Eles se olham e se encaram, a vontade de se beijarem é grande, pois mesmo estando muito magoada, Clarissa ainda o ama. Guilherme sente necessidade de matar a saudade da mulher que ele descobriu amar. Mas nessa hora, nenhum dos dois e capaz de ceder um por mágoa e decepção, o outro por medo e vergonha. Clarissa depois de o analisar por um tempo, começa o seu desabafo.
— Quando eu era pequena e comecei a ter entendimento, percebendo que eu não andava como as outras crianças, eu perguntei a minha mãe porque eu era diferente, ela me garantiu ser porque eu era uma criança muito especial e precisava ser diferente das outras. Eu cresci com aquilo dentro de mim, pois acreditei nas palavras dela. Quando ela me levava para brincar na pracinha e as outras crianças riam de mim, ou zombavam de mim, ela sempre dizia para eu não ligar, pois, elas eram carentes de amor, e eu era a essência do amor. Quando eu comecei a frequentar a escola, e ouvia as outras crianças rindo de mim, ou me chamando de perneta, eu não me sentia triste e nem me importava com aquelas crianças carentes de amor, eu me sentia feliz, pois a minha mãe já tinha me preparado para enfrentar aquilo tudo sozinha. Eu nunca chorei por me chamarem de perneta, manca ou aleijada, eu nunca fiquei triste por rirem de mim, nunca Guilherme. Você sabe o que é nunca? Eu sempre me aceitei, eu sempre me vi como uma pessoa capaz.
Clarissa respira fundo, tentando controlar as emoções
— A minha mãe nunca me disse que eu não podia isso ou aquilo, eu hoje sei que ela devia sofrer ao ouvir alguém chamando a filha dela de manca ou aleijada, mas ela nunca se mostrou triste perto de mim. Eu acreditei em tudo o que ela me ensinou, por isso eu acreditei que você pudesse me amar, eu acreditei que fosse sincero comigo, em nenhum momento eu duvidei de você, acreditei merecer o seu amor, acreditei que merecia ser feliz com um homem lindo como você — Clarissa em nenhum momento desvia o olhar, o seu peito dói por ainda se sentir tão magoada, mas ela precisa falar tudo o que a sufoca — Mas naquela noite conseguiram destruir tudo em que eu sempre acreditei, em uma noite destruíram convicções de uma vida — Clarissa deixa as lágrimas saírem, mas não deixa de encará-lo, as palavras passam a sair ásperas, como se tivessem espinhos em cada palavra dita. A dor, a raiva a revolta explode dentro dela, como naquela maldita noite que ouviu que tinha sido usada para um propósito tão mesquinho
— Eu ainda ouço a risada de seus amigos e a voz daquela mulher me dizendo aquelas coisas, eu nunca senti tanta revolta por ser assim, eu nunca me senti tão aleijada, eu nunca me senti tão fracassada, eu nunca senti tanto ódio dessa minha perna, a ponto de bater nela, e querer arrancá-la de mim, para poder ganhar uma outra perfeita, eu bati tanto, mas tanto, por não querer que ela fosse assim — Clarissa soluça ao se lembrar daquele dia e Guilherme não consegue permanecer com os olhos nela, se sente a pior das criaturas, se sente o verdadeiro mostro que ela o acusou ser — Me lembrei de tudo, o pedido de namoro, o pedido de casamento, nunca me importei, mas agora eu sei que não era por falta de romantismo, era por falta de sentimentos, a desculpe de esperar ter filhos, era com certeza, por não querer um filho aleijado. Eu te odiei com todas as minhas forças, por fazer o que fez comigo, eu te odiei tanto que não suportava a ideia de te ver de novo. Eu comecei a duvidar de mim, duvidar da minha capacidade de ser igual as outras pessoas, duvidar que alguém fosse capaz de me amar por eu ser assim. Eu comecei a acreditar que apenas me iludi, ao acreditar no que a minha mãe me ensinou por anos — Ela se levanta e anda pela sala, ainda chorando — Eu fui em uma entrevista de emprego supondo que não seria contratada por eu ser uma aleijada, pode imaginar eu insegura pela minha deficiência? Eu comecei a sentir vergonha quando me olhavam, eu passei a ouvir as pessoas rindo de mim. Antes era como se elas não existissem, pois, me sentia superior a tudo isso, mas agora... me sinto pequena... sinto-me inferior — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e volta a se sentar no mesmo lugar, de frente para ele. Clarissa espera ele olhar para ela, ela sente o seu queixo tremer, a garganta parece que irá fechar, mas olhando nos olhos do homem que ela ainda amava, apenas conclui — É por isso que eu nunca vou te perdoar.
Clarissa se levanta e vai para o seu quarto, deixando um Guilherme infeliz e arrasado na sala. Ele nunca imaginou que uma atitude tão egoísta fosse capaz de destruir alguém, cada palavra que ouviu, foi como um soco em seu estômago, se sentiu cruel e desumano. Guilherme continuou no mesmo lugar, sem conseguir nem mesmo ir atrás dela, não tinha palavras que pudesse dizer que fosse capaz de diminuir o estrago que ele foi capaz de fazer, ele realmente não merecia o seu perdão, nada do que dissesse, nada que pudesse fazer seria capaz de amenizar a dor que lhe causou. Ver Clarissa naquele estado, tão machucada e infeliz, fez com que nem ele fosse capaz de se perdoar, pois se sentia feito um verdadeiro monstro.
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Atualizado até capítulo 57
Comments
Marilda Fatima
estou chorando porque senti a mágoa dela pelo preconceito pois ja sofri muito com preconceito pois tenho uma deficiência na mão direita quando saía pra procurar trabalho sempre a mesma pergunta o que eu podia fazer só com uma mão foi muito difícil conseguir meu primeiro emprego
2024-12-16
5
Elis Alves
Meus deuses deve ser a treva total se sentir tão desrespeitada e sofrer com o preconceito das pessoas, que tristeza péla dor dela e de quem mais passou por isso, mas tenho dó de que tem esse tipo de sentimento, de desprezar alguém por conta disso.
2025-01-13
2
tuca
eu nao perdoaria nunca
2025-01-12
0