A cidade de Lounerse - Parte 5

Parte 5:

Millya andava com a cabeça baixa, mesmo tendo sido alertada por Amai sobre o risco de se perderem se ela não os guiasse. O motivo dele ter essa preocupação de se perder não era porque havia se esquecido do caminho até a guilda, mas sim porque, ao saírem do quartel, as ruas que estavam vazias na noite anterior se tornaram ruas lotadas. Cada passo em direção à fonte era um desafio para evitar esbarrar em alguém.

Amai não insistiu para que Millya fosse à frente. Apesar de acreditar que ela poderia encontrar as brechas naquela multidão, ele quis dar o tempo que ela precisava. Quando saíram do quartel, ele notou que as lágrimas não paravam de escorrer pelo rosto dela e ele também nada perguntou sobre isso. Enquanto caminhavam, Amai tentava disfarçar a dor causada pela marca do contrato em sua mão direita. O símbolo mágico em sua pele ardia intensamente, causando uma dor semelhante àquela que ele experimentou quando usou magia negra na floresta, porém muito menos intensa, e por já ter passado por essa situação antes, ele sabia que a dor logo iria embora.

Quanto mais eles se aproximavam da fonte, mais tumultuado ficava. Estava a três quarteirões de distância dela, mas havia tantas pessoas que mal conseguia vê-la, mesmo sendo algo gigantesco. Então ele parou.

"Mas que merd… É assim todo dia?”

Millya parou ao lado dele e, finalmente, ergueu a cabeça. Seus olhos estavam inchados e a bochecha, corada.

"Não, somente no terceiro dia da semana." Respondeu com uma voz doce, baixa e tranquila. Ela mexeu a cabeça, observando os dois lados e segurou firmemente na ponta da capa o arrastando para um beco. “Vamos. Atravessando esses becos, conseguimos atalho até a rua da guilda.”

Eles foram para o beco entre o que seria uma loja de roupas e uma casa de temperos. Era um caminho estreito e Amai logo percebeu que aquele caminho não seria nada fácil. O chão estava coberto de lama, e cada passo era uma luta para não escorregar e cair. As paredes eram úmidas e sujas, com manchas escuras de mofo e líquidos desconhecidos escorrendo por elas. O cheiro era insuportável, misturando o odor de esgoto com algo podre e azedo. Ratos corriam em todas as direções, assustados pela presença dos dois.

Porém, era um caminho praticamente em linha reta, logo eles chegaram ao fim do primeiro beco bem rápido, ao verem sua frente ficaram espantados, a rua estava ainda mais cheia de gente do que a anterior. As pessoas se espremiam umas contra as outras, tentando se mover em direções opostas. Amai quase perdeu Millya de vista, mas conseguiu segui-la à distância enquanto ela abria caminho no meio da multidão.

Com um pouco de dificuldade chegaram ao segundo beco, que estava em condições ainda piores do que o primeiro. A lama era mais espessa, e o cheiro ainda mais forte. Amai fechou os olhos por um momento, tentando bloquear o odor, mas logo os abriu de novo para não perder Millya de vista, pois o beco era formado por curvas entre um edifício e outro. Ele notou que ela parecia estar completamente à vontade no meio daquele ambiente, sem se incomodar com a sujeira ou o fedor.

Amai se esforçava para seguir os passos de Millya, que avançava com destreza pelo caminho estreito, evitando as poças e obstáculos no chão. Ele olhava ao redor, tentando encontrar um lugar para colocar os pés sem se sujar ainda mais.

Os passos de Millya diminuíram quando eles chegaram ao meio do beco. Amai se aproximou, percebendo o olhar dela para o chão à sua frente. Ele seguiu o olhar e viu uma poça grande de lama à frente, que parecia quase impossível de contornar. Ele se perguntou como Millya conseguiria passar sem se sujar.

"Por quê?" Millya perguntou sem se virar.

"O quê?" Questionou Amai, quando percebeu ser uma pergunta para ele.

