A medida que Amai se aproximava da cidade, os muros altos eram visíveis contra o céu crepuscular, o exato instante em que o sol emite seus últimos raios de luz naquele ponto da terra.
Ele havia ignorado as orientações da Map em alguns momentos e, por conta disso, ao atravessar a última camada de arbustos da floresta se viu diante de uma vasta área gramada que separava a mata da cidade. À sua frente, erguia-se um grande muro de blocos de pedra escura, o qual parecia impenetrável.
Havia deixado a floresta um pouco longe de qualquer entrada. De onde estava, conseguia ver dois portões, um menor em seu lado esquerdo, que estava fechado e não aparentava ter como passar por lá, e um que estava a cerca de quatro minutos de caminhada à direita dali. Amai então respirou profundamente, mais para se preparar psicologicamente do que por necessidade, e caminhou até lá.
Ao se aproximar da entrada, viu dois soldados postados ali. As armaduras de metal que eles usavam refletiam a luz de tochas que tinha na entrada e espadas estavam presas à cintura. Um dos soldados atendia uma pessoa que queria sair. Amai esperou pacientemente e se aproximou do guarda assim que o caminho ficou livre.
“Salve, meu rei!”
Ao dizer isso, um sorriso torto brotou no rosto de Amai e ele ficou tenso imediatamente. Afinal de contas, como alguém de outro mundo iria compreender essas gírias que só brasileiro entende?
O guarda encarou Amai, espantado com a forma de cumprimento.
“Quem é você e o que veio fazer aqui nesta cidade?”, perguntou o guarda, tentando se recompor do susto.
Amai pensou por um momento, ponderando as possíveis respostas que poderiam evitar perguntas incômodas ou desconfianças do guarda.
“Sou um ambulante e estou aqui para fazer negócios.” “Não, eu nem tenho produtos comigo.”
“Sou um aventureiro, apenas de passagem pela cidade.” “Espera, será que esse termo existe neste mundo?”
“Sou um reencarnado, não sou deste mundo e preciso de abrigo para a noite.”
Amai suspirou e continuou a pensar em silêncio.
“Por mais que seja verdade, se eu disser isso, eles podem me achar louco ou suspeito... Espera, talvez eu não precise dar todas as informações.”
“Pretendo passar a noite na cidade e partir amanhã de manhã” respondeu Amai finalmente, tentando parecer despretensioso.
O guarda tirou seu elmo, assou o nariz e limpou a mão na perna da armadura, ao ver que só Amai estava ali. Os cabelos do guarda, surpreendentemente, tinham uma tonalidade alaranjada e, devido à luz, era difícil identificar se era natural ou se era resultado da tocha que os iluminava de cima.
“Poderia me mostrar seu registro de guilda. Qual é a sua função? Aventureiro...? Farmacêutico…? Você, na realidade, me parece ser um eclesiástico. Por acaso faz parte de alguma igreja?”, disse o guarda apontando para o cetro de Amai e então gritou olhando para mais dentro da cidade, onde o outro guarda andava de um lado para outro. “Ei, Nouse! Temos um Eclesiástico aqui, ainda está com aquele problema nas costas?”.
O outro guarda, se virou e balançou as mãos, demonstrando que não se importava.
Amai, que felizmente conhecia o termo “eclesiástico”, decidiu improvisar.
“Na verdade, passei toda minha vida até agora treinando em um lugar remoto, por isso não estou registrado em nenhuma guilda. Gostaria de fazer isso aqui, se for possível.”
“Se você não conhece este lugar, permita-me fazer uma breve apresentação. Sou o guarda Nrok e aquele é o meu colega Nouse. Sempre estamos aqui à noite, se precisar de qualquer coisa, basta nos procurar. Você está agora na cidade de Lounerse, a decima primeira maior do reino de Eeavhan.” O guarda sorriu “Ignore o formalismo, somos treinados para apresentar a cidade assim.”
“Eu agradeço muito. Eu nem sabia onde estava”.
O guarda segurou o elmo embaixo do braço.
