Ciri
O sol daquela manhã chega tímido.
Pois as manhãs no sul costumam ser bem frias.
Abro meus olhos com certa dificuldade e já vejo Ciri, a minha querida amiga, sentada a me aguardar.
Ela abre um largo sorriso ao ver que despertei.
- Bom dia sra.Adele.
-Bom dia Ciri. Como passou a noite?
Estou acostumada a dormir com ela em meu quarto e passar aquela minha primeira ali sozinha , não me agradou muito.
- Bem. A cama é muito macia, apesar dos barulhos que as outras moças da casa fazem antes de dormir.
Sorrio de seu descontentamento.
- Quantas dormem com você?
- Três. E elas ficaram conversando até tarde, comentando sobre a sua chegada, ignorando completamente a minha presença com elas.
Me sento na confortável cama e estico os braços ainda sonolenta.
- O que falavam? Sobre mim...
Ela estica os olhos, acho que não quer tocar no assunto. Insisto com o olhar. Apesar de nova, Ciri é bem madura para a idade. E muito leal .
- Bom, elas não gostaram da sua chegada. Dizem que acabou a diversão com o patrão.
Sorrio fungando . Já entendi tudo.
Sem a presença de uma esposa na casa, sr Otto devia se divertir com as serviçais .E comigo ali, elas sabem que a festa acabou mesmo. Lembrei-me das duas mulheres que vi com ele no quarto em Valedouro.
Este marido é bem apetitoso!
Embora seja um casamento de contrato, onde nem Ciri sabe os termos, então, eu preciso manter as aparências.
-É, acabou mesmo.
Me levanto e Ciri vem me ajuda a tirar a camisola, que tem laços na parte de atrás.
Encolho-me toda, escondendo os meus seios.
Está frio e mesmo de janelas fechadas sinto o vento gelado tocar a minha pele.
Me arrepio toda. E para meu espanto a imagem do meu enteado vem rapidamente a minha mente. Como se sentisse aquele olhar esmagador me analisando agora mesmo. Sacudo a cabeça espantando aquele pensamento.
Vou até o biombo e Ciri me traz a bacia de higiene íntima. Faço minha higiene e ela me passa as peças de roupas íntimas.
Uma dama deve ser alguém de muita confiança. Pois é a única que conhece nosso corpo , tanto quanto nós mesmas.Ou até mais.
Me visto e ela já traz o espartilho. É dia, e preciso usa-lo. Mais Ciri sabe que não gosto dele muito apertado, e então deixa bem a vontade.
Ao contrário de outras moças que conheço, que quase morrem sufocadas para marcar a cintura e empinar os seios , para de certa forma atrair um olhar masculino mais... atento.
Sento-me, e ela arruma meus cabelos. Como estamos no campo, não vejo necessidade de coques elaborados e peço apenas uma trança com fivelas douradas prendendo os fios. O meu perfume favorito e uma leve cor nos lábios. Não sou fã de maquiagem, e só usava em bailes, ou quando queria a tenção de um rapaz, coisa que raramente acontecia.
Pois nos bailes que me pai costumava levar-me, ficava o tempo inteiro ao lado de minha mãe. E quase nunca dançava. E meu interesse por rapazes era pequeno, já que não via ninguém que de fato mexesse comigo aponto de querer arrumar-me tanto.
Sempre nutri a esperança de encontrar o amor. E se fosse a primeira vista então, seria perfeito.
E agora estou eu aqui: casada com um tio primo, mais velho e com dois filhos adultos que pelo nosso primeiro contanto, simplesmente odiaram-me.
Tambem... quem ia gostar de ver o pai já em dias avançados, casado com uma mocinha com idade de ser sua neta?
Sou uma ameaça em vários sentidos. E segundo conversei com sr Otto, o que ele quer é isto mesmo , causar ciúmes neles e provocar uma reação positiva quanto ao interesse pelos negócios e possivelmente assumir seu devido lugar de herança.
Não precisarei fazer muito. Ele quer apenas a minha companhia e que finja ser a mais apaixonada das mulheres. Mais em nosso acordo minha mãe e eu , deixamos claro que , se houvesse repressão e de alguma forma eu me sentisse humilhada , ele rapidamente me tiraria daquela situação. Não estou nem um pouco a fim de servir de alvo de artilharias entre aqueles três.
