Capítulo 06

— Diana, suponho...? O que o dinheiro não faz, não é mesmo? — Mary diz em tom de voz debochado. Uma mistura de ódio, desespero e aflição toma conta do seu coração alegre.

A jovem, porém, não retruca. Seus olhos fitos no homem acamado deixa ela ainda mais comovida. Mesmo não estando ali por vontade própria, talvez fosse esse o seu destino traçado. O caminho nebuloso e espinhoso que a levou até ali parecia ser ínfimo, diante da situação daquele homem, que ao seu ver, parecia mais jovem do que disseram para ela. A jovem estava bem, em contrapartida o seu futuro esposo estava na cama lutando para não morrer. Uma lágrima solitária escorre do olho esquerdo da jovem, e ela enxuga. Mary fica confusa ao ver tal coisa.

— Seria encenação, ou ela realmente sabe entender e se colocar no lugar do outro? — Mary pensou, mas logo afastou esse pensamento, porque se ela estava ali é porque aceitou um milhão de libras! O dinheiro com certeza, mostra o caráter de muitas pessoas.

— Você será levada para nossa casa e só vai sair de onde te puserem se eu achar conveniente! — Mary declara autoritária.

A moça encolhe e não responde, sua atenção estava no homem todo enfaixado, respirando pelos aparelhos. Apesar de não saber o que está acontecendo, para ela ver a mãe sofrendo pelo filho com tantos aparelhos ligados ao corpo, sem uma resposta definitiva e concreta de sua melhora, era muito doloroso.

Mary olha para o advogado e diz rude:

— Onde está a certidão de casamento?

— Aqui, senhora. — Blake responde e pega em sua pasta o documento.

— Assine! — Ordena para Diana. — E Blake, leve ela para a biblioteca de Kevin! Ela não tem permissão para andar pela casa. E garota! Quando alguém perguntar onde se conheceram, diga que foi em uma viagem que o meu filho fez à sua cidade. De onde você veio mesmo, ou é daqui? — Mary a pergunta:

— Bideford, senhora. — Diana responde.

— Não me desafie. Pelo dinheiro que estou pagando é melhor não haver nenhum contratempo! — Mary alerta.

— Que dinheiro? Será mesmo que essa senhora desceu tão baixo, para comprar uma pessoa como se ainda fosse tempo de escravidão? — Diana indaga em seus pensamentos, mas não externa suas preocupações.

Blake entrega os documentos e Diana assina sem relutância. Porém, Blake percebe o nervosismo dela. Apesar de Diana não retrucar e assinar obedientemente ao que ele disse, Blake sentiu como se ela estivesse fazendo isso por um motivo mais forte do que o dinheiro.

— Assinou tão rápido!? Deve amar o dinheiro, para se vender tão rapidamente. — Mary critica de forma sarcástica deixando Diana ainda mais desconfortável

Blake olhou para Mary e não se sentiu à vontade com o comentário que ela fez para a garota. Pior de tudo foi pensar que a moça poderia ser corrompida e acabar fazendo o que os inimigos de Kevin não conseguiram.

— Leve ela daqui, Blake! — Mary ordena e a garota sai cabisbaixa acompanhando o advogado.

Blake cresceu com Kevin, não é apenas o advogado da família que cuida do bem-estar dos membros e dos seus bens, Blake é como um irmão para Kevin. O pai de Kevin sempre ajudou a família de Blake e o considerava como um filho. Ajudou ele nos estudos, pois reconheceu o seu potencial.

Após a morte do pai de Kevin, com tantas discussões acerca da herança familiar, Blake decidiu fazer Direito para ajudar a família que sempre o apoiou. Agora ver o seu amigo naquele estado o deixou muito abalado, mas ao mesmo tempo com sede de vingança e não iria permitir que os culpados continuassem impunes ou mesmo com o poder de decidir sobre a herança de Blake e família.

Blake conduz Diana até o seu carro sem encará-la durante o trajeto. Só quando chegou no estacionamento que percebeu que Diana chorou bastante durante a pequena caminhada do quarto de Kevin até o estacionamento. Em seu pensamento ela não podia ser uma mulher qualquer, mesmo assim ele tinha que falar para ela das consequências que lhe acarretaria caso ela fizesse algo prejudicial ao seu amigo.

