A cidade de Lounerse - Parte 2

Parte 2: 

Amai caminhava à frente de Millya. Ela era, sem dúvida, a guia, mas ainda assim caminhava atrás dele, com a cabeça baixa e as mãos nos bolsos de trás do seu short. Ele se orientava apenas pelas instruções que ela havia dado quando saíram da entrada da cidade: "Primeiro, vamos até a fonte. Apenas siga em frente a partir daqui." E foi o que ele estava fazendo.

Enquanto seguia em direção a tal ‘fonte’ ele olhava tudo ao redor atentamente e ficava animado toda vez que avistava algo que podia ser considerado alguma referência de algum mangá que já havia lido. Por alguns quarteirões ele conseguiu se distrair e até se empolgar, mas logo ficou repetitivo e entediante.

Ele olhou para Millya.

"Talvez neste mundo, seja possível alcançar os objetivos que defini para mim. Exceto por ler mangá. Droga!"

Às vezes, ele tentava iniciar uma conversa, ensaiando mentalmente e até abriu a boca para falar algo, mas sem sucesso, afinal, iniciar uma conversa era algo incomum para ele. Sobre o que ele poderia falar quando acabará de nascer neste mundo?

Mas ele estava decidido e realmente tentou encontrar um bom tópico...

Ele tentou.

"Por que você tem que fazer esse tipo de trabalho?"  Amai percebeu que talvez não tenha sido uma boa ideia perguntar aquilo assim que o fez. Ele queria mudar o assunto, mas deixou como estava assim que percebeu que Millya não se importava, pois ela não havia mudado nem sua postura.

Ao invés disso ela respondeu:

"Bem, eu chutei a boca de um menino rico mimado e fui punida. Tudo estaria bem se ele não fosse o herdeiro do Visconde que administra estas terras." Ela tirou as mãos dos bolsos e socou uma na outra. "Mas quem poderia imaginar que alguém como ele estaria no meio de uma masmorra lutando contra monstros?"

Ela ergueu a cabeça pela primeira vez desde que saiu do portão com Amai, exibindo um semblante vazio no olhar.

"Na verdade, minha punição foi uma multa. Mas como eu poderia pagar cinco moedas de ouro? Sabe, eu era apenas uma aventureira de Rank D-. Como não paguei a conta, eles me fazem fazer vários trabalhos 'voluntários' até pagar a dívida."

..."O que significa D-? Eu entendo o rank, mas o que significa esse ‘menos’? Provavelmente não é uma boa ideia perguntar isso. Deixa eu ver..." ...

"Como está indo o pagamento da dívida?"

Outra vez ele fez uma pergunta indiscreta, o que fez ele se condenar por sua falta de tato e de habilidades sociais.

"Bem, tenho feito isso há um ano. Doze meses presa dentro dessas paredes. Faço todo tipo de tarefas sem sentido, desde aparar a grama em prédios públicos até ser guia turística, como agora. O problema é que essas pessoas geralmente são gordos pervertidos que ficam olhando para as minhas pernas."

Os cabelos de Millya, nesse momento, estavam provavelmente vivos. Estavam de pé, e o olhar de peixe morto se transformou no olhar de alguém que acabou de bater o dedo do pé em algo que não deveria estar lá. Era um olhar de pura raiva.

"Costumo ignorar, até que eles façam algo a mais." Ela suspirou e sua expressão ficou triste. Jogou as mãos para frente, baixando a cabeça. "Hoje devo 12 moedas de ouro. Não posso deixar este lugar sem acompanhamento antes de pagar esta multa e fazer estes serviços só me rende o quê? Duas moedas bronze para cada chamado? E eu ainda preciso comer, então no fim do dia me sobram umas 15 moedas. Estou condenada a ficar presa aqui pelo resto da minha vida por conta de um chute equivocado na boca da pessoa errada.”

"Hahahaha!”

Amai involuntariamente deixou uma gargalhada escapar, mas não por malícia. Ele havia formado em sua mente toda uma história em que aquilo se tratava apenas de um enredo ruim para uma personagem ruim, ele não havia se esquecido que estavam tratando de alguém em algo parecido com prisão domiciliar, mas Amai não conseguiu reprimir a risada.

Amai parou repentinamente, teve uma ideia do que fazer.

Millya o olhava com cara feia e seus olhos brilhavam com lágrimas que não eram de tristeza nem de felicidade.

"Calma aí, tá. Desculpe por rir de sua situação. É que, tipo, não conheço nada desse mundo. Nasci em uma localidade remota e passei os últimos 5 anos treinando em um local totalmente isolado." Ele não mentiu ao dizer que não conhecia nada do mundo. "Não sei nem o valor das moedas. Para mim, doze moedas parecem pouca coisa, mas certamente deve ser bastante.”

Amai percebeu que tinha chegado à fonte e só agora notou que estava próximo a Millya, ele deu um passo para o lado para se afastar mais dela.

"Exatamente por esse motivo eu não tenho nenhuma meta definida. Podemos fazer um acordo? Eu te ajudo com essa multa e, em compensação, você me ensina sobre esse mundo.”

Ele sentiu uma coragem e uma determinação que nunca havia experimentado até aquele momento. Conversava livremente com outra pessoa cara a cara, coisa que nunca tinha acontecido, sobretudo porque essa pessoa era do sexo oposto. Ele se sentia da mesma maneira de quando estava em um chat de jogo de RPG.

"Olha, Millya. Claro que não sou forte, mas tenho habilidades de cura e de aprimoramento, o que torna minha presença útil. Eu posso ser seu suporte." Ele estendeu a mão para ela, “Temos um acordo??"

Millya permaneceu parada diante de Amai. Aceitar uma oferta desse tipo de alguém que acabou de conhecer seria, naturalmente, estranho. Mas ela era uma ladina, e tinha facilidade de notar as intenções das pessoas, ele pareceu sincero, principalmente pelo riso dele diante da desventura dela e também porque não teve que socá-lo, uma vez que, em nenhum instante, olhou para as suas coxas nuas. Millya, que não tinha nada a perder, estendeu a mão para ele.  "Eu topo! Você me ajuda com a multa e eu te ensino tudo que sei sobre Oires.”  Pela segunda vez nas vidas, Amai se encantou pelo sorriso de uma garota.

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...Conquista desbloqueada — Causador de sorrisos Pontos extras — Constituição + 3 ↭  ...

...“Eu nem sei como está minha tabela de atributo. Hã!? Deveria ter uma conquista assim.”...

...…...

..."Bem que ela poderia esquecer da parte de eu ser suporte? Sou um eclesiástico, mas não combino nem um pouco com alguém que fica no suporte.”...

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