Ele então se lembrou de algo e acrescentou: "Mas espere um pouco! Enquanto estava na floresta, consegui matar alguns coelhos e peguei alguns cristais que caíram de seus corpos. Talvez possamos vendê-los ou trocá-los por algo."

Amai pegou um dos cristais de seu inventario e o estendeu em direção a Millya.

"Isso serve para alguma coisa?", perguntou ele, apresentando a ela um cristal do tamanho de uma bateria D.

Millya finalmente olhou para ele.

"Olha, um cristal de Monstro coelho. Isso é muito útil. São usados como tempero nos alimentos, mas é difícil de conseguir, já que os monstros coelhos somem quando há uma batalha por perto. Na guilda dos comerciantes ou na de aventureiros eles pagariam 1 moeda de bronze por cada cristal, mas, um segredinho, se vender diretamente para uma cozinha consegue 2 moedas, o suficiente para passar a noite em alguma hospedaria."

Amai pareceu confuso.

"Bem, não tenho a menor ideia de quanto vale cada moeda de Bronze." Disse ele com um pequeno sorriso.

"Verdade, tenho que te ensinar isso", respondeu Millya. "A base é a seguinte: A moeda de menor valor é a moeda de ferro, 100 moedas de ferro equivalem a 1 de bronze; 100 moedas de bronze valem 1 de prata e 1000 moedas de prata valem 1 de ouro. Além disso, temos a de platina que vale o equivalente a 1000 moedas de ouro."

Millya, que brincava com o cristal, parou e firmou a pedra em sua mão direita e olhou fixamente para Amai.

"Mas tenho que te dar a triste notícia: pessoas como nós nunca vamos tocar em uma moeda de platina." Ela suspirou e perguntou: "Você disse que matou 'alguns' coelhos. Quantos cristais você tem?"

Amai discordava inteiramente da última fala dela. Quantos protagonistas fracassados já viu superar a situação? Embora discordasse, ele decidiu manter a opinião para si mesmo e prosseguiu.

"Com esse que está segurando, tenho 23."

Millya mostrou um sorriso amarelo no rosto. "Como ele conseguiu tantas?" ela pensava.

 "Bem, isso é o mesmo que dois dias de trabalho meu." Disse ela. "Dá para você sobreviver por 3 ou 4 dias sem dificuldades. Vamos nos apressar, a dona da hospedaria onde fico com certeza tem interesse nesses cristais. Depois de lá, te levo para a guilda, e aí, eu finalmente poderei parar de fazer esse trabalho de guia."

A fonte onde estavam era um ponto de bifurcação, de onde diversas ruas se ramificavam em direções diferentes. Amai observou isso e pensou que, sem um guia, poderia mesmo se perder, mesmo que lhe falassem o caminho com muitos detalhes.

Tomaram então a segunda rua à esquerda e caminharam por cerca de cinco quarteirões até chegarem à hospedaria. Era uma construção antiga, porém muito bonita. Uma placa de madeira com o nome "Durma Águia" pintado em dourado pendia sobre a entrada. As janelas eram brancas e os batentes de madeira escura destacavam-se em contraste com a fachada clara. O interior também era bastante aconchegante. Parecia um bar, com as mesas bem-dispostas, o chão polido. Era tudo bem simples, mas organizado.

Não haveria ninguém ali se não fosse a mulher gordinha atrás do balcão. Ela ergueu a cabeça quando viu os dois chegando. Ela olhou para Millya sem se levantar.

"Trabalhando ainda?" Então, seus olhos se fixaram em Amai e ela o analisou de cima a baixo. Por fim, ela disse: "Alguém decente dessa vez?"

Eles caminhavam em direção ao balcão, ao chegar mais próximo, Millya respondeu:

"Sim e sim para suas perguntas. Último trabalho de hoje e, se tudo der certo, nunca mais farei papel de guia. Esse garoto aqui me fez uma proposta bastante interessante", respondeu Millya, dando tapinhas nas costas de Amai, que puxou a ponta do capuz que usava, cobrindo ainda mais o rosto.

