Capítulo 0 - Vozes no Vazio

Em algum lugar do fim ou do início da existência, ele flutuava em um vazio avassalador. Era um limbo onde não havia cor, som ou sensação. Estava preso em um estado de torpor, como se estivesse prestes a sucumbir na escuridão, mas sua mente ainda lutava para continuar acordado. Ele não sentia seu corpo, não conseguia, e nem precisava, respirar e não tinha voz para emitir sons. Ali, ele existia, e somente isso. Era uma existência sem sentido.

...“Por mais estranha que a situação seja, consigo me lembrar bem do que aconteceu. Não posso ter sobrevivido àquilo.”...

...“Seja como for, se eu morri, ninguém na terra vai sentir minha falta mesmo.”...

...“Bem, na realidade, tem uma pessoa me aguardando lá, será que a Aly vai ficar brava?”...

...“Droga, deveria ter dito o que sentia pelo menos uma vez. Não é que eu a amasse, mas eu era muito atraído pelo seu corpo. Ao pensar agora sobre sua personalidade, tenho certeza de que ela nem se incomodaria.”...

...“Porra! Logo que decidi viver, tive que morrer?”...

...“E se…”...

.........

...“E se…”...

Ele se permitiu pensar, mesmo que sua mente estivesse em um estado quase catatônico. Pensou em todas as coisas que poderia ter feito se tivesse vivido uma vida de verdade. Queria ter conhecido muitas pessoas, viajado pelo mundo, e experimentado tudo o que a vida poderia oferecer. Mas agora, era tarde demais.

Sentia estar sendo observado, mas era uma presença vaga, distante. Renan sabia que estava prestes a desaparecer para sempre, e a sensação de vazio que o envolvia só piorava.

...☫...

“Sim. Creio que, para alguém como você, Amaymon, seria uma ótima opção...”

“Ele realmente conseguiu uma ótima benção, não lhe dá mais poder, mas é excelente para a sobrevivência. Afinal... Por que ele ficou para trás?”

“Foi um trágico acidente, ele deveria ser um dos líderes, e veja... é uma pena. Fica cada vez mais difícil salvar o reino humano naquele mundo do jeito que tá.”

“Você realmente acredita que alguma parte daquele mundo possa ser salvo, Sophia?”

“Gostaria de acreditar que sim...”

“Haha, você é bastante ingênua. Mas está bem, vou fazer isso e aceitá-lo, pois ele parece ser uma pessoa interessante. Estou cansado de olhar o mundo ser destruído e nada de extraordinário acontecer.”

“Mas não já aconteceu? A partir de agora, esse mundo não será mais o mesmo...”

“Não consigo acreditar que algo demais vá acontecer.”

“Então Amaymon, o Rei do submundo, é negacionista?”

“De qualquer forma, isso não faz diferença. Vamos focar nele, que deveria ser um dos heróis, mas não terá ninguém. Não deveríamos auxiliá-lo de alguma forma?”

“Já que o aceitou, você que é o deus dele. Não há mais nada que eu possa fazer...”

“Está bem Sophia, mas não reclame depois.”

“O que você está planejando fazer? Evite extrapolar e quebrar as regras do mundo.”

“Você o concede uma benção daquelas e eu extrapolo regras? Hahaha! Vou apenas assegurar que ele se torne o que quer ser. Não gostaria de vê-lo usando um arco e flechas, entende? Não tenho a intenção de acelerar a destruição do mundo.”

“Eu não simplesmente dei a Centelha Centenária para ele por vontade. Você sabe que existe regras. E sobre ele, já tinha planos para isso, pode ficar tranquilo que asseguro que ele se tornará o que deseja. Precisamos pensar é em alguma forma de auxiliá-lo no início... Diferente dos outros, ele não terá suporte de ninguém.”

“Está bem, já sei... Deixe isso comigo. Ele terá a melhor ajuda que poderia pedir.”

“De novo você está com esse olhar assustador, Amaymon. O que realmente planeja fazer?”

“Eu só vou dar a ele um dos meus títulos. Apenas isso…”

“Ah, que seja! Mas faça isso logo, precisamos mandá-lo para lá.”

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