INSENSATEZ

Apesar de estarmos mais afastados, pois eu faço mesmo questão de ficar o mais distante possível dele.

Sebastian ainda me persegue, sim a presença dele persegue-me.

A sua presença encanta-me e me atrai.

Embora a sua arrogância ainda me façam odiá-lo.

 Quero distância dele, mais, sinto vontade de aproximar-me quando o vejo passar por mim nos corredores, ou quando o observo ir ou vir das suas noitadas pela minha janela.

 Ele continua a sair todos os dias , e imagino bem aonde esteja.

Não entendo como consegue. Diariamente com mulheres e bebida.

Será que não se cansa desta vida ?

Como o pai bem me detalhou, ele está perdido , e não sabe como sair.

Parece que, algo nele grita por satisfação e preenchimento.

Percebo que Sebastian é um homem fechado em si, com suas dores pessoais, e que decidiu guarda-las e remoe-las, sozinho.

Sei um pouco da sua história, porém, o que sei não justifica seu comportamento.

 Um dia quando estava nos aposentos do sr Otto, pois combinamos que uma vez  na semana eu dormiria lá, para não levantar suspeitas sobre nosso relacionamento .

Durmo em sua confortável cama aliás, e ele ajeita-se com os lençóis pelo grosso tapete de peles.

Pois, disse que eu a seu lado na cama seria uma deliciosa tentação, com a qual ele não estava disposto a lidar.

Em nosso acordo também pedi, que ele evitasse se envolver com alguém, pelo menos próximo a mim, ou que eu ficasse sabendo, pois sei que os homens tem suas necessidades e precisam constantemente de companhia feminina. Lembro-me de seu comportamento em Valledouro, quando ele estava no quarto com duas mulheres, e não posso condena-lo. Afinal eu não sei o que significa este desejo que eles tem tanto de estar com uma mulher.

Nunca namorei, nunca beijei ,mesmo aos dezenove. Aprendi com minha mãe a discrição e o recato, e em nossa época, uma moça decente, deve evitar qualquer proximidade com o sexo oposto, e nunca , nunca mesmo deve ficar a sós com um homem, sem que seja comprometida com ele.

Já soube de muitos casais apanhados juntos e tiveram que contrair núpcias.

E o clero, também não perdoa.

A mulher do século XIX, a moça pelo menos, tem a obrigação de expressar pureza. Do contrário, um deslize e ficará desmoralizada para sempre.

Por isso todo este cuidado do Sr Otto, em que nossa farsa não seja descoberta. Pois sim, estarei perdida.

Nunca conseguiria provar que nada acontecia entre nós.

Nos momentos que antecedem a dormir, eu leio para ele.

Sr. Otto adora quando leio.

Confesso que estou me apegando a ele, mais de um jeito bem fraterno. Por que em outros sentidos, o sedutor rebelde que povoa os meus sonhos, ainda é o jovem Montanese.

Saí dos aposentos, para buscar água, apesar de estarmos no campo, eu costumo tomar bastante água a noite.

 Ainda estou me habituando ao clima.

Quando estou a voltar antes de subir as escadas eu dou de cara com ele.

Sem camisa e com as botas de couro nas mãos.

 Trago a muringa em uma mão, e na outra, a lâmpada acesa, mais bem fraquinha para não chamar a atenção.

 Há velas na casa, mais as servas as deixam baixas também. Pois, lá fora a lua brilha e entra na casa através das janelas deixando o ambiente quase uma penumbra; Sr Otto não gosta de muita luz a noite na casa.

Era um hábito da antiga senhora que todos se acostumaram e continuam a respeitar.

Temos nos falado pouco depois daquele episódio, então não estranho que não tenha me dirigido a palavra. Passo por ele, com um camisolão de linho que durmo e apresso os passos, pois mesmo grosso, minhas formas femininas estão expostas.

 Porém,mesmo em minha pressa de fugir do seu alcance , ele se aproxima rápido e me pega pelo braço, me obrigando a olha-lo de frente.

- Solte-me ou eu grito.

- Grite então, acorde todos na casa, madrasta. Só quero lhe falar um instante.

 Puxo meu braço, pois seu contato me arrepia dos pés a cabeça.

- Fale.

Sebastian se aproxima e me encurra-la contra a parede, mais sem no entanto me tocar.

- Meu pai está insano. Não sei o que você fez com ele. Mais não vai ficar assim.

-Ele me parece bem lúcido, sr.Sebastian.