— Até Kevin acordar, você não poderá sair da casa e nem conversar com qualquer homem que aparecer por lá. Não contrarie a Mary, senão você sofrerá. — Blake avisa.

— Sim, senhor. Já entendi o recado. — Diana responde cabisbaixa. Coloca o cinto, encosta a sua cabeça na janela e fecha os olhos.

Ela estava exausta. A noite anterior tinha sido terrível e a sua manhã estava muito pior. Diana começa a meditar sobre os seus últimos acontecimentos:

— Fui vendida pelos meus próprios tios e obrigada a um casamento forçado com um homem que nem conheço, que está em estado de saúde crítico e lutando pela sua vida. Onde vou ficar? Serei mesmo uma prisioneira? O que eles querem em troca do dinheiro que aquelas pessoas desonestas aguardam tão ansiosamente? Pelo menos não me tornarei uma escrava sexual, como foi a intenção daqueles sequestradores, anteriormente. — Diana fica pensativa e olha para o advogado.

Mesmo querendo tanto fazer perguntas, ela é uma por não achar apropriado. As pessoas são realmente diferentes do que aparentam nas entrevistas. E lembrar que a viagem de família virou uma tragédia, Diana não se conforma.

A primeira viagem em família era para ser a mais fantástica de todas, mas se tornou um pesadelo para Diana. Ela, seus pais e o seu irmão mais novo estavam eufóricos para finalmente conhecer a cidade de Liverpool. Havia tantos lugares que eles queriam visitar. Diana queria conhecer a Biblioteca Central. Ela sonhava em fazer um curso de literatura. Já o seu pai Bernard, como um torcedor fanático do time de Liverpool, trabalhou por anos e juntou dinheiro para poder fazer essa viagem e curtir com a família. Ele queria assistir ao jogo da final do campeonato em família e resolveu viajar de carro da sua cidade Bideford até Liverpool. teria sido menos perigoso se estivessem pego um transporte coletivo.

A viagem que durava só cinco horas, acabou atrasando devido a um contratempo no trajeto. O pneu do carro furou nas proximidades da cidade Birmingham e tiveram que empurrar o carro com dificuldade. Em Birmingham, enquanto eles esperavam o carro ser consertado, Diana e Elliot, seu irmão mais novo, foram a um banheiro. E quando Bernard, o pai de Diana, percebeu a demora dos filhos retornarem, foi atrás e encontrou um senhor tentando fazer o filho Elliot acordar.

Elliot ficou desesperado e contou ao pai que dois homens mascarados raptou Diana e ele, mesmo tentando defendê-la, não foi forte o suficiente e desmaiou logo após receber uma pancada. O desespero se instalou. Porém, o senhor conta quem poderiam ser os homens, já que houve um caso parecido meses antes. Bernard se apavora e corre ao encontro da esposa Kate.

A pista dada pelo senhor, de que os sequestradores estariam no porto de Liverpool, não era confiável, mas não tinha outra alternativa ao não ser segui-la e torcer para que fosse verdade. Bernard acelerou o carro na esperança de talvez, quem sabe, alcançá-los, mas infelizmente não conseguiu. A família chegou já de noite em Liverpool na casa da irmã de Bernard. Porém apenas Izzy, a sobrinha de Bernard estava em casa, e pronta para sair.

Bernard e a sua irmã Sandy não se viam há anos, e mesmo quando ele ligou avisando que viria com a família, ela não se interessou em aguardá-los, ou melhor, recebê-los. No entanto, encontrar a sua filha Diana era prioridade dele.Bernard deixou a esposa e o filho e foi para o porto onde o senhor havia mencionado. Para sua sorte ao chegar nas proximidades, ele precisou usar o banheiro e saiu do carro entrando num motel.

Ao perguntar a moça sobre ela ter visto uma jovem parecida com a sua filha, ela se assustou com a descrição dada por Bernard. Porém, ele após tanto insistir e mostrar uma foto da família conseguiu o número do quarto onde Diana estava. Encontrá-la bem e salva, foi para ele, um alívio da alma. Ele olha para o homem que estava no quarto com a sua filha e pensou muitas coisas ruins, porém Diana esclareceu as suas dúvidas e ao que pareceu, um ajudou ao outro a escapar. Bernard então leva a filha para longe daquele lugar.

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