05

Os olhares se mantém presos um no outro.

Cíntia sente um calafrio ao olhar para Evandro.

Evandro tem aquela sensação estranha novamente e para não ficar atraído por ela, joga seus pensamentos no fundo da mente e se recompõe.

- Precisamos conversar.

Diz ele devagar para que ela acompanhasse os movimentos dos seus lábios.

Cíntia anda até o sofá se senta.

Evandro entrega a ela um bloco de notas, ele queria saber a resposta dela. Em seguida se senta na beirada da mesinha de centro, ficando de frente para Cíntia.

- Sou Evandro e fui amigo de seu pai durante anos, ele e meu pai eram amigos e quando meu pai faleceu Bernardo me ajudou muito. Ele sempre falou sobre você.

Ela faz a leitura labial e abaixa o olhar, limpa uma lagrima solitária. Falar do pai ainda doía muito.

Evandro toma a atenção dela novamente ao tocar em seu braço.

- Quero que preste muita atenção, não é novidade para você saber que sua Tia Luiza quer tudo que Bernardo deixou para você. Ela entrou com uma ação que alega que você por ser deficiente auditiva não tem a capacidade nem os estudos necessários para gerenciar uma empresa, explicou que poderia ser facilmente enganada. Usou a sua deficiência e sua idade para garantir que o tribunal de a ela sua tutela.

Cíntia imaginou sua vida ao lado da Tia, e sem sombra de duvidas ia ser um inferno.

Quando ela era criança com seus 12 anos de idade, a Tia a empurrou na piscina e naquela época a menina não sabia nadar, ela quase se afogou. Outro episodio foi quando o primo filho de sua Tia Luiza, trancou dentro do armário, Cíntia não soube por quanto tempo ficou trancada até que seu pai a resgatou, o menino disse que eles estavam brincando de pique-esconde e ela como era surda não o ouvi-a, Cíntia ficou muito mau chorando durante dias por isso.

Cíntia volta a realidade e lê os lábios de Evandro.

- Quero que se case comigo.

Ela arregalou os olhos.

- Sozinha não conseguirá ir contra a sua Tia Luiza, mas comigo terá a chance de conseguir derruba-la.

Cíntia escreve no papel com as mãos tremulas.

- Eu não vou me casar. Deixe que ela leve tudo, o que era mais importante já me foi tirado. (escreveu ela)

Evandro lê e depois responde pausadamente.

- Não falo apenas por você, mas também pela ONG que seu pai fundou e ajudou tantas crianças com deficiência auditiva, ele usou sua história como motivação para abrir essa ONG e ajudar outras famílias. A primeira coisa que Luiza fará se assumir os hotéis será fechar a ONG, para ela é perda de tempo e dinheiro manter esse instituto.

Cíntia fica tremula de nervoso. Ela não conhece nada sobre o homem a sua frente, e do nada, casar?

Ele continua dizendo:

- Faça pelas crianças. Eu sou apenas sócio investidor não tenho poder sobre os bens de seu pai, mas casados posso te ensinar a administrar os hotéis e cuidar da ONG, e quando a ameaça de sua tia finalmente passar podemos nos divorciar.

Ela escreve o bloco.

- Está me falando a verdade?

Ele olha dentro dos olhos dela e diz;

- Estou. Vou te ajudar a manter todos os bens de seu pai, casa comigo?

Ela pensa por alguns segundos, morde a ponta dos lábios.

Evandro o olha o movimento e acha lindo o jeito tímido e inocente dela, por uma fração de segundos ele varre o rosto dela por completo admirando a beleza de Cíntia.

Ela respira fundo e balança a cabeça em afirmação.

Evandro tem sua resposta e abre um sorriso.

- Fez bem. Vou preparar tudo o quanto antes, quero que esse casamento aconteça já na segunda-feira.

Evandro dá uma batidinha nas mãos dela, tentando passar apoio. Depois vai embora.

Cíntia permaneceu sentada no sofá.

"Devo estar maluca em aceitar um pedido de casamento assim, mas não posso deixar que minha tia feche a ONG, aquela mulher não tem coração." Pensa Cíntia.

****

NA CASA DE EVANDRO

Ele chega em casa exausto pelo dia cansativo de trabalho, até queria ter ido ver Suzi, mas acabou indo direto para casa, sua governanta o espera.

- Boa noite Evandro. (fala Beth)

- Boa noite Beth.

Entre eles não havia formalidades, Beth era para Evandro como uma mãe.

- Agora pode me explicar essa historia de casamento.

- Ideia do Diogo.

- Até que fim esse menino falou algo que preste, antes era só diversão e baladas. Minha preocupação é quem será a escolhida.

Beth sabia de Suzi e não gostava nadinha dela.

- Não se preocupe, a escolhida não é a Suzi se isso te preocupa.

- Ainda bem. Não sei porque fica vendo essa mulher, essa tal Suzi é uma...

Evandro levanta uma das sobrancelhas. Beth se contém em falar.

- Se não é a Suzi, quem é?

- A filha de Bernardo.

- Isso sim é uma surpresa. Nunca a vi, mas o Bernardo sempre falava dela.

- Sim, meu amigo amava muito a filha. Tenho que casar com ela para que Luiza não tome a herança.

- Só por isso mesmo? (fala Beth)

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