Porem sei, que seremos o comentário do momento por muito tempo.
Devo estar pronta para isto. Pois a forma rude a qual fui recebida por eles, deixou claro que não vão ser agradáveis comigo , nenhum pouco, como já supunha. E se eles não me receberam de braços abertos, imagine a sociedade de convívio da família.
Acho que serei massacrada.
Mais sou forte, vou sobreviver. Por minha mãe , eu vou sobreviver. Só em saber que ela está bem e acolhida em nossa casa, com um trabalho para ocupar sua mente , e recuperando a auto estima arrancada pela miséria, já me conforta e me dá a resiliência que necessito para seguir a diante.
Apesar de estarmos numa época em que, uma moça com 19 anos, já está passando da idade de se casar, meus pais nunca me impuseram este fardo.
E agora nesta situação em que estou, ela só concordou por que ,eu insisti, e por que de fato não tínhamos outra saída. Apesar de não cair de amores pelo primo do marido, ele era nossa única opção mesmo.
O parente vivo mais próximo. Apoiada na lei do levirato. Antiga , mais ainda viva entre os costumes do país.
E o contrato , apesar de ser de um ano de casamento a seu lado, beneficiaria nosso lado, mais do que o dele. Em termos financeiros pelo menos, pois na parte moral, eu dificilmente encontraria um outro bom partido.
Mais não me importo.
Viver com conforto, é melhor do que sobreviver na miséria e na des honra. E a nossa sociedade, sabe bem como desprezar uma mulher sem dinheiro, sem dotes e sem prestigio.
A recompensa, vale o sacrifício.
Não me importo em ser uma mulher divorciada, desde que minha mãe tenha de volta a honra de ser respeitada novamente.
E ver o sorriso voltar aos seus lábios quando nossas coisas foram devolvidas e o saquitel de moedas , entregue por sr Otto, para as despesas subsequentes até o lucro da sociedade aparecer, já valeu muito a pena.
Olho-me no grande espelho da penteadeira e analiso meus traços. Ainda estou com olheiras pelo cansaço da viagem, mais dentro de mim, fervilha a curiosidade pelas diversas situações que terei a enfrentar naquela dia. E se é para começar, que seja agora.
Saio do quarto a passos precisos. Sr Otto precisa de companhia e eu vou procura-lo. Para fazer bem o meu papel.
É um jogo perigoso, se formos descobertos , o plano dele ruirá , e eu estarei desmoralizada, mais aceitei, mesmo sabendo dos riscos.
Chego a sala naquela manhã e meu senhor está sentado a sala , lendo um folhetim, jornal distribuído nas propriedades aos ricos comerciantes que pagam um alto preço por isto. Posto que é de circulação apenas nas cidades.
Mais como estamos a cerca de uma hora da próxima, o custo de se manter informado sobre a corte e nobreza local vale a pena.
Estamos próximos do Rio de Janeiro e São Paulo, as cidades mais povoadas por esta classe na atualidade, além da Bahia Rio Grande do Sul é claro.
Ele me sorri. O semblante cansado , suponho que da viagem , mais ainda assim não esconde o seu charme sulista.
-Bom dia querida esposa. Estava esperando a sua doce companhia para o café.
Meneio a cabeça, e quando viro-me para ser seguida por ele, que se levantou prontamente, já dou de cara com Sebastian.
E sua cara não está das melhores.
Ele massageia a testa e mantem os olhos fechados , com a cabeça reclinada para traz , e aqueles cabelos soltos caem sobre o encosto do sofá.
-Nos acompanha filho?
Ele abre os olhos ligeiramente e me olha de relance, uma presença dispensável no momento.
- Não. Obrigado pai, já tomei café.
Sr Otto me dá o braço e seguimos para a bela mesa de café posta com capricho para meu primeiro café da manhã em minha nova casa.
Quando passamos em frente a ele. O pai para e toca sua bota com a ponta do pé. Sebastian se assusta.
- Devia maneirar com a bebida filho,essas suas noitadas já estão dando o que falar , além de deixa-lo com cara de moribundo e esta dor de cabeça ai...ainda vai mata-lo sabia?