-Torrando nossa fortuna como tem feito? Não, ele está insano, e se ele continuar assim, eu terei que intervir, não vou deixa-lo destruir nosso patrimônio com uma aproveitadora como a sra.

- O Sr me acha uma aproveitadora?

- Sim, eu acho. Desde o primeiro instante que coloquei os meus olhos na senhora.

- Pois devo avisa- lo que está errado.Não sou uma aproveitadora.

-há... é sim. Esta história de prima por quem ele se encantou... é uma farsa. Sei bem de onde veio. Sua família estava falida , e a sra o seduziu em troca de uma boa vida para a sra e para sua mãe.

Ele ri sem dentes e chega mais perto. Tão perto que sinto sua respiração em meu rosto. Ele está eufórico, agitado, talvez por causa do alcool que ingeriu, pois o sinto de longe.

 -O Sr está bêbado, deveria se cuidar e deixar a vida pessoal do seu pai em paz. Se quer intervir, faça nos negócios, pois o que tenho notado o Sr e seu irmão vivem confortavelmente as custas de meu marido e não ajudam sequer numa opinião sobre o preço da saca de café, não tem vergonha disto? Um homem de 26 anos... debaixo da bota do papai?

 Sacudo a cabeça desdenhando e vejo seus olhos se estreitarem raivosos.

- Vergonha deveria ter a senhora de se aproveitar de um homem na condição dele. Carente e viúvo.

-Viúvo, sim, carente não... seu pai é até bem ... animadinho diria.

 Vejo Sebastian enrijecer os maxilares, acho que o provoquei em cheio.

- Animadinho?

- Sim. Não tenho do que reclamar.

Saio do seu alcance tento dar alguns passos mais ele me pega de volta e a moringa cai de minha mão , fazendo um barulho, Por ser de barro e ter se partido em vários pedaços.

- Solte-me. Se alguém nos ir aqui a esta hora , pode não acabar bem.

- Eu não me importo com minha reputação, já a senhora... vai mesmo estar encrencada.

 E é neste instante que meu desespero toma forma, pois uma das servas que vinha sabe –se de onde aquelas horas, caminha na nossa direção.

 Sebastian se põe a minha frente e esconde-me atrás de se, fico entre ele, a parede e o vão da escada.

Ele pega a minha lamparina e ilumina o rosto da moça. Ela não me vê, sabe que alguém está ali, mais não que sou eu.

Seria de fato um escândalo.

E ao contrário do que pensei, ele resguardou-me.

-Senhor, o que faz aqui a estas horas?

- Eu pergunto o mesmo.

Estava lá fora tomando um ar, está quente hoje não acha?

 A descarada se abana e puxa o braço do camisolão revelando seu ombro para que ele o notasse.Mesmo percebendo que ele esconde alguém, não se conteve em provocar o belo rapaz.

- Não, não acho, e sugiro que volte para seus aposentos, senhorita.

- O senhor não me chamou mais para um banho de lago, desistiu de me ensinar aqueles truques que me mencionou?

 Vejo o rosto dela por uma frestinha do ombro dele que ficou na minha frente.Um sorriso safado brota dos lábios finos.

 Ela se aproxima e Sebastian a afasta de se com o braço.

-Quem está escondida atrás do senhor, posso saber?

Ela avança e meu coração quase pula.

-Não lhe interessa. É apenas uma pessoa que não deseja ser encontrada aqui, eu a estava escoltando para ir embora em segurança, não antes que a  senhorita nos deixe em paz...

Ela cruza os braços, mais ainda se estica para tentar desvendar o mistério da dama que ele protege.

- Vá! – ele brada.

Ela faz uma pequena reverência e sai de nossa presença, de fato bem insatisfeita.

Sebastian espera para ouvir o som da batida da porta, pois as servas da casa, dormem lá mesmo. E só então me dá espaço e se vira de novo para mim.

Ainda estou em pânico. Não quero mesmo virar piada na boca destas servas, por não ter resistido ao enteado, sedutor.

A lamparina está agora mais fraca, e somos apenas silhuetas um diante do outro.

- Obrigada por... não me expor.

-Fiz por meu pai. Ainda acho que a senhora é uma aproveitadora.

- Dane-se.  Pense o que quiser. Preciso ir. Mais adianto-lhes que vai quebrar a cara no seu conceito sobre mim.

Tento sair novamente e ele segura meu pulso e desta vez me puxa para se.

Minha respiração altera mais que o normal e sei que ele sente minha insegurança perto de se.

- Mais uma coisa...

 -Seja breve.

Aquele dia , na floresta , o que representou para a senhora?

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***