capítulo 19

...Gritos, São tantos gritos, não consigo ouvir nada direito, eu tô me sentindo sufocado. Minha cabeça dói, eu não aguento mais isso....

Era tudo o que vinha a mente de Dyllan naquele momento, sua respiração estava falha e pesada, a adrenalina percorria seu corpo até que ele abriu novamente seus olhos, conseguindo enfim retomar o controle de seu corpo.

O chão de toda a rua à sua frente estava partido ao meio, um grupo de pessoas com suas roupas cobertas por sangue e cheia de cortes, feridas e algumas até mesmo armas brancas que perfuravam partes de si, estavam aos pés de uma pilha de corpos. Elas corriam umas contra as outras, expressões eram variadas, uns estavam sorrindo e outros choravam, uns pareciam desesperado mais apesar disso eles não paravam.

Sobre a pilha de corpos estava ele, Dyllan. Com suas mãos cobertas de sangue que respingaram sobre o rosto de uma mulher quase que completamente desfigurada. Assustado com tudo e ainda surpreso, ele desce da pilha lentamente pisando em alguns corpos ainda com vida enquanto observava as ações dos que estavam à sua frente.

Caminhando pela rua de cabeça baixa com seus olhos arregalados e sem entender tudo o que estava acontecendo ele levanta o rosto após ouvir um terrível estrondo e sentir uma brisa de ar quente se chocar de uma vez com seu corpo, ele então vê uma explosão enorme acontecendo vindo do centro da cidade, um pouco longe de onde ele estava.

A fumaça e destruição se faziam presentes para todos os lados, foi o que ele percebeu enquanto caminhava pela rua indo novamente em direção a sua casa. Logo ao chegar lá percebeu que a porta estava aberta e então foi simplesmente andando, indo vagarosamente pela sala, subiu lentamente as escadas enquanto processava tudo o que estava acontecendo. Ao entrar no quarto se dirigiu diretamente para o banheiro, ligou a torneira e tentou limpar suas mãos sujas de sangue, esfregava suas mãos uma na outra com força e via o sangue escorrer entre seus dedos, passava suas mãos ainda com mais e mais força rapidamente por parte de seu braço que estava melado de sangue.

— Merda — Dyllan reclama já secando suas mãos na toalha, apesar de estarem limpas, ele as via como se estivessem manchadas de sangue. No instante em que ele se deita na cama novamente, começa a ouvir vários murmúrios em sua mente, gritos, choro. Ele fica se remexendo na cama enquanto tampava sua cabeça com o travesseiro, até que uma coisa vem em sua mente de repente, ele se levanta e sai correndo do quarto.

Ao sair de seu quarto ele corre um pouco pelo corredor até chegar de frente a uma porta e então para de uma vez e engole em seco, empurra a porta devagar ouvindo um leve rangido e entra no quarto. Ao entrar no quarto ele vê que o corpo de Manoel ainda estava ali, e ele realmente havia morrido e aquilo não foi apenas mais uma alucinação ou sonho bizarro. Porém havia algo ali que o fez agir impulsivamente e sem nenhuma piedade, um homem sorria enquanto diferia diversos golpes seguidos no corpo já sem vida de Manoel.

Dyllan apenas olha para ele sem nenhuma expressão e caminha em sua direção, com apenas uma mão ele segura o braço do homem que esfaqueou seu pai o fazendo parar e então o entorta para o lado de uma vez e o quebra, olhando diretamente para ele sem demonstrar nenhum tipo de sentimento de culpa. Dyllan vê o homem que ainda sorria mesmo com a dor levar sua outra mão que segurava uma faca para tentar o atingir, mas de nada adiantou, o homem simplesmente não conseguia mais mover seu outro braço mesmo tentando, era como se algum tipo de barreira estivesse o impedindo. Levando sua outra mão até a garganta do homem, o adolescente crava seus dedos na pele dele e empurra seus dedos contra o local perfurando a garganta do homem, ele então puxa de uma vez a traqueia para fora, fazendo o homem morrer quase que de imediato com o sangue jorrando de seu corpo, e respingando diretamente no rosto de Dyllan.