Sr Otto fala num tom brincalhão , porem o rapaz entende como uma provocação. Levanta-se e se põe a frente do pai. É mais alto, e sua figura ameaçadora quase nos cobre.
O pai nem se move e eu me encolho, achando que receberíamos no mínimo um empurrão.
- Não lhe devo satisfações sobre o que faço em minhas noites, pai.
-Então por que não vai embora de uma vez e pare de trazer falatórios quanto a nossa conduta aos vizinhos? Já estou sendo questionado sobre o futuro de sociedades se caso você venha a ser o futuro administrador das terras.
- E quem disse que quero ser o administrador destas terras?
- Mais deveria querer... afinal...
Passamos a sua frente e ele fala de costas.
- Se não serviu para o exercito deve ao menos servir para o campo. Já que nem se casar com uma dama decente voce conseguiu...
Ai..esta doeu. Até eu sairia correndo com esta... não sei o que se passa entre estes dois, só estou aqui há um dia e já sinto meus ouvidos doendo de tanto que já se espezinharam.
Sentamos a mesa para o café, e sr Otto esta levemente aborrecido. Pois o filho saiu pisando fundo, batendo o salto da bota de coro com força no piso de madeira.
Mesmo sorrindo, sei que ele se sente mal em me ver presenciar aquela situação.
- Me desculpe Srta. Ele não aceitou bem a ideia de ter uma madrasta. Eu já havia avisado, mais ele achou que fosse blef. Mais não imaginei que a receberia tão mal. Sebastian é um rapaz bem educado e, só está agindo assim por que acha que vai me envergonhar diante da srta.
- Não se preocupe sr Otto, eu imaginei que seria assim. Lido bem com ofensas e malcriações.
Ele me sorri satisfeito.
- Você é muito madura para sua idade. Seus pais a criaram muito bem,queria poder ter feito o mesmo por aqui. Meus filhos apesar de barbados, são duas crianças mimadas e irresponsáveis. Beni , ainda está dormindo, e quando acordar vai direto para aquela estufa aonde ele ficaria por dias se pudesse. E Sebastian, é um libertino como já deve ter percebido. Aconselho a não ficar circulando pela casa durante a noite, ele é do tipo que... se diverte com servas nos locais mais inusitados. Não quero que a confunda com um rabo de saia qualquer a quem ele está acostumado a se deitar.
Corei com esta revelação. Não estou mesmo afim de vê-lo neste tipo de situação.
Mais a minha preocupação acendeu a luz quanto a Ciri, se ele gosta de brincar com servas , devo cuidar bem da minha, Ciri apesar de nova é muito bonita e tem um corpo de mulher, espero que aquele pervertido não se engrace por ela.
Sr Otto me apresenta com o orgulho o café de sua melhor safra, aquele que estamos tomando. De fato é de sabor muito agradável.
O meu tio marido é uma boa companhia , só mesmo isso para me confortar naquela que parece ser mesmo a missão da minha vida.
Após o café ele me informa que vai precisar sair .
- Fique a vontade , a casa é sua, explore, conheça, passeie, ou apenas vá para o seu quarto descansar.
Nos despedimos e eu o vejo sair a cavalo com dois capatazes armados e alguns servos.
Ouvi eles conversando sobre o perigo que tem rondado as estradas. Salteadores e baderneiros. E que mulheres nunca devem andar desacompanhadas.
Pretendia andar um pouco pelos campos, mas com esta ficarei muito mais cautelosa.
Espero Ciri terminar de arrumar o meu quarto e vamos juntas conhecer a propriedade.
Como é imensa de uma beleza de impressionar.
Caminhamos juntas comentando sobre o que vemos a nossa frente. Ciri é mesmo uma boa amiga, ainda bem que optei por traze-la. Pois não sei o que seria de mim ali, sozinha naquele que lugar estranho, sem ninguém a meu favor.
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Atualizado até capítulo 76
Comments
New Biana
hhh é melhor cuidar de você gracinha pois és o alvo perfeito.
2024-07-04
0
Gisa
Ela pensou rápido na Ciri né porque se ele se deita com as servas. Tomara que não sobre para ela
2023-01-21
9
manda™
ooooo tava achando tão bom kkkkk tá muito bom a história bem fiel aos costumes me senti dentro da história muito legal amando até agora
2022-12-07
2