"Você não era obrigado a assumir essa responsabilidade e, ainda assim, não hesitou em assinar o contrato de grupo comigo. Eu tentei te enganar, não pensei que a Lis iria te contar sobre o contrato. Ia usar desculpas para te manter por perto enquanto pagava minha dívida… Quando ela revelou os termos do contrato, eu estava certa de que você iria embora, como todos fizeram. Mas você o assinou. Por quê?”

Amai poderia ter dito muitas coisas, mas ele não sabia explicar o motivo exato. Talvez ele quisesse viver uma aventura e como não sabia qual aventura escolher, essa parecia ser um bom começo. No entanto, ele não iria revelar isso a Millya.

"Você me chamou de companheiro, e isso é mais do que suficiente", respondeu ele, finalmente.

Millya cobriu os olhos com as costas das mãos, rindo enquanto lágrimas escorriam por seu rosto. Depois, retomou a caminhada e Amai a seguiu.

...☫...

A rua da guilda estava particularmente movimentada, mas havia um grande espaço vazio à frente dela. Quando finalmente chegaram nesse espaço, Amai sentiu um alívio imediato. Ele evitava multidões há cinco anos, desde que entrara na adolescência, e se sentia deslocado no meio daquela agitação. Por isso, as vielas vazias havia sido um refúgio bem-vindo mesmo com tanto esgoto, lixo e fedor.

Em frente à guilda, havia apenas alguns guerreiros com armaduras pesadas, algumas pessoas com arcos e outros que vestiam mantos. Sentiu-se em um stand de RPG em um evento de anime.

A maioria das mesas no interior da guilda estavam ocupadas e uma pequena fila se formava em cada guichê, dessa vez, todos os 4 guichês do balcão tinham atendentes, ou era para ter.

No primeiro guichê estava uma mulher alta de cabelos castanhos, que na visão otaku de Amai, considerou que ela utilizava uma roupa bem no estilo “atendente de guilda”, simples, porém marcante. No segundo havia um homem alto, barbudo, com ombreiras de metal, provavelmente era um aventureiro ou ex-aventureiro. No quarto guichê havia outra mulher, com roupas semelhantes à primeira, mas tinha os cabelos pretos e curto. Já no terceiro guichê, mesmo tendo uma fila formada e pessoas transitando, ele não conseguiu ver ninguém atendendo.

Ele acompanhou Millya até o quadro de missões, algumas pessoas estavam paradas na frente do quadro. Uma delas era o aventureiro do outro dia, que ao perceber Millya chegando se virou e fez menção de falar algo, mas desistiu.

"O que foi Felis? Um ladino arrancou sua língua? Você não vai repetir as brincadeiras que tem feito nos últimos 14 meses?" Millya o desafiou.

"O que é isso?" Ele a observou de cima a baixo com um olhar de desdém.

"Você sabe muito bem. Aliás, você conhece muito bem o gosto dessas lâminas." Ela sacou suas adagas, que brilharam sob a luz.

Ao dizer aquilo, Felis instintivamente levou as mãos para a cicatriz que tinha em suas bochechas. Virou o rosto e andou em direção ao guichê. Em suas mãos havia um trabalho com uma imagem de um monstro esverdeado. Amai só conseguiu ler as letras grandes: "Besouro Verde Mutante... RANK A???"

Millya foi até o quadro, ficou olhando por alguns segundos e, então, apontou para um dos papéis presos.

"Que tal esse? Dois cascos de tartaruga esmeralda. Trabalho de Rank C, mas não se preocupe, porque esse rank se dá pela dificuldade de capturá-la, por ser um monstro marinho. Você sabe mergulhar?"

"Pra mim pode ser." Respondeu ele, mas estava distraído com outros pensamentos.

Então eles se dirigiram para o terceiro guichê, o único que estava vazio no momento.

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Comments

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Inimiga, não.

é mais exploradora mesmo.

2023-03-15

0

Jozse Da Shilva

Jozse Da Shilva

Não sei se isso é muito ou não ainda mas, parece que o clichê de que a igreja é uma inimiga continua até mesmo aqui.

Ansioso. Quanto mais inimigos, melhor

2023-03-14

0

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