O corpo estava agora ali, estirado sobre o chão sem vida, enquanto Dyllan ficava abraçado ao corpo de Manoel, seu olhar estava já sem brilho e sua mente parecia vazia, um clarão iluminou a janela do quarto e foi naquele momento que ele voltou a si e se separou do corpo de seu pai. Viu o corpo do homem ali e apenas passou por cima dele saindo do quarto, logo que estava saindo na rua viu um grupo de crianças, algumas estavam chorando desesperadas e correram para sua direção em meio a lágrimas e escorrendo catarro do nariz. Elas estavam completamente desesperadas e com medo procurando consolo e ajuda, mas isso durou pouco tempo.

Todo aqueles que tiveram suas mentes tomadas por seus sentimentos de culpa e suas piores emoções, todos aqueles que haviam caído no controle do poder de Darkiness, começaram a ter acesso às lembranças de ambos, tudo o que Dyllan havia feito sendo dominado por Darkiness, absolutamente tudo estava passando na mente de todos eles como se fosse um filme. As memórias misturadas de ambos deixavam tudo ainda mais confuso e difícil de entender, não era nada simples de compreender, era apenas agoniante.

Ainda sobre o domínio eles começaram a culpar Dyllan por todos seus atos ainda na frente das crianças, algumas acabam ficando assustadas e começam a gritar e no momento que ele tentava novamente se aproximar elas pareciam sentir medo.

Após ver alguns se voltando contra si próprios e tirando suas vidas, ele sai correndo dali e então começa também a ver tudo aquilo que havia feito, todos os que tinham morrido por suas próprias mãos, ele para então de correr depois de ter percorrido uma certa distância e apoiando suas mãos em seus joelhos, uma sensação estranha percorreu seu corpo e ele começa a vomitar sangue, era tudo o que saia de sua boca, uma enorme quantidade de sangue continuava por sair da boca do garoto e melava todo o chão, ele cai de joelhos sobre o próprio sangue e leva sua mão até sua garganta a sentindo apertando enquanto apoiava sua outra mão sobre o chão, a sensação veio e depois voltou, novamente sem poder controlar ele acabou vomitando, e sangue era justamente tudo o que saia de sua boca enquanto apertava seu próprio pescoço enforcando a si próprio.

— D-akiness — Dyllan fala parando de vomitar e apenas com sua boca melada e pingando sangue sobre o asfalto, ele tira a sua mão do pescoço e tenta recuperar o fôlego e a apoia na sua coxa a apertando com força fazendo as pequenas unhas dele perdurando a própria pele e a fazendo sangrar, assim como faz logo em seguida com a outra, apoia o seu corpo sobre os tornozelos e então bombeia um pouco o corpo para trás virando a cabeça e olhando para aquele céu meio alaranjado com o sol já quase se pondo com os seus olhos marejados — DARKINESS — Assim que grita ele arregala os olhos e as lágrimas se misturam com sangue e escorrem por seu rosto, e então o seu corpo cai ao chão sem forças.

— Darkiness, o que você fez? — Dyllan pergunta já se levantando, ele estava em um lugar aberto e escuro, abaixo de seus pés era possível ver algo escuro parecendo seu próprio reflexo, ele foi caminhando ali em passos lentos emergindo cada vez mãos na escuridão, onde tudo que era possível ver era o garoto, e então dois grandes olhos vermelhos aparecem à sua frente.

— Sobre o que exatamente estamos falando? — Darkiness pergunta dando uma risada baixa.

— Porque eles estão daquele jeito? O você fez? — Dyllan pergunta encarando sério aqueles olhos carmesins.

— Nada além de transformá-los no que eles realmente eram.

— Não vem com essa, isso não fazia parte do acordo.

— Você não queria dar um fim nos desgraçados desprezíveis? Não me enche que eu tô querendo dormir.

— Não te encher? Isso nunca fez parte de nada, olha eu só concordei com aquilo porque eu não sabia o que fazer, eu não pedi pra você sair por aí matando qualquer um ou manipular a mente de ninguém. — Dyllan altera sua voz ficando mais sério.

— O que exatamente você quer agora? Olha só já tá feito, ou por acaso você não queria justiça?

— Eu queria justiça mais... não esperava que minha justiça acabasse fazendo todos virarem seres irracionais e que todos fossem me odiar, todo mundo sabe que fui eu, no caso você na verdade, mas ainda assim eles culpam a mim, eu não quis que nada disso acontecesse... por acaso não tem como voltar atrás, Você consegue voltar no tempo?

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