 Chamar Amai de garoto o fez se sentir diminuído um pouco, já que eles pareciam ter a mesma idade.

"Bom, Callendra, vim aqui agora para negociar. Tenho algumas coisas para oferecer... ele tem, na realidade", continuou Millya, mostrando o cristal de coelho.

"Ah, minha santa deusa, quanto tempo não vejo um desses. A comida fica tão mais saborosa com isso. Como ele conseguiu?" os olhos de Callendra brilharam ao olhar para aquele cristal.

"Isso aí, é segredo. Vai querer? Temos 23", ofereceu Millya.

"Mas é claro, 2 moedas de bronze para cada um? Pego todos", respondeu Callendra.

Millya olhou para Amai, que confirmou com um gesto de cabeça.

"Fechado", finalizou Millya.  

...☫...

Amai caminhava pelas ruas da cidade com sua bolsa de pano pesada, sentindo o tilintar das quarenta e seis moedas de bronze em seu interior. Ele havia conseguido vender todos os cristais de coelho para Callendra, e além disso, ganhou uma noite de hospedagem grátis na Durma Águia. Millya, por sua vez, depois de reclamar bastante, obteve um desconto de 50% em sua diária, o que a deixou bastante satisfeita. Tanto, que mesmo depois de alguns minutos de caminhada, ainda podia ver o sorriso no seu rosto.

"Parece que as coisas estão começando a dar certo para nós. Será que é uma habilidade sua?” Millya perguntou com um sorriso.

“Eu não diria que minhas habilidades trazem sorte. Aliás, tenho uma que pode causar vários problemas."  Respondeu  Amai .

“Como assim?”

“Você vai entender.”

Enquanto caminhavam em direção à guilda, Amai e Millya conversavam sobre assuntos diversos. Amai perguntou sobre a cidade e sobre as outras guildas presentes ali, enquanto Millya contava algumas histórias de suas antigas aventuras.

Curioso após Millya falar sobre classes, Amai perguntou mais a respeito, e, quando ela respondeu, detalhando a sua própria classe, de ladino, ele ficou animado. Classes furtivas era a segunda classe que Amai mais gostava de escolher em jogos, atrás apenas de personagens curandeiros. Millya explicou que gostava da liberdade que a classe proporcionava, por isso decidiu evoluir nela quando virou uma aventureira. E ela falou sobre o desejo e a saudade que tinha de pegar missões.

Conforme conversavam, Amai começou a perceber que Millya, apesar da aparência jovem, era alguém com muita experiência em aventuras. Ele pensou que realmente era impossível uma pessoa tão talentosa se contentar em ficar presa fazendo trabalhos como aquele de guia e isso fez ele ficar com um pouco de pena dela. Enquanto refletia sobre isso, eles chegaram perto da guilda.

"Aquela ali seria, por acaso, a guilda de aventureiros?” Perguntou Amai apontando para um edifício onde havia na frente uma grande tabuleta de madeira com 2 espadas esculpidas e com ornamentações de prata, além de algumas pessoas em frente à porta, armadas com machados, espadas e um deles usando roupas grudadas no corpo segurando um bastão.

"Isso mesmo. Bem-vindo à guilda da cidade de Lounerse.”, respondeu Millya com entusiasmo.

Quando entraram, Amai ficou encantado com o que viu, um grande salão com mesas dispostas onde algumas tinham quatro ou cinco pessoas sentadas, sugerindo que faziam parte de um mesmo grupo. Além das mesas, havia um amplo balcão com quatro guichês, mas apenas um deles tinha uma funcionária separando uma série de documentos. Amai vasculhou o ambiente até encontrar o que procurava e correu para o lado direito em direção à parede.  “O quadro de missões. Meu deus, meu deus! Realmente existe algo assim. Posso morrer agora que já estaria feliz!"