“Já que você não tem registro, normalmente precisaria pagar a taxa para entrar na cidade, mas como é de seu desejo registrar-se, vou permitir que entre sem pagar a taxa aqui na portaria. Mas terá que me prometer que irá à guilda em que deseja se tornar um membro. Bem, de toda forma vou encontrar uma ajudante para você, assim talvez consiga fazer isso hoje ainda.” Disse Nrok, já se virando, mas parou o movimento com a fala de Amai.
“Não precisa. Se puder me dar as informações do local de registro e um lugar para me hospedar, será o bastante. Até porque eu temo não ter dinheiro para pagar pelos serviços dessa ajudante.” as palavras de Amai saíram de maneira trêmula.
Na verdade, Amai não tinha dinheiro nenhum. Para nada.
“Não se preocupe… err, como se chama?” Perguntou Nrok enquanto cocava a cabeça com a mão livre.
“Amai, me chamo Amai Niot.”
“Amai… belo nome. Não se preocupe viajante Amai. Essa pessoa tem dívidas com a cidade, e ajudar você é algo que reduziria essas pendências, consequentemente ajudaria tanto ela quanto você. Todos ganham. Aguarde só um pouco.” Nrok deu as costas e caminhou em direção a cidade, desaparecendo na escuridão.
...☫...
Amai já estava esperando há alguns minutos. A algum tempo atrás o calado o guarda Nouse havia lhe dado um banquinho de madeira para que ele se sentasse. Amai colocou o banco perto da porta da guarita que havia ali. Ele e o guarda Nouse não trocaram nem uma só palavra.
Amai tentava observar as ruas daquela cidade. Eram mal iluminadas por lamparinas e, até onde podia ver, havia poucas pessoas andando, muito diferente da cidade de onde vivia antes de reencarnar nesse mundo. Ao lembrar da Terra, ele ficou espantado ao perceber que, até aquele instante, havia se esquecido completamente de seu computador. Está certo que ele tinha quase morrido — novamente — atacado por coelhos, mas nunca imaginou que conseguiria passar tantas horas longe da sua preciosa internet.
O devaneio de Amai se dissipou quando ele ouviu vozes quebrando o silêncio predominante. A uma certa distância, ele pôde ver a figura do Guarda Nrok retornando para a entrada da cidade. A armadura do soldado produzia um ruído metálico a cada movimento. Ao lado dele, a silhueta de outra pessoa chamava atenção devido à diferença de tamanho, muito menor e porque gritava com uma voz trêmula, mas afiada.
“Se for outro daqueles velhos bêbados barrigudos, esqueço o que devo para vocês e fujo daqui! Eles sempre tentam tirar proveito de mim e eu acabo aumentando minha punição.”
“Não precisa se preocupar, o amigo que está esperando no portal parece ser bastante cortês.”
“Cortês, cortês... Vocês já me apresentaram até a monarcas que afirmavam ser os ‘pais da cortesia', mas ainda assim, conseguiam me engolir com os olhos. Não tiravam os olhos das minhas pernas.”
Nrok sorriu relativamente alto.
“Outro bom motivo para você mantê-las cobertas.” Dizia entre o riso.
“Se você fosse um Ladino entenderia a necessidade de mantê-las assim.”
As vozes ficaram mais claras e calmas à medida que se aproximavam, talvez reguladas propositalmente por cordialidade.
Quando finalmente chegaram à entrada, Amai pôde ver claramente quem era a dona daquela atitude astuta. O guarda Nork se pôs em meio aos dois.
“Amai, esta será a sua guia, Millya.”
Era uma garota... ou uma mulher? Ela tinha um rosto que poderia enganar qualquer pessoa. Provavelmente tinha cerca de 1,60 metros de altura, cabelo curto, loiro e bastante espetado. Ela tinha olhos arredondados e escuros, mas naquela luz era impossível identificar a cor. Vestia uma blusa clara e uma jaqueta de couro por cima, além de um shortinho de couro muito curto.
Millya olhou para ele sem expressão por um momento e depois desviou o olhar.
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Atualizado até capítulo 35
Comments
Finho
Chad demais.
2023-02-08
0
komiLover
Tá cada vez melhor, sua escrita também está melhorando. O problema é os capítulos pequenos. Um por dia não é suficiente.
2023-02-04
1