“Não. Espera. Não posso morrer de novo, mas estou realmente muito feliz.”

Millya se aproximou depressa e parou ao lado dele.

"Você não deveria fazer esse tipo de coisa. Você é um estranho aqui", disse ela.

Só agora ele percebeu que todos o estavam observando. Millya continuou.

"Além disso, a minha própria fama aqui..."

"Ei, criminosinha. Quem é esse retardado aí?" Um homem de armadura pesada com uma espada gigante nas costas a interrompeu, apenas o capacete estava faltando para ele estar de armadura completa. Ele avaliou Amai de cima a baixo com um sorriso de azedo no rosto.

Millya fechou seu punho com tanta força que Amai notou as veias de suas mãos surgirem.

"Some da minha frente Felis, não te interessa quem ele é! E me chame de criminosa de novo que eu faço você usar essa espada de muleta.”

O homem deu uma risada.

"Você sabe que não pode. Uma porque sou mais forte que você, outra porque está presa aqui nessa cidade há um ano. Não deve nem saber mais usar uma adaga direito e, além disso, se você tropeçar em alguém, é possível que sua punição aumente. Haha!"

Millya afastou uma das pernas, preparando-se para saltar no pescoço do homem. Amai observava com um olhar Indiferente.

"Sério mesmo, estou enfrentando o típico clichê do valentão quando o novato chega à guilda? Vou ficar quieto por enquanto".

Bang!

Millya e Felis se sobressaltaram com o som alto da batida na madeira e ambos olharam na para o lado. A atendente por trás do balcão havia se erguido e estava estalando os dedos.

“Ei, vocês dois. Nem pensem!”

O homem de armadura estalou a língua e deu as costas. Millya relaxou o corpo.

“Odeio esse cara. Não aprende nem mesmo depois de que eu fiz com ele. Vamos, precisamos registrar você logo.”

...☫...

Amai segurou o cartão de aventureiro em suas mãos, observando-o com admiração. Era uma pequena placa de metal negro totalmente lisa. Uma luz branca e roxa brilhou na mão dele e no cartão da guilda quando o registro foi concluído.

Enquanto a recepcionista explicava como a magia envolvida funcionava, Amai mal conseguia se concentrar em suas palavras, distraído pela sensação. Ele agora era oficialmente um aventureiro registrado, um membro da Guilda dos Aventureiros de Oires.

“E eu que sonhava com isso quando vivia na terra, nunca pesei que aconteceria de verdade”

Ele pensava, enquanto olhava para aquele pedaço de metal. Mas estava meio decepcionado pela simplicidade daquilo. Porém, quando o brilho desapareceu, diversas inscrições começaram a surgir no cartão. Primeiro, apareceu seu nome seguido pela raça; a classe e uma categoria chamada evolução apareceram logo abaixo e, no final do cartão, havia um campo com seu nível e, do outro lado, uma indicação de Rank.

Amai Niot                                                            Humano

Arauto do evangelho                                       Eclesiástico

Nível 7                                                                   Rank D

Millya observava Amai com um sorriso torto.

"Como é seu Ranking é o mesmo que o meu, se você nunca foi aventureiro nem nada? E que porcaria de classe é essa, uma subdivisão desconhecida?”

Amai ficou em silêncio, sem saber o que dizer. A recepcionista da guilda deixou claro que não poderia se envolver em assuntos relacionados ao Rank dos aventureiros.

Millya agarrou o braço de Amai e o puxou para fora da guilda, sob o olhar curioso dos outros aventureiros presentes.

"Amanhã teremos uma conversa de parceira para parceiro.”.

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Comments

Finho

Finho

"Habilidade" é uma palavra muito forte, Amai. Maldição talvez seja mais apropriado.

2023-02-08

0

Finho

Finho

F#deu de vez.

2023-02-